Queda drástica no número de turistas prejudica economia do Vaticano
Com as bilheterias fechadas do início de março até o final de maio por conta da pandemia de Covid-19, museus do Vaticano receberam apenas 60.000 visitantes em junho. Vaticano, na Itália, vazio durante a quarentena por conta da pandemia. Arquivo pessoal/Nina Diniz A pandemia do coronavírus afetou as finanças do Vaticano. A queda no número de turistas, o fechamento dos museus durante quase três meses e a redução das doações dos fiéis provocaram consequências negativas na economia do menor estado do mundo. O fluxo de turistas diminuiu repentinamente desde 10 de março, quando foi decretado o confinamento nacional na Itália, que durou até 1° de junho. Apesar do fim do lockdown ter sido gradual, as atividades turísticas não retornaram como eram antes. Hoje as poucas pessoas que visitam o Vaticano são europeias e muitos italianos de várias partes do país. Turistas dos Estados Unidos, da América Latina e da Ásia, que antes eram numerosos, desapareceram. Há séculos as viagens religiosas sempre foram a principal fonte de entrada econômica para a cidade, antes mesmo de Roma se tornar capital da Itália, em 1870. Setores afetados pela redução do turismo Muitos viajantes se alojavam em hospedarias religiosas que agora estão quase vazias. A drástica redução dos turistas danificou também o comércio em torno ao Vaticano. Muitas lojas que vendem artigos religiosos e suvenires estão fechadas. Os comerciantes devem pagar aluguel à Administração do Patrimônio da Sé Apostólica (Apsa), o dicastério da cúria romana criado em 1967 sob o papa Paulo VI, responsável por gerenciar as propriedades do Vaticano. A Apsa tem 2.400 apartamentos e 600 escritórios e instalações comerciais. Em entrevista ao jornal francês Le Monde, o bispo Nunzio Galantino, presidente da entidade, declarou que o Vaticano ajudou os comerciantes em dificuldades. Ele disse que foi aplicado o cancelamento de um terço dos aluguéis por os meses de março a junho, que permitiram adiar o pagamento de outro terço para setembro de 2020 e confirmou o pagamento do terço restante dentro do prazo previsto. O bispo Galatino ressaltou também que entre março e junho, a Apsa registrou uma perda de quase 30% da receita de aluguel, ou seja, € 3,8 milhões, aproximadamente R$ 23 milhões. As receitas do Vaticano As outras fontes de entrada são os Museus do Vaticano e as doações vindas dos fiéis. Os Museus do Vaticano são autofinanciados e todos os anos destinam seus lucros à Santa Sé. Com as bilheterias fechadas do início de março até o final de maio, e apenas 60.000 visitantes em junho, eles arrecadaram cerca de € 1 milhão de euros (R$ 6 milhões). Normalmente a bilheteria fatura de cerca de € 150 milhões por ano, cerca de € 12,5 milhões por mês. Agora com a necessidade de manter o distanciamento físico, o número de visitantes admitidos é menor. Tradicionalmente, todos os anos chegam as doações do óbolo de São Pedro, um sistema de arrecadação de donativos da Igreja Católica, onde os fiéis oferecem ajuda econômica diretamente ao Papa, para a manutenção da igreja e ajudar as caridades, também é coletado nas paróquias do mundo inteiro no dia 29 de junho, festa dos apóstolos São Pedro e São Paulo. O Vaticano conta também as contribuições de igrejas locais. As principais são da Alemanha e dos Estados Unidos, mas estas encolheram nos últimos anos por causa dos escândalos sexuais. As principais despesas do Vaticano Em recente entrevista ao Vatican News, o ministro da Economia da Santa Sé, o jesuíta espanhol Guerrero Alves, explicou as despesas detalhadamente. Cerca de 5 mil funcionários trabalham no Vaticano, seus salários e empregos foram mantidos, mas não houve novas contratações. As despesas são 45% para pagar os funcionários, 45% para gastos gerais e administrativos, o restante para doações (7,5%) e outras despesas residuais. O Vaticano paga impostos à Itália, cerca de 6% do orçamento, ou seja, € 17 milhões. Boa parte das saídas é destinada ao custo da equipe que trabalha com a comunicação, mais de 500 pessoas. Eles comunicam o que o papa faz em 36 idiomas, através do rádio, TV, web, redes sociais, jornal, gráfica, editora, a sala de imprensa, uma estrutura que não tem igual no mundo. Sem contar que o Vaticano não permite entrada de verba publicitária. O equilíbrio financeiro do Vaticano não melhorou. Em 2015, o déficit foi limitado a € 12,4 milhões. Para 2020, de acordo com as estimativas mais recentes de junho, o déficit deve ser de pelo menos € 50 milhões de euros, € 320 milhões em gastos e € 270 milhões em receita. Se não houver receita extraordinária, haverá um aumento no déficit. No entanto, nem tudo pode ser medido apenas como um déficit e nem como um mero custo na economia porque, como explicou o padre Guerrero Alves, “a Santa Sé não é uma firma nem uma empresa. O objetivo do Vaticano não é obter lucro.” Um estado sem PIB O Vaticano é o único estado do mundo que não possui seu próprio Produto Interno Bruto (PIB). A Cidade do Vaticano, um território soberano com o Papa como chefe de estado, tem seu próprio sistema de produção de bens e serviços, mas devido às peculiaridades e dimensões limitadas de sua economia, não é possível atribuir um valor bruto às atividades econômicas realizadas dentro das fronteiras locais ou calcular os custos dos bens e serviços nele consumidos. O índice do Produto Interno Bruto não é, portanto, aplicável à jurisdição. Os únicos produtos que o Vaticano fornece são alimentos produzidos em pouca quantidade nas propriedades de Caltelgandolfo, conhecida como “A Fazenda do Papa”. Os produtos alimentares são vendidos aos próprios funcionários por um módico preço. O Vaticano vende também medalhas e selos ao público, mas não consiste em grande produção.
- Publicado em Turismo
Turismo na Espanha sofre golpe com aumento de casos de coronavírus
A decisão do Reino Unido de impor desde domingo uma quarentena a todos os passageiros provenientes da Espanha caiu como água fria no país, que tem os britânicos como principal contingente de turistas estrangeiros. Pessoas caminham pelas Ramblas de Barcelona, na Espanha, na quinta-feira (16) Emilio Morenatti/AP A Espanha esperava salvar sua temporada de verão, promovendo-se como um destino seguro diante do coronavírus. No entanto, o aumento de casos no segundo destino turístico internacional faz o setor temer o pior. A decisão do Reino Unido de impor desde domingo uma quarentena a todos os passageiros provenientes da Espanha caiu como água fria no país, que tem os britânicos como principal contingente de turistas estrangeiros, com mais de 18 milhões em 2019. "É um golpe muito duro (…) Para agosto, havia uma esperança de pelo menos salvar os móveis", resumiu nesta segunda-feira o presidente da região de Valência (leste), Ximo Puig. Alguns destinos turísticos da região, como a cidade de Benidorm, contam com até 40% de clientes britânicos. A notícia veio justamente quando "tínhamos expectativas positivas para as próximas semanas, com reservas aumentando, embora longe do que seria normal nessa época do ano", lamentou a gerência da Valencia Hosbec. "Já há cancelamentos. Ninguém vai passar uma semana de férias e depois passar 14 dias trancado em sua casa", disse à AFP Emilio Gallego, secretário geral da Federação Espanhola de Hospitalidade. A Exceltur, outra empregadora do setor, estima que a quarentena britânica pode custar 8,7 bilhões de euros entre agosto e setembro para o setor, que previa redução de seu faturamento pela metade em 2020. Ciente do impacto em sua economia, que deve 12% de sua riqueza e 13% de seus empregos ao turismo, o governo espanhol trabalhou para que Londres excluísse da quarentena os passageiros dos arquipélagos das Canárias e das Baleares, onde a incidência do vírus é tão baixa que o operador turístico TUI decidiu manter os pacotes de férias para os clientes do Reino Unido. As regiões da Andaluzia e Valência, altamente dependentes desses visitantes, também pediram a criação de corredores aéreos seguros nas Ilhas Britânicas. A Espanha se esforçou para recuperar a confiança dos turistas e se estabelecer como um destino seguro. Desde abril, momento mais difícil do confinamento, os destinos costeiros desenvolveram uma ampla e dispendiosa gama de medidas: desde o estabelecimento de divisórias nas praias ou o uso de drones para monitorar seu cumprimento, até a instalação de capachos impregnados com desinfetante ou a realização de testes rápidos em hotéis. Porém, quando a epidemia parecia estar sob controle após um confinamento mais severo do que nos países vizinhos, as infecções por coronavírus começaram a aumentar rapidamente, triplicando em duas semanas. Nos últimos 14 dias, a Espanha contabilizava 40 novos casos por 100.000 habitantes, contra 15 no Reino Unido e França ou 8 na Alemanha, segundo um cálculo feito pela AFP com base em dados oficiais. Por outro lado, em termos de óbitos, com 26 nas últimas duas semanas, está em melhor situação que o Reino Unido (816). A situação varia por região. Aragão e Catalunha, no nordeste, acumulam a maioria das infecções, enquanto Andaluzia e Valência mostram uma evolução mais positiva. Diante da recomendação do governo francês de não viajar para a Catalunha, o presidente desta região, Quim Torra, garantiu nesta segunda-feira que "destinos importantes como a Costa Brava ou a Costa Dorada (…) não são afetados (pelo vírus) e você pode viajar com segurança". Mas admitiu que a situação é "crítica" em Barcelona ou Lérida (150 km a oeste), onde os cidadãos são chamados a ficar em casa. A Confederação Espanhola de Hotéis (CEHAT) denunciou uma situação "injusta (…) e totalmente ilógica" e defendeu que os estabelecimentos espanhóis têm os "protocolos mais rigorosos da Europa". Tmbém pediu medidas "cirúrgicas" para conter contágios localmente e pediu que os turistas passem por testes de diagnóstico antes e depois da viagem para evitar essas quarentenas.
- Publicado em Turismo
Alemanha estuda obrigar turistas a fazer teste para coronavírus
Turistas e cidadãos que retornam de destinos de alto risco poderão ser testados, após o número de novas infecções no país atingir maior alta em dois meses. A paciente Heike Abicht posa para uma foto durante um teste para Covid-19 em uma estação de triagem no centro médico do aeroporto Franz-Josef-Strauss em Munique, no sul da Alemanha Christof Stache/AFP A Alemanha pode introduzir testes obrigatórios de coronavírus para turistas e cidadãos que retornam de destinos de alto risco após o número de novas infecções no país atingir maior alta em dois meses, informou o ministro da Saúde no sábado (25). O ministro da Saúde, Jens Spahn, disse à rádio Deutschlandfunk que o governo deseja fazer todo o possível para conter a propagação do vírus, além de respeitar os direitos básicos das pessoas. "Também estamos verificando se é legalmente possível obrigar alguém a fazer um teste, porque isso seria uma violação da liberdade", afirmou Spahn. O ministro, que é membro sênior da coalizão conservadora da chanceler Angela Merkel, acrescentou que os tribunais estão examinando todas as medidas de coronavírus para garantir que sejam proporcionais considerando o impacto dos direitos básicos. Na sexta-feira, Spahn e seus colegas regionais dos 16 Estados federais da Alemanha concordaram que as autoridades ofereceriam testes gratuitos aos turistas, de forma voluntária. Chegadas de países designados como de alto risco – que atualmente incluem Estados Unidos, Brasil e Turquia – serão elegíveis para testes imediatos, enquanto chegadas de outros lugares poderão ser testadas em três dias. Se um turista que chega em casa de um país de alto risco obtiver resultados negativos, não terá que observar uma quarentena de 14 dias. Até agora, a Alemanha fez um trabalho melhor do que muitos países em conter o vírus, graças a testes iniciais e extensos. No entanto, imagens de vídeo de comportamento indisciplinado de alguns turistas alemães na Espanha levantaram preocupações de que os turistas estejam em maior risco de infecção e possam levar o vírus para casa. O número de novos casos confirmados aumentou acentuadamente na sexta-feira para 815, mostraram dados do Instituto Robert Koch (RKI) para doenças infecciosas, o maior número desde meados de maio. Continuou alto no sábado, com 781 novos casos. Initial plugin text
- Publicado em Turismo
Coronavírus: Reino Unido exige quarentena de viajantes vindos da Espanha
Turistas e residentes vindos da Espanha deverão cumprir 14 dias de isolamento ao desembarcar no Reino Unido; país ibérico voltou a ter aumentos nos casos diários de Covid. Passageiros chegam ao aeroporto de Heathrow, em Londres Toby Melville/ Reuters Os passageiros que chegam da Espanha no Reino Unido terão que ficar confinados por duas semanas, depois que o governo britânico anunciou neste sábado (25) sua retirada da lista de países isentos devido ao aumento na disseminação do novo coronavírus. Desde domingo, as pessoas que estão de férias na Espanha são incentivadas a respeitar as regras locais, voltar para casa conforme planejado e se ficar confinado voluntariamente. "O Centro Inglês de Biossegurança e Saúde Pública atualizou a situação da Espanha com base nos dados mais recentes", disse um porta-voz do governo britânico. "Como resultado, a Espanha foi removida da lista de países dos quais os passageiros que chegam estão isentos da necessidade de se confinarem na chegada à Inglaterra, Escócia, País de Gales e Irlanda do Norte", acrescentou. O governo recomenda não viajar, exceto por necessidade essencial, para a Espanha continental, mas a recomendação não se aplica às Ilhas Canárias ou Baleares. Um mês após a Espanha emergir de um longo estado de emergência, novas infecções começaram a surgir e as autoridades de saúde apontam a reativação da vida noturna como uma das causas da propagação do vírus. O novo coronavírus afetou fortemente a Espanha, com um saldo de mais de 28 mil mortes e mais de 272 mil pessoas infectadas. Initial plugin text
- Publicado em Turismo
Pesquisa aponta que 95% dos hotéis independentes do país estavam fechados em junho
No Rio, mais da metade dos estabelecimentos não tem data para reabrir. 25% dos hotéis do Rio pretendem reabrir as portas em agosto
Um levantamento da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis (ABIH) mostra que, em junho, 95% dos estabelecimentos independentes — que não pertencem a grandes redes — estavam fechados.
A sondagem foi feita em duas rodadas: entre os dias 10 e 16 do mês passado e entre 4 e 10 de julho. Nestas datas, 20% já estavam abertos.
A ABIH explica que a expectativa das associações nos estados é que esses números comecem a subir, ainda que de forma tímida, pois os destinos estão reabrindo e retomando as atividades relacionadas ao turismo.
Segundo o levantamento, no início de julho a taxa de ocupação média dos hotéis no RJ ficou em torno de 15%.
Queda de quase 90% no Sul
Outra pesquisa, esta do Fórum de Operadores Hoteleiros do Brasil, comparou a taxa de ocupação em junho entre este ano e 2019.
A Região Sudeste apresentou uma queda de 84,3%; no Sul, a redução foi de 89,6%. Na cidade do Rio, o decréscimo foi de 86,5%.
O fórum analisou 560 hotéis de redes associadas, responsáveis pela oferta de 87.917 unidades habitacionais disponíveis, o que representa cerca de 60% do total de quartos do Brasil.
Expectativas de abertura
Na cidade do Rio, de acordo com um estudo do Sindicato de Hospedagem do município, cerca de 68 estabelecimentos — entre hotéis, hostels e albergues — estão com atividades temporariamente suspensas.
Ao mapear uma previsão de retomada do setor, o estudo aponta:
57,35% dos empreendimentos apurados não trabalham com previsão de data;
25% pretendem reabrir as portas em agosto;
10,03%, em setembro;
1,47%, em novembro;
1,47%, em dezembro;
4,41% em 2021.
A pesquisa registrou que sete estabelecimentos fecharam definitivamente.
Além disso, o setor acumulou um prejuízo estimado em R$ 720 milhões nos últimos quatro meses por conta da pandemia.
Retomada do turismo
Apesar da autorização da Prefeitura do Rio para reabertura, com o início da Fase 4 da flexibilização — no último dia 17 —, os principais pontos turísticos resolveram retomar as atividades apenas na segunda quinzena de agosto.
O Pão de Açúcar, o Trem do Corcovado, o Aquario e a roda-gigante Rio Star tomaram essa decisão em conjunto. O grupo planeja também uma campanha que prevê descontos de até 50% no valor dos ingressos para os visitantes.
No último dia 9, o Parque Nacional da Tijuca, o Jardim Botânico e o Parque Lage reabriram parcialmente para visitações após quatro meses fechados.
- Publicado em Turismo
‘Amor não é turismo’: os casais separados pela pandemia no Japão
Casais vêm impulsionando a hashtag #LoveIsNotTourism ('o amor não é turismo'), mobilização internacional de petições, fóruns de discussões e disparo de e-mails endereçados a autoridades para pedir a flexibilização das regras de restrições de viagem para casais a diversos países Gabriela e Michael se conheceram online e namoram desde 2018 Arquivo Pessoal/BBC Quase dez mil quilômetros separam o britânico Michael Card, 35, e a nipo-brasileira Gabriela Abe, 32. A distância é o equivalente a atravessar o Brasil do Oiapoque ao Chuí, ida e volta. Recém-casados, eles estão separados desde março devido às rigorosas restrições de acesso ao Japão, cujas fronteiras estão fechadas a passageiros vindos de mais de 100 países por conta da pandemia de covid-19. Gabriela e Michael se conheceram online e namoram desde 2018. Em janeiro deste ano, eles se casaram no arquipélago asiático. Quarentena impulsiona busca por relações extraconjugais Amor ou abuso: como identificar se você está em um relacionamento abusivo A pandemia vai tornar o mercado de trabalho ainda mais difícil para as mulheres? Ela faz doutorado na Universidade de Osaka e possui visto de estudante desde 2017. Ele voltou ao Reino Unido após o casamento, a fim de organizar e enviar os documentos para seu pedido de visto vinculado a Gabriela, mediante o certificado de elegibilidade, um importante documento emitido pelo Departamento de Imigração do Ministério da Justiça do Japão. Munido de certificado e demais documentos, o britânico deu entrada no pedido em março. Dias depois, a Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou a pandemia do novo coronavírus e o Japão, atingido pela covid-19 logo após a cidade chinesa de Wuhan, decidiu fechar fronteiras a diversos países – em abril, eram 111; em julho, 129, entre eles o Brasil, os Estados Unidos e quase toda a Europa. A emissão de novos vistos foi suspensa até segunda ordem. "Estava prestes a obter o visto, era uma questão de dias. Agora, estou no escuro sem saber, como muitos estrangeiros, quando vou poder reencontrar minha família. Estou sem passaporte, que ficou na embaixada. Estou sem emprego e sem casa própria, pois minha vida não é mais aqui, já era para ter começado minha vida nova no fim de março. Não quero ir ao Japão para turismo, quero ir para casa, para Gabi", conta Michael à BBC News Brasil. "E estou vivendo sozinha, na casa onde deveríamos morar juntos", acrescenta Gabriela. "É estressante e emocionalmente desgastante não saber o que vai acontecer amanhã, não há estimativa de tempo, não há certeza de nada. Ninguém sabia que a situação da covid-19 escalaria tão dramaticamente." Michael agora passa os dias em busca de informações para conseguir entrar legalmente no país – além da embaixada japonesa no Reino Unido, ele já escreveu para o gabinete do primeiro-ministro Shinzo Abe, para o Ministério da Justiça e o Ministério das Relações Exteriores. "Caro Sr. Card, sinto informar que não há progresso no seu pedido de visto. Compreendo que são notícias desanimadoras", diz um dos últimos e-mails da embaixada, o único órgão oficial que lhe deu algum retorno. Enquanto a resposta final não vem, eles tentam vencer o fuso de 8 horas de diferença entre Leeds e Osaka para conversar online. Na internet, inclusive, casais como Gabriela e Michael vêm impulsionando a hashtag #LoveIsNotTourism ("o amor não é turismo"), mobilização internacional de petições, fóruns de discussões e disparo de e-mails endereçados a autoridades para pedir a flexibilização das regras de restrições de viagem para casais a diversos países. #LoveIsNotTourism O movimento é forte na União Europeia, que recomenda vetar o ingresso de passageiros procedentes de países onde a pandemia não está sob controle. Atualmente, apenas 14 passaportes possuem livre acesso ao território europeu; entre os latino-americanos, somente o Uruguai está liberado. Já no Japão as restrições deixaram diversos estrangeiros impedidos de voltar para casa – entre eles, residentes estrangeiros, cônjuges de residentes estrangeiros e até cônjuges de japoneses. Segundo dados do Departamento de Imigração divulgados neste ano, no arquipélago de cerca de 127 milhões de habitantes vivem quase 3 milhões de residentes legais estrangeiros, um recorde histórico. Entretanto, apenas japoneses podem viajar ao exterior e voltar a qualquer momento; mesmo com os documentos em ordem, os demais correm o risco de serem barrados no aeroporto e mandados de volta. "Na maioria dos países, especialmente entre os desenvolvidos, ao menos residentes permanentes não são barrados, mas no Japão é diferente. […] Todos os estrangeiros, inclusive residentes permanentes que não viveram em nenhum lugar além do Japão por décadas, também são barrados", escreveu o acadêmico europeu Sven Kramer, radicado no Japão, no abaixo-assinado na plataforma Change, endossado por 11 mil signatários até 13 de julho. Desde abril, estrangeiros que tiveram o visto aprovado e estavam prontos para embarcar perderam o timing também pois as fronteiras se fecharam e venceu o prazo de 90 dias para ingressar no país. Agora, vão precisar pedir um novo visto, do zero. Em junho, o país anunciou a abertura de exceções nas regras de retorno de estrangeiros, mediante "circunstâncias excepcionais" e "considerações humanitárias", conforme diz o informa oficial do Departamento de Imigração, como ir a um funeral ou visitar um familiar que está no leito de morte no exterior, desde que o destino não esteja entre os países proibidos até o dia de saída do Japão. Isto é, a diretriz deixa de fora estrangeiros de dezenas de países a depender da data. Em julho, segundo a agência pública NHK, o governo japonês sinalizou que pretende permitir o retorno de residentes estrangeiros em breve em certos casos, incluindo empresários, estudantes e trainees técnicos. Até o fim do mês, a expectativa é flexibilizar restrições a estrangeiros nas viagens de negócios a dez países asiáticos, entre eles China e Coreia do Sul. Também há diálogos em andamento para viagens de negócios com Austrália, Nova Zelândia, Tailândia e Vietnã, que se destacaram no controle do coronavírus. Turistas estão no fim da fila de espera para voltar a atravessar as fronteiras japonesas. Demissão e incerteza Turista é o status da americana Hillary Maxson, 34, que está noiva do japonês Yuhei Kobayashi, 29. Hillary, historiadora, mora em Washington; Yuhei, corretor de ações no mercado financeiro, vive em Chiba. Juntos desde 2015, eles ficaram noivos no verão de 2019 – ela, uma acadêmica especializada em estudos de gênero no Japão moderno, foi quem fez o pedido romântico. Em janeiro, eles viajaram para Yamagata, cidade natal de Yuhei. Foi o último encontro feliz, que reuniu toda a família japonesa do noivo. Em fevereiro, ela voltou para os Estados Unidos, pediu demissão do posto de professora assistente na Universidade do Oregon, pois pretendia se mudar para o outro lado do mundo. Enquanto ela cumpria o aviso prévio na universidade, estourou a pandemia e seu voo marcado para dia 9 de junho foi cancelado. "Nós estávamos prontos para começar uma família. A separação é absolutamente desoladora para nós", relata Hillary, que procurou a embaixada japonesa nos Estados Unidos, a embaixada americana no Japão e o Departamento de Imigração do Ministério da Justiça do Japão. "A imigração japonesa nos orientou a tentar casar à distância, o que poderia nos dar uma chance de nos reencontrarmos não tão tarde. Ainda estamos tentando conferir se isso é possível. Mas, até lá, nós nos sentimos presos e profundamente abalados por não podermos estar juntos." Final feliz? O técnico dinamarquês Jonas Damgaard Stephensen, 23, e a enfermeira japonesa Kana Takahashi, 24, também estão no limbo. Eles começaram a namorar em fevereiro, ela iria visitá-lo na Dinamarca em maio e ele voltaria ao Japão em julho. "Foi um salto da esperança de um namoro novo a sequer saber se vamos nos ver novamente", lamenta Jonas, que mobilizou um fórum de discussão no Facebook. Uma das ideias é tentar pressionar as autoridades japonesas para que casais (casados no papel ou não) envolvendo estrangeiros sejam incluídos nas viagens essenciais por motivos humanitários. "A campanha #LoveIsNotTourism deveria se espalhar pelo mundo todo. Passar a pandemia com quem você mais precisa deveria ser do interesse de todos, não é? A mensagem é importante, mas não sei como será recebida [no Japão]." As restrições imigratórias vêm abalando jovens casados, noivos e namorados. Mas os brasileiros Thais Morissawa, 44, e Adriano Castro, 42, tiveram mais sorte. Namorados desde 2011 e casados desde 2016, eles se mudaram no ano seguinte para o Japão, trabalhando junto a uma empresa de exportação de cosméticos asiáticos para o Brasil. Em dezembro de 2019, decidiram passar férias no Brasil, já com as passagens marcadas de volta para o Japão: ela retornaria em janeiro, ele em abril. Thais voltou a Nagoia, mas Adriano ficou preso em São Paulo – seu voo foi cancelado três vezes pela companhia aérea após as restrições da imigração japonesa. "Ele precisou alugar um AirBnb de última hora em São Paulo e precisou negociar, pois senão ia ficar sem teto. Ele, isolado lá, sem conseguir trabalhar. Eu, literalmente ilhada aqui, longe de toda a família. Cada cancelamento de voo foi uma frustração imensa. Cada notícia da pandemia no Brasil, uma angústia. Vem o sentimento de que o mundo está desabando e as fronteiras cada vez mais fechadas, as cidades sob lockdown. E, num momento como esse, a gente só quer estar perto de quem a gente ama", diz Thais. Em dezembro de 2019, Thais e Adriano decidiram passar férias no Brasil Arquivo Pessoal/BBC No dia 6 de julho, Adriano finalmente desembarcou em Tóquio – como eles tinham viajado para o Brasil pré-pandemia, ele se enquadrou nas exceções às regras de retorno de residentes estrangeiros. No aeroporto de Narita, ele fez o teste de covid-19, que deu negativo. "Foi tudo tão tenso e tumultuado que nem tiramos foto do reencontro tão esperado. O voo estava marcado para Nagoia, no fim foi para Narita; a mala foi extraviada; a espera dentro do aeroporto durou 3 horas", lembra Thais. "Mas, enfim, o importante é que a gente conseguiu se reencontrar. Para quem está separado agora, sei que é difícil, que a distância dói, mas não pode perder a esperança. Isso é passageiro e, até passar, a gente precisa se como unir como pode." Initial plugin text
- Publicado em Turismo
Excesso de peso de turistas faz Veneza diminuir número de pessoas em gôndolas
O aumento do número de obesos no mundo obrigou as autoridades de Veneza a diminuir o número de passageiros autorizados a embarcar nas gôndolas, com uma redução de seis para cinco pessoas. O novo regulamento foi adotado no início de julho. Gôndola em Veneza, na Itália Reuters/Flavio Lo Scalzo Veneza, na Itália, decidiu reduzir o número de pessoas que transportará em suas famosas gôndolas. A decisão foi tomada por causa do excesso de peso dos turistas, que põe em risco a estabilidade dos históricos barcos de madeira, informou nesta quarta-feira (22) a associação local de gondoleiros. O aumento do número de obesos no mundo obrigou as autoridades de Veneza a diminuir o número de passageiros autorizados a embarcar nas gôndolas, com uma redução de seis para cinco pessoas. O novo regulamento foi adotado no início de julho. "Além do problema do peso médio por turista, é preciso lembrar que as águas dos canais estão cada vez mais agitadas devido ao aumento do tráfego de barcos a motor", explicou Roberto Luppi, ex-presidente da Associação de Gondoleiros de Veneza. A medida adotada pela prefeitura não tem como objetivo aumentar os lucros, mas facilitar o trabalho dos gondoleiros e suas manobras, já que eles remam de pé no elegante barco de madeira escura. É um meio de transporte existente há séculos entre as mais de cem pequenas ilhas que compõem a cidade de Marco Polo. As chamadas gôndolas "stop", que são maiores – um serviço público pronto para atravessar o Grande Canal -, poderão transportar 12 pessoas, enquanto anteriormente levavam 14. Muitos turistas com sobrepeso "Muitos turistas estão acima do peso e, se o barco estiver cheio, a água entra e pode afundar", explica Raoul Roveratto, presidente da associação local de gondoleiros, ao jornal "La Repubblica". "Navegar com mais de meia tonelada a bordo é perigoso", acrescenta. A prefeitura também planeja aumentar o número de licenças concedidas aos gondoleiros, de 433 para 440. De acordo com as novas disposições, a licença pode ser passada de um membro para outro da mesma família, sem que o novo titular precise fazer um exame de história e idioma. O maior requisito agora é ter quatro anos de experiência de navegação em uma gôndola familiar. Em maio, as famosas gôndolas de Veneza reapareceram ao longo do Grande Canal para transportar principalmente os moradores locais, por causa da longa ausência de turistas devido à pandemia de coronavírus neste ano. A cidade já havia enfrentado recentemente um grande desafio, quando no ano passado as marés atingiram níveis históricos, causando graves inundações. Apesar de ter se recuperado, o vírus atingiu fortemente o local.
- Publicado em Turismo
Uzbequistão irá pagar o equivalente a R$ 15 mil a turista que contrair Covid-19 no país
Medida faz parte do programa "Viagem segura garantida", criado pelo governo como forma de promover o turismo do país, que vem ganhando força. O Registan, a praça principal de Samarcanda, no Uzbequistão Turismo do Uzbequistão/Divulgação Com as fronteiras abertas para o turismo desde março, o Uzbequistão decidiu pagar o equivalente a R$ 15 mil para cobrir os custos de assistência médica de turistas que contraírem Covid-19 enquanto visitam o país. A medida faz parte do programa "Viagem segura garantida", criado pelo governo como forma de investir no turismo local e aumentar o fluxo de visitantes na ex-república soviética, localizada na Ásia Central. A campanha tem como objetivo garantir a segurança sanitária e higiênica de turistas locais e estrangeiros durante a pandemia. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS) até o momento o Uzbequistão registra 96 mortes por Covid-19 e cerca de 18 mil casos da doença. Sophie Ibbotson, embaixadora do turismo do Uzbequistão no Reino Unido, informou que a ação é uma forma de assegurar que os turistas continuem visitando o país mesmo durante a pandemia. “O governo está confiante de que as novas resoluções de segurança e higiene implementadas no setor protegerão os visitantes contra a Covid-19. Então, se você contrair o vírus enquanto estiver visitando o Uzbequistão, nós iremos cobrir os gastos de saúde", afirmou Ibbotson. O Uzbequistão pertenceu à União das Repúblicas Socialistas Soviéticas e se tornou um país independente depois do colapso do comunismo na Rússia. O país abriga Samarcanda, uma cidade de quase 3.000 anos e que foi uma das mais importantes da humanidade por sua localização estratégica na chamada Rota da Seda. O governo local tenta fomentar o turismo para como forma de turbinar a economia. O país também criou medidas para beneficiar empreendimentos do setor e diminuir impostos para setores impactados pela ausência de turistas como museus, galerias de arte e centros de arte. Empresas locais foram convidadas a assinar um esquema nacional de certificação de segurança e higiene, como forma de aumentar a confiança dos visitantes.
- Publicado em Turismo
Por que a capital da Tunísia pode ser a ‘nova Roma’
Túnis ferve com a energia criativa da nova geração, aproveitando ao máximo sua liberdade de expressão e preservando a herança cultural do país de maneiras surpreendentes. A Termas de Antonino, em Túnis, é um dos maiores espaços romanos destinados a banhos públicos do mundo Getty Images/BBC O tempo de espera para entrar no Coliseu, em Roma, era de aproximadamente três horas e meia. A fila era tão longa que, inicialmente, eu achei que era para visitar o Monte Palatino, já que eu não conseguia nem sequer ver o Coliseu quando entrei no fim dela. Era meados de maio, fazia frio e chovia muito, mas dezenas de turistas encharcados estavam amontoados ao meu lado em capas de chuva coloridas esperando sua vez de pagar 12 euros (cerca de R$ 68) para serem guiados pela arena como animais selvagens antes se serem caçados por gladiadores. Foi quando me ocorreu o seguinte: durante o tempo de espera naquela fila, eu poderia ir de metrô até o aeroporto de Roma, pegar um voo de 80 minutos para Túnis, capital da Tunísia, e me deslocar 15 km de táxi até Cartago, onde eu poderia contemplar sozinho relíquias igualmente impressionantes da engenharia e arquitetura romanas por apenas 12 dinares tunisianos (aproximadamente R$ 21). No fim daquela semana, decidi fazer o teste. A Tunísia teve sua imagem abalada na última década depois que a revolução que derrubou o presidente Zine al-Abidine Ben Ali, em 2011, gerou um período de turbulência no país, dando início à Primavera Árabe. O que outrora fora um refúgio para turistas, artistas e intelectuais europeus (Paul Klee, Michel Foucault e Simone de Beauvoir passaram longas temporadas lá) de repente parecia um lugar violento e intocável. Aqueles que se aventuravam a ir até lá muitas vezes o faziam dentro da (pseudo) segurança oferecida pelos pacotes turísticos com “tudo incluído”, ficando confinados em refúgios à beira-mar, como no resort e spa Mövenpick, em Sousse. A imagem da Tunísia foi ainda mais arranhada após uma série de ataques extremistas em 2015, no auge da campanha internacional do grupo autodenominado Estado Islâmico, que abalou o país e provocou uma ampla reformulação das medidas antiterroristas. O Reino Unido ainda sugere que os turistas tenham cautela na região, mas observa que "o governo da Tunísia aprimorou as medidas de proteção à segurança nas principais cidades e resorts turísticos". Apesar disso, quando passar o pior da pandemia do coronavírus, pode ser o momento perfeito para visitar Túnis — e por conta própria. O país emergiu da Primavera Árabe com uma democracia funcional, em busca de estabilização econômica e sede de turismo. Atualmente, é a única nação árabe em que há liberdade de expressão, e sua capital reverbera com jovens expressando novas ideias por meio de shows, debates políticos, mostras de arte e festivais de cinema, o que há uma década seria inimaginável. Há ainda antigas ruínas romanas e púnicas para explorar, praias para apreciar e artesanatos e obras de arte incríveis para barganhar — e tudo isso sem aglomerações. O mais interessante é que Túnis está fervilhando com a energia criativa da nova geração, que aproveita ao máximo seu entusiasmo e liberdade de expressão para preservar a herança cultural do país de maneiras novas e surpreendentes. Uma das pessoas que lideram esse movimento é Leila Ben Gacem, empreendedora social empenhada em conservar a arte e o artesanato local, que corriam o risco de desaparecer. "Quando as pessoas viajam, querem uma história, querem fazer parte de alguma coisa", diz Ben Gacem, enquanto comemos um prato de cordeiro assado com berinjela na Dar Ben Gacem Kahia, uma das duas residências medievais na vibrante medina de Túnis que ela cuidadosamente reformou e transformou em pousadas na última década. Ben Gacem sabe reconhecer uma boa história. Após trabalhar como engenheira na Europa e no norte da África, ela ficou cética em relação a investimentos e empreendimentos estrangeiros — e voltou à Tunísia em 2013 para tentar incentivar o crescimento econômico do país preservando seu patrimônio cultural, em vez de substituí-lo. O bairro à beira-mar de Sidi Bou Said tem uma paleta de cores azul e branco Getty Images/BBC Ela passou meses procurando e ouvindo histórias de centenas de artesãos — sapateiros, perfumistas, marceneiros, encadernadores, chapeleiros, tecelões — na medina de Túnis, declarada Patrimônio Mundial pela Unesco. E, na sequência, fundou uma organização comunitária, a Blue Fish, para ajudá-los a manter seus negócios funcionando e seus artesanatos vivos. Uma maneira de fazer isso era levando os compradores até eles. "Nosso mercado local é pequeno demais para preservar nossa arte e artesanato", explica. Mas, ao restaurar casas históricas e transformar em pousadas, ela atraiu milhares de turistas do mundo todo para as oficinas e vitrines de artesãos da medina. "No início, os artesãos não entendiam por que as pessoas queriam ver suas oficinas ou observá-los fazendo chapéus ou chinelos", diz ela. Mas agora se tornou uma relação simbiótica. Os hóspedes recebem um mapa personalizado com a localização de dezenas de oficinas e lojas repletas de artigos de couro feitos à mão, tapetes, perfumes e outros tesouros escondidos em meio ao labirinto dos souks (mercados de rua). Como resultado, eles sustentam as microempresas que mantêm viva a herança cultural tunisiana. Ben Gacem também colocou em ação um pequeno exército de artesãos para restaurar as pousadas. Foram necessários sete anos para os escultores de gesso, ceramistas, carpinteiros e pedreiros devolverem à primeira hospedaria sua antiga glória. Assim como o resto da encantadora medina, todos os elementos das construções têm uma história, das amplas placas de mármore no chão do pátio ("Tivemos que removê-las e etiquetá-las, uma a uma, para colocar o encanamento") às colunas diferentes uma das outras, provavelmente reaproveitadas das ruínas romanas pelos árabes que fundaram a medina no século 7. A Medina de Túnis é uma mistura de ruas estreitas, souks, mesquitas e estruturas históricas Getty Images/BBC Ben Gacem acredita que a herança cultural de Túnis não deve ser apenas preservada, como também precisa ser passada adiante. As pousadas se tornaram polos de cultura, organizando jantares, palestras e shows abertos ao público e repletos de moradores do bairro. Ela também incentiva jovens artesãos a fazer estágios e treina adolescentes locais para a indústria hoteleira, para que o legado cultural da medina permaneça nas mãos da população local. Enquanto Ben Gacem trabalha para preservar a cultura dentro da medina, do lado de fora de seus muros, uma legião de jovens tunisianos está redefinindo essa herança cultural por meio da arte, música e design. Entre os destaques está Anissa Meddeb, que mistura tecidos tunisinos e influências asiáticas para criar modelos de roupa contemporâneos para sua marca, Anissa Aida. Nascida e criada em Paris por pais tunisianos, Meddeb estudou moda em Nova York antes de decidir se mudar para Túnis e lançar sua própria linha de roupas. Quando ela começou a empreitada em 2016, teve dificuldade de encontrar tecidos de qualidade em meio ao mar de poliéster. Ela vasculhou então as pequenas cidades da Tunísia em busca dos melhores tecelões de seda, linho e algodão. "Eu queria voltar às raízes dos artesãos", conta Meddeb. Levou meses até encontrar os fornecedores certos, mas agora ela encomenda tecidos de todo o país para sua marca de roupas, que é vendida em butiques locais como a Musk & Amber, assim como em lojas de toda a Europa. Quando perguntei a Meddeb por que uma estilista em ascensão se mudaria de Paris ou Nova York, mecas da moda, para Túnis, ela respondeu sem pestanejar: "Existe uma energia em Túnis agora, principalmente entre artistas mais jovens. As pessoas têm algo a dizer.” Para os turistas que buscam aproveitar essa energia, e o belo design que a acompanha, a dica é desbravar os bairros ao norte do centro de Túnis. Mais perto do centro da cidade, em Mutuelleville, faça uma parada na L'artisanerie para garimpar vasos de planta tecidos à mão e espelhos decorados. Em seguida, visite a Mooja e a Elyssa Artisanat para experimentar as últimas tendências da moda tunisiana. No badalado bairro de La Marsa, você encontrará cerâmica contemporânea no Noa Atelier; uma seleção de foutas (toalha tradicional) tecidas à mão no Hager Fouta; e streetwear com frases ousadas em caligrafia árabe na Lyoum. Termine seu tour no bairro à beira-mar de Sidi Bou Said, onde, escondida entre as encantadoras casas azuis e brancas, você encontrará a Rock the Kasbah, uma excêntrica loja de artigos para casa, construída em um casarão tradicional. Mas designs incríveis não são a única coisa que você vai descobrir entre as casas luxuosas e vilas charmosas ao longo da costa norte. É também onde você vai encontrar aquelas ruínas romanas pelas quais eu dei uma escapada da Cidade Eterna para desbravar. Muito antes de Túnis, havia Cartago, a antiga cidade portuária fenícia que foi arqui-inimiga de Roma por séculos. No poema épico Eneida, o poeta romano Virgílio conta como a rainha Dido, fundadora de Cartago, fugiu de Tire (no atual Líbano) e desembarcou no norte da África. Quando ela pediu um pedaço de terra do líder da tribo local, ele jogou uma pele de boi no chão, dizendo que ela poderia ter a terra coberta pela pele. Num hábil movimento semântico e cirúrgico, ela cortou a pele em tiras bem finas e circundou uma colina inteira logo acima do porto. Esta é a Colina de Birsa, o melhor lugar para começar o dia explorando as ruínas púnicas e romanas de Cartago. À primeira vista, a Colina de Birsa, repleta de vivendas e mansões, parece mais Beverly Hills do que um Patrimônio Mundial da Unesco. Mas, diferentemente de Beverly Hills, se você quiser colocar uma piscina no quintal de casa em Birsa, é melhor chamar um arqueólogo primeiro. Durante séculos, uma civilização após a outra construiu casas nesta locação privilegiada, e ao escavar alguns metros abaixo da terra pode surgir uma cerâmica africana ou os resquícios de um mosaico romano. Enquanto o topo da colina oferece uma vista deslumbrante sobre o Mar Mediterrâneo e algumas ruínas da era púnica e romana, sua principal atração é o Museu de Cartago — um dos museus arqueológicos mais importantes do país. Aos pés da colina, você pode visitar os oito principais sítios arqueológicos da região, que podem ser percorridos a pé ou de táxi. O meu favorito é o santuário de Tophet (ou Púnico). Pode ser pequeno, mas sua história macabra confere a ele um papel descomunal. Aqui, os antigos fenícios ofereciam sacrifícios de crianças à deusa Tanit e celebravam cada um deles erguendo uma pedra gravada com seu símbolo (um círculo em cima de um triângulo, com os braços abertos). Dezenas dessas pedras estão agrupadas hoje em meio a uma gruta de palmeiras, em um cenário plácido, mas sinistro. Pouco mais acima, as Termas de Antonino se revelam imponentes. As ruínas de arcos e colunas de mármore faziam parte do espaço destinado a banhos públicos erguido durante a era romana, um dos mais grandiosos já construídos. Para aqueles com uma ânsia ainda maior por história antiga (e um carro alugado à disposição), vale a pena fazer um bate-volta até Dougga. A apenas duas horas de carro a sudoeste da capital, Dougga é a cidade romana mais bem preservada do norte da África. O vasto complexo da Unesco, com seu imponente fórum e templo romano, se destaca em uma colina com vista para vastas planícies repletas de flores silvestres na primavera. Você pode passar horas vagando por suas ruas bem preservadas, imaginando como deve ter sido viver naquela cidade romana — e fazer tudo isso com tranquilidade, algo raro de se conseguir na Europa. Nas duas vezes que visitei, em abril e junho, tive o lugar todo só para mim. Túnis pode não bater Roma em todas as categorias — a comida, à base de ovo, atum em conserva e harissa (tipo de molho), geralmente deixa a desejar — mas nem precisa. Enquanto a capital da Tunísia projeta seu passado no futuro, está criando seu próprio legado como capital da cultura, história e liberdade.
- Publicado em Turismo
Aumento de casos de coronavírus na Flórida ofusca turismo e Disney World
A Flórida é um dos novos epicentros da pandemia nos Estados Unidos. 11 de julho – Visitantes com máscaras protetoras esperam do lado de fora do parque temático Magic Kingdom, no Walt Disney World, no primeiro dia de reabertura, em Orlando, na Flórida Gregg Newton/AFP A Flórida registrou mais de 12.600 casos novos de coronavírus nesta segunda-feira (13), seu segundo maior total diário desde o início do surto, o que coincidiu com a tentativa do Estado norte-americano de reativar o turismo e atrair visitantes para o Disney World recém-reaberto. Flórida, Arizona, Califórnia e Texas emergiram como os novos epicentros da pandemia nos Estados Unidos. As infecções subiram rapidamente em cerca de 40 dos 50 Estados na última quinzena, de acordo com uma análise da Reuters. A elevação mais recente de casos na Flórida veio à tona horas depois de o presidente Donald Trump criticar especialistas de saúde de seu governo que comandam a reação à pandemia e seu relacionamento com o principal especialista em doenças infecciosas da nação, doutor Anthony Fauci, se deteriorar ainda mais. De manhã cedo, Trump retuitou acusações de um ex-apresentador de game show segundo o qual "todos estão mentindo", incluindo o Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos EUA (CDC), a principal agência da reação à pandemia. "As mentiras mais vergonhosas são aquelas sobre a Covid-19. Todos estão mentindo. O CDC, a mídia, os democratas, nossos médicos, não todos, mas a maioria, em quem nos dizem para confiar", escreveu Chuck Woolery na noite de domingo, sem apresentar provas. No mesmo dia, a Flórida relatou um aumento recorde de mais de 15 mil casos novos de Covid-19 em 24 horas. Se a Flórida fosse um país, a cifra a colocaria na quarta posição mundial em número de casos por dia, só atrás de EUA, Brasil e Índia, segundo uma análise da Reuters. O governador da Flórida, Ron DeSantis, classificou a disparada de casos como "um pico" e pediu aos moradores que não fiquem alarmados. O Estado computou mais de 500 mortes na semana passada – na semana anterior haviam sido mais de 300 – e é um de cerca de uma dúzia de Estados onde as fatalidades aumentaram nos últimos sete dias na comparação com os sete dias anteriores, de acordo com uma análise da Reuters. O Disney World da Flórida reabriu para o público pela primeira vez desde março no sábado, exigindo que os visitantes usassem máscaras, passassem por verificações de temperatura e mantivessem distância uns dos outros.
- Publicado em Turismo