Álbum definidor de Maria Bethânia, ‘Rosa dos ventos’ faz 50 anos com a mesma força dramática
Disco registra, de forma fragmentada, show de 1971 que se tornou matriz do estilo dramático da intérprete. Capa do álbum 'Rosa dos ventos – Show encantado' Norma Pereira Rego com arte de Aldo Luiz ♪ MEMÓRIA – Existem álbuns que marcam definitivamente a presença de um artista ou banda no universo da música. No caso de Maria Bethânia, cantora baiana projetada nacionalmente a partir de fevereiro de 1965, ao substituir Nara Leão (1942 – 1989) no teatralizado show Opinião (1964 / 1965), este álbum definidor é Rosa dos Ventos – Show encantado, lançado em 1971. Não por acaso trata-se de álbum ao vivo, flash instantâneo de Bethânia no palco, habitat natural desta intérprete de tons dramáticos, vocacionada para a cena. Sucesso da temporada carioca de 1971, tendo ficado meses em cartaz no Teatro da Praia (RJ) antes de seguir para a temporada paulistana no Teatro Maria Della Costa (SP) e para temporada baiana no Teatro Castro Alves (BA), o espetáculo Rosa dos ventos é a matriz impressa desde então nos shows posteriores da artista. Ecos deste show reverberaram ao longo da trajetória da cantora nos palcos, sedimentando o acerto da conexão de Bethânia com o diretor e ator de teatro Fauzi Arap (1938 – 2013), condutor da intérprete em cena ao criar roteiros que entrelaçavam músicas e textos, geralmente poesias. Rosa dos ventos foi o aprimoramento da parceria de Fauzi com Bethânia, iniciada quatro anos antes com o show Comigo me desavim (1967), no qual Bethânia disse, pela primeira vez, texto da escritora Clarice Lispector (1920 – 1977), à cuja obra a cantora retornou em Rosa dos ventos, com direito a texto inédito de Clarice, escrito para o espetáculo. O show encantado de 1971 também promoveu a marcante conexão de Bethânia com o poeta português Fernando Pessoa (1888 – 1935), cuja obra seria recorrente a partir de então nos espetáculos da artista. Pelas precárias condições técnicas em que o show foi gravado, por iniciativa de Roberto Menescal, então diretor artístico da gravadora Philips, espanta que o disco apresente som quente, sobretudo na edição em CD lançada em 2006 com remasterização de Luigi Hoffer. O álbum Rosa dos ventos – Show encantado chega aos 50 anos em 2021 com a mesma força dramática de 1971, mesmo que o roteiro tenha sido fragmentado na transposição para o disco, com as músicas fora da ordem original – o que desgostou profundamente Bethânia. Infelizmente, por questão de espaço no LP, cuja (já raríssima) edição original tinha capa dupla, o álbum perpetua somente um registro parcial do show com o agravante de que, como o roteiro ficou fora da ordem na disposição das músicas nos dois lados do LP (sem a numeração das faixas, divididas em 13 somente na edição em CD), o conceito do roteiro se perdeu. Exemplo da habilidade de Fauzi Arap na costura de músicas e textos, esse roteiro associava as músicas a cada um dos quatro elementos da natureza – água, ar, fogo e terra – e, com o reforço dos textos, criou show com forte carga espiritual e psicológica, com ecos do trabalho da psiquiatra Nise da Silveira (1905 – 1999) sobre o inconsciente. É quando Bethânia “abre as portas que dão para dentro” para se perder no labirinto sombrio por onde se move Janelas abertas nº 2 (1971), música do mano Caetano Veloso, compositor também presente no disco com as lembranças das canções Avarandado (1967) e Não identificado (1971). O caráter psicológico do roteiro do show Rosa dos ventos também está exemplificado no disco quando a cantora faz desabrocha a densidade de Flor da noite (Toquinho e Vinicius de Moraes, 1971), música sobre “louca mansa” do Pelourinho, em Salvador (BA). Com a voz de Bethânia à frente, o som do disco nem sempre capta toda a maestria dos toques dos músicos do Terra Trio, responsáveis pela musicalidade do álbum. Agrupados desde 1966, o pianista Zé Maria, o baixista Fernando Costa e o baterista Ricardo Costa começaram a tocar com Bethânia já em 1967 e acompanhariam a cantora ao longo de toda a década de 1970. Em Rosa dos Ventos, o Terra Trio embasou as incursões de Bethânia por repertório antenado com as novidades da MPB. Parceira do poeta Tite de Lemos (1942 – 1989) em Assombrações (1971), música que abre o álbum, Sueli Costa já tinha sido lançada em disco por Nara Leão em 1967, mas somente ganhou impulso como compositora a partir do show Rosa dos ventos, cujo roteiro original incluía outras duas músicas de Sueli com Tite, Aldebarã e Sombra amiga, ausentes do registro fonográfico. Cabe ressaltar também que a música-título Rosa dos ventos (1970) era composição que passara quase despercebida no álbum lançado por Chico Buarque no ano anterior e até mesmo na gravação feita em estúdio pela cantora para o álbum A tua presença, lançado naquele mesmo ano de 1971. Foi Bethânia quem expôs, no show, toda a dimensão dramática da canção de Chico, desde então associada primordialmente à intérprete. Mesmo fragmentado e sem o elo conceitual do show, o repertório do disco Rosa dos ventos aponta e reitera caminhos seguidos por Bethânia em trajetória pavimentada com extrema coerência. Estão lá os sambas de roda do Recôncavo baiano, os mergulhos no cancioneiro de Dorival Caymmi (1914 – 2008), as saudações aos orixás – representadas pelo canto do então recente Ponto de Oxum (Toquinho e Vinicius de Moraes, 1971) – e a devoção ao sambista baiano Oscar da Penha ( 1924 – 1997), o Batatinha, apresentado por Bethânia antes de medley em que encadeou Hora da razão (Batatinha e J. Luna, 1971), Imitação (Batatinha, 1971) e Toalha da saudade (Batatinha e J. Luna, 1971). O entrelaçamento de Lembranças (Raul Sampaio e Benil Santos, 1961) com a recente Minha história (Gesù bambino, Lucio Dalla e Paola Pallottino, 1970, em versão em português de Chico Buarque, 1971) é exemplo da capacidade de Bethânia de ressignificar canções com outro olhar, outro enfoque ou outra costura. Muito se perdeu do show para o disco, mas, ao menos, ambos se encerram da mesma forma. Após saudar o encontro interior abordado em texto inédito de Clarice Lispector, Bethânia segue Movimento dos barcos (Jards Macalé e José Carlos Capinan, 1971). Não, Maria Bethânia nunca ficou no porto lamentando temporais e o curso inexorável da vida. As coisas foram passando e a cantora passou com elas, sempre fiel a si mesma. E, justamente por tamanha fidelidade, há coisas que nunca passam, como este já cinquentenário álbum ao vivo Rosa dos ventos – Show encantado, disco definidor da carreira de Maria Bethânia.
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Produtor musical Liber Gadelha morre vítima de covid-19
Filha do guitarrista, a cantora Luiza Possi confirma em rede social a morte deste artista que, no comando da gravadora Indie Records, lançou Vinny e transformou Jorge Aragão em bom vendedor de disco. Liber Gadelha com a filha, Luiza Possi Reprodução / Instagram Luiza Possi ♪ OBITUÁRIO – É possível que, para gerações mais jovens, Liber Gadelha (25 de janeiro de 1957 – 30 de janeiro de 2021) tenha sido apresentado como o pai da cantora Luiza Possi. Profissionais do mercado fonográfico brasileiro sabem que o guitarrista, produtor musical, compositor e empresário carioca deixa legado mais amplo na música ao morrer vítima de covid-19 neste sábado, 30 de janeiro, cinco dias após completar 64 anos. O artista estava internado há cerca de dois meses em hospital da cidade do Rio de Janeiro (RJ). A morte de Liber Gadelha foi confirmada por Luiza Possi em rede social. “É com uma dor imensa e o coração na mão que eu venho aqui hoje dizer que o Nosso Guerreiro descansou”, comunicou Luiza aos amigos e fãs. Com atuação destacada no meio fonográfico sobretudo quando fundou e geriu a Indie Records, gravadora surgida em 1997, Liber Gadelha fez história no mundo do disco. No comando da Indie Records, Liber lançou Vinny, fez Jorge Aragão se tornar enfim um grande vendedor de discos – após série de álbuns de reduzida visibilidade – e reabilitou Luiz Melodia (1951 – 2017) no mercado fonográfico em 1999, além de ter devolvido a Alcione, a partir de álbum ao vivo editado em 2002, uma popularidade que a cantora parecia já ter perdido definitivamente. Em 2006, no rastro do sucesso comercial de Indie Records, Líber criou a LGK Music, outra companhia fonográfica, na qual investiu no padre cantor Fábio de Melo, até então com visibilidade restrita ao universo cristão. Contudo, a trajetória de Líber – guitarrista diplomado na Berklee College of Music – começara bem antes no mundo do disco. Ao longo dos anos 1980, o produtor musical deu forma a vários álbuns de Zizi Possi, inclusive o cultuado Estrebucha baby (1989). Com Zizi, Liber fez parceria na música – através da qual gerou composições como Brilho louco (1984) e O grande sonho (1986) – e na vida. Do casamento de Liber com Zizi, nasceu em 1984 Luiza Possi, cuja carreira de cantora foi inicialmente conduzida por Liber a partir de 2002. Nove anos antes, em 1991, Liber Gadelha produzira Cedo ou tarde, álbum do soulman Cassiano com duetos com intérpretes do naipe de Djavan, Luiz Melodia e Marisa Monte. Também em 1991, Liber tocou violão e guitarra em Olhos negros, álbum all star de Johnny Alf (1929 – 2010). Entre outros feitos no meio fonográfico, Liber Gadelha foi um dos produtores musicais de Zerima (2014), último álbum de estúdio de Luiz Melodia, de quem Liber foi grande amigo.
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Dia do Quadrinho Nacional: quadrinistas brasileiros explicam produção de HQs em série de vídeos
Com participação de novatos e veteranos, como Mauricio de Sousa, primeiro episódio de série documental fala do processo de criação e da inspirações dos autores. Mauricio de Sousa Lailson dos Santos O Brasil comemora neste sábado (30) o Dia do Quadrinho Nacional em um contexto muito diferente do lançamento da primeira HQ no país, em 1869: hoje, para além das publicações em jornais e revistas, leitores e autores produzem para os meios digitais, com quadrinhos nas telas e oportunidades interativas que não existiam quando a história pioneira "As Aventuras de Nhô-Quim ou Impressões de uma Viagem à Corte", de Angelo Agostini, foi publicada. Essa é uma das discussões levantadas no episódio de estreia da série de documentários "A Importância do Quadrinho Nacional", publicada neste sábado (30) — Dia do Quadrinho Nacional — pela plataforma digital Social Comics. No vídeo, eles comentam também sobre o processos de criação das HQs e as fontes de inspiração ao longo da carreira. Assista AQUI. Entre os participantes da série, está o veterano Mauricio de Sousa, criador da Turma da Mônica e de dezenas de outros personagens; e o novato Cacá Gontijo, de 12 anos, que pretende publicar seu primeiro quadrinho em breve com a plataforma. Alexandre de Maio, um dos quadrinistas participantes da série documental Catraca Livre Portal e Comunicação No primeiro episódio, os quadrinistas ressaltam a necessidade de um roteiro bem amarrado, com boa construção dos personagens e do enredo, para que o leitor não interrompa a leitura no meio da história — algo ainda mais importante em tempos de multitela. "O roteiro é a peça mais importante da história em quadrinhos. Ele que arrasta o leitor, encaminha o leitor para uma situação de interesse e cria expectativa", explica Mauricio de Sousa. Dia do Quadrinho Nacional A data celebra a publicação de "As Aventuras de Nhô-Quim ou Impressões de uma Viagem à Corte", a primeira HQ publicada no país e uma das pioneiras no mundo. As páginas do jornal "A Vida Fluminense" de 30 de janeiro de 1869 mostravam um jovem caipira que viaja do interior de um Brasil ainda predominantemente rural ao Rio de Janeiro da época. VÍDEOS: mais assistidos do G1 nos últimos 7 dias
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Lulu Santos dá outra chance a canções sem ‘sorte’ em disco com a música inédita ‘Os inocentes’
Artista prepara álbum com regravações de composições autorais que considera relevantes, embora menos conhecidas. Lulu Santos em estúdio na gravação do álbum intitulado 'Relux' Reprodução vídeo / Instagram oficial Lulu Santos ♪ Compositor que deu luz e voz a um dos repertórios autorais de maior apelo pop em todo o universo da canção, em âmbito planetário, Lulu Santos tem músicas que, acredita, poderiam ter obtido maior repercussão quando foram lançadas. É o caso de Seu aniversário, composição que o artista apresentou há 14 anos no álbum Longplay (2007). Aproveitando a revisão da obra feita para o songbook Lulu em traço e verso, projeto desenvolvido pelo autor de A cura (1988) com o ilustrador Daniel Kondo, o cantor, compositor e guitarrista carioca está em estúdio para gravar disco com músicas já lançadas em outras eras. Neste disco, intitulado Relux, o artista dá outra chance a essas canções menos visíveis – caso da mencionada Seu aniversário (2007) – e apresenta uma música inédita, Os inocentes. “Tive a sorte de ver muitas de minhas canções se transformarem em grandes sucessos, algumas delas até atemporais. Por outro lado, existe um número delas de que gosto muito e (que) não tiveram, em seu tempo, a mesma sorte. Neste próximo projeto, repesco algumas delas junto com uma inédita, Os Inocentes, e algumas que nunca havia gravado”, explica Lulu Santos em post no Instagram do artista, publicado em 21 de janeiro. O álbum Relux terá a presença de convidados, cujos nomes ainda não foram revelados.
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G1 Ouviu #126 – ‘Amor ou o litrão’: G1 tenta decifrar o hit dançante e caótico de Menor Nico
Podcast vai atrás da origem dos versos indecifráveis do jovem baiano de 14 anos e de sua base formada por um novo emaranhado de brega, arrocha, funk e pagodão. Tem muita coisa misturada em "Amor ou o litrão", mas nenhum instrumento de verdade entra ali. O sucesso segue a receita eletrônica da bregadeira, ritmo que acelera o velho brega com toques de funk, arrocha e pagodão baiano. A música de Menor Nico e Petter Ferraz foi um dos grandes sucessos da virada de 2020 para 2021, mas os dois jovens baianos não são os únicos novos ídolos do estilo. Você pode ouvir o G1 ouviu no G1, no Spotify, no Castbox, no Google Podcasts ou no Apple Podcasts. Assine ou siga o G1 Ouviu para ser avisado sempre que tiver novo episódio no ar. O que são podcasts? Um podcast é como se fosse um programa de rádio, mas não é: em vez de ter uma hora certa para ir ao ar, pode ser ouvido quando e onde a gente quiser. E em vez de sintonizar numa estação de rádio, a gente acha na internet. De graça. Dá para escutar num site, numa plataforma de música ou num aplicativo só de podcast no celular, para ir ouvindo quando a gente preferir: no trânsito, lavando louça, na praia, na academia… Os podcasts podem ser temáticos, contar uma história única, trazer debates ou simplesmente conversas sobre os mais diversos assuntos. É possível ouvir episódios avulsos ou assinar um podcast – de graça – e, assim, ser avisado sempre que um novo episódio for publicado. G1/Divulgação
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Biografia de Tom Zé é convite para imersão na discografia singular do último romântico tropicalista
Capa da edição brasileira da biografia 'Tom Zé – O último tropicalista' Luiza Sigulem com arte de Gustavo Piqueira e Samia Jacintho Resenha de livro Título: Tom Zé – O último tropicalista Autor: Pietro Scaramuzzo Edição: Edições Sesc Cotação: * * * 1/2 ♪ Prefaciada por David Byrne e lançada em outubro de 2019 na Itália, a biografia Tom Zé – O último tropicalista, escrita pelo jornalista italiano Pietro Scaramuzzo, está disponível no Brasil, com outra capa, desde a segunda quinzena de dezembro de 2020, em edição do selo Sesc. Mais do que biografia convencional, feita com o intuito de investigar e contar a vida do artista baiano, o livro tangencia o formato de discobiografia. Scaramuzzo expõe a alma de Tom Zé a partir da análise minuciosa da obra fonográfica do artista. Ao detalhar a gênese de cada álbum, o escritor traça o longevo percurso de Antônio José Santana Martins desde que ele veio ao mundo em 11 de outubro de 1936, na interiorana cidade de Irará (BA). A fonte primária do autor foi a memória do próprio Tom Zé, com quem Scaramuzzo teve conversas telefônicas semanais durante o período de apuração da história. Para efeitos documentais, a parte mais substancial da biografia são os capítulos iniciais que repisam os caminhos de Tom Zé – Toinzé, para os pais de família de boa situação social no círculo de Irará (BA) – até a explosão nacional do compositor em festival de 1968 com a apresentação da música São, São Paulo, meu amor. Nessa parte inicial, o autor perfila Toinzé como menino acanhado, introspectivo, às vezes medroso, um estranho no ninho familiar de Irará (BA), cidade de rígidos códigos morais, como toda localidade do interior. Usando a música como válvula de escape, Tom Zé saiu progressivamente daquele universo social limitado. Primeiramente, através de idas periódicas a Salvador (BA), cidade grande onde estudou e onde – com o incentivo do primo, o produtor musical Roberto Santana – começou a ganhar visibilidade como cantor e compositor em programas da TV local. Depois, a travessia definitiva – a rampa para o sucesso artístico – foi a ida para São Paulo (SP), cidade onde Tom Zé se integrou ao movimento tropicalista, se reunindo com Caetano Veloso, Gilberto Gil e Gal Costa (trio com quem já dividira o palco em 1964 em show em Salvador – BA). Capa da edição original italiana da biografia de Tom Zé Reprodução Com narrativa fluente, escrita com objetividade e sem a pretensão de fazer ensaios sobre a obra de Tom Zé, Pietro Scaramuzzo mostra, disco a disco, como o artista foi seguindo fiel ao ideal tropicalista e à pulsão de sempre apontar caminhos sonoros, derrubar fronteiras, enfim, de criar com liberdade, imune aos vícios da indústria da música. Nessa trajetória, Tom Zé subiu a rampa do fracasso comercial com álbuns que somente seriam valorizados anos depois, sobretudo após David Byrne se deparar casualmente em 1986 com o álbum Estudando o samba (1976) e se encantar com a inventividade do disco, compilando a obra de Tom Zé para CD do selo Luaka Bop e, na sequência, lançando pelo selo álbuns inéditos do artista com The hips of tradition (1991) – o que deu prestígio e visibilidade mundial ao último romântico tropicalista. Antes de começar contar a história de Tom Zé de forma cronológica, Scaramuzzo inicia a narrativa do livro pelo encontro de Byrne com Tom Zé em 1988 na cidade de São Paulo (SP) – conexão que mudou a vida do artista baiano após anos de ostracismo e desânimos abordados de forma superficial pelo autor. Livro indicado para quem se interessa mais pela música do que pela vida privada do artista, Tom Zé – O último tropicalista adentra os labirintos da criação desse compositor que faz música e instrumentos para tocar essa música. Disco a disco, Pietro Scaramuzzo mostra como a centelha da pesquisa e da inventividade sempre impulsionou a obra de Tom Zé, mesmo quando o artista já estava isolado e ignorado na cena brasileira. Nesse contexto, o livro funciona como convite para imersão nessa discografia singular. E, ao fim da leitura, o conceito de fracasso é redimensionado porque a moral da história é que a música é a vida de Tom Zé. E, nesse quesito, é inegável que, atualmente com 84 anos, Antônio José Santana Martins escreveu história de sucesso improvável para quem conheceu o menino arisco que sofreu bullying na infância, mas que driblou os obstáculos sociais e mercadológicos, vivendo de música e para a música.
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Lucas Santtana entra no mar de Dorival Caymmi, em single, enquanto grava álbum em Paris
♪ Enquanto dá continuidade à gravação do nono álbum em Paris, na França, o baiano Lucas Santtana lança single com regravação de A jangada voltou só, canção praieira da lavra do compositor conterrâneo Dorival Caymmi (1914 – 2008). Lançada há 70 anos, em disco editado em 1941, a canção A jangada voltou só tinha sido cogitada por Santtana para entrar no repertório do oitavo álbum do cantor, compositor e violonista, O céu é velho há muito tempo (2019), mas acabou fora do disco apresentado há dois anos. Música ouvida na voz de Santtana na trilha sonora do documentário Dorivando Saravá – O preto que virou mar (2020), A jangada voltou só aporta nos players digitais em gravação de voz e violão, produzida e mixada por Gilberto Monte. Disponível desde 27 de janeiro, o single A jangada voltou só sucede a edição comemorativa de 20 anos do primeiro álbum do artista, Eletro Ben Dodô (2000), reposto no mercado em 18 de dezembro em versão remixada e remasterizada pelo produtor musical Chico Neves. Capa do single 'A jangada voltou só', de Lucas Santtana Reprodução
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Laerte tem alta médica e deixa hospital em SP para continuar tratamento contra Covid-19 em casa
Aos 69 anos, Laerte estava hospitalizada desde 21 de janeiro no Instituto do Coração. Ela deixou o hospital neste domingo (31) 'com progressiva melhora de seu estado clínico', informa comunicado do InCor. A cartunista Laerte Coutinho, de 69 anos, internada para tratar a Covid-19 em São Paulo. Reprodução/Youtube A cartunista Laerte Coutinho, de 69 anos, teve ata médica neste domingo (31) e deixou o Instituto do Coração (InCor), em São Paulo, para continuar em casa o tratamento da Covid-19, segundo o novo boletim médico divulgado neste domingo (31). "Com progressiva melhora de seu estado clínico, a cartunista Laerte Coutinho (69) teve alta hospitalar do InCor (Instituto do Coração do Hospital das Clínicas da FMUSP), às 10h da manhã deste domingo (31/1), para continuidade do tratamento em regime domiciliar", informa nota divulgada pela assessoria de imprensa do hospital. A cartunista está sob cuidados da equipe coordenada pelo médico Carlos Carvalho. Laerte tem alta médica e deixa hospital em São Paulo Internação Laerte estava internada desde o dia 21 de janeiro e, na manhã de terça-feira (26), foi transferida para a UTI (Unidade de Terapia Intensiva) Respiratório do instituto, onde passou por "tratamento medicamentoso e com suporte ventilatório não invasivo, por meio de cateter de alto fluxo", informou o InCor naquela data. Na quarta-feira (27), o InCor divulgou que Laerte continuava na UTI "sob tratamento medicamentoso, associado a suporte ventilatório não invasivo, cateter de oxigênio e fisioterapia respiratória". Na quinta-feira (28), o instituto informou que Laerte havia deixado a UTI após melhora do quadro clínico da cartunista. Ela ficou em tratamento medicamentoso no quarto, com o uso de "cateter de oxigênio e fisioterapia respiratória". Filho Por meio das redes sociais, o quadrinista Rafael Coutinho, filho da cartunista, afirmou na quarta passada que o estado de saúde da cartunista "não é grave, mas requer cuidados mais rigorosos". Coutinho também agradeceu as mensagens de apoio dos amigos e personalidades e pediu energias positivas para a recuperação do pai. "Ela deve ficar por no mínimo mais uma semana lá, e estamos acompanhando dia a dia a evolução, na torcida para que melhore. Agradecemos a todes que mandaram mensagens de apoio e carinho, se disponibilizando a ajudar das formas mais variadas. Obrigada, em nome da Laerte, é muito bonito demais ver o amor de todes pelo meu pai." Neste domingo, Rafael também escreveu nas suas redes sociais sobre a alta do pai: "Estamos indo pra casa! Beijo enorme a todos que mandaram enxurradas de mensagens lindas. Um mais especial a TODA EQUIPE do InCor. O susto maior passou, ela recupera bem, agora é dia a dia melhorar e voltar a boa e velha forma." A cartunista Laerte Coutinho, de 69 anos. Acervo Pessoal Uma das principais cartunistas do país, Laerte divulgou na sexta-feira (22) que testou positivo para a doença. Em seu perfil no Twitter, ela afirmou na ocasião que estava "sob bons cuidados" e que "a evolução [do quadro de saúde] está satisfatória". "Fico grata pelas emanações e preocupações! Vocês, máscaras, mãos lavadas e o possível de isolamento", escreveu ela, que é autora de charges e tirinhas, como "Piratas do Tietê". Initial plugin text , afim"A não ser que ocorra intercorrência importante na evolução da paciente, novo boletim médico será divulgado somente em sua alta hospitalar". VÍDEOS: Tudo sobre SP e Região Metropolitana
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Zezé Di Camargo & Luciano iniciam festejos dos 30 anos de carreira com single ‘1 hora e meia’
Comemorações da dupla sertaneja incluem web-série prevista para abril e cruzeiro programado para novembro. ♪ Faz 30 anos em 2021 que Francisco Camargo (1937 – 2020) gastou todo o salário em fichas para pedir para ouvir a canção É o amor (Zezé Di Camargo, 1991) em rádios de Goiás. A intuitiva estratégia de marketing deu certo. A música estourou e impulsionou a trajetória da então iniciante dupla sertaneja Zezé Di Camargo & Luciano, formada pelos dois filhos de Francisco. Atento à efeméride, Zezé Di Camargo & Luciano iniciam as comemorações dos 30 anos de carreira da dupla com a edição do inédito single 1 hora e meia. Composição de autoria de Danimar, Marco Aurélio e Victor Gregório, 1 hora e meia é modão romântico que chegou aos players digitais na sexta-feira, 29 de janeiro, cerca de dez dias após o single ter sido enviado às rádios em caráter promocional. Ainda dentro das comemorações dos 30 anos de carreira, a dupla Zezé Di Camargo & Luciano programa web-série para abril e cruzeiro para novembro. Capa do single '1 hora e meia', de Zezé Di Camargo & Luciano Reprodução
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Bregadeira: ritmo cresce nas paradas e nos paredões de som com ‘Amor ou litrão’ e outros hits
Estilo surgiu em 2013 como 'resposta baiana' ao funk de SP, com levada local em arranjos eletrônicos. Fenômeno gera novos ídolos, como Menor Nico, e atrai famosos; ouça PODCAST. "Amor ou o litrão" teve só duas opções na gravação: teclado ou computador. A música de Petter Ferraz e Menor Nico dispensa instrumentos orgânicos e segue a receita sintetizada da bregadeira. O estilo surgiu em 2013 na Bahia e comeu pelas beiradas até chegar com força nacional a 2021. Ouça acima a história de "Amor ou o litrão" e os mandamentos da bregadeira no podcast G1 Ouviu. O ritmo é uma versão mais acelerada e dançante do brega, com toques do arrocha, do pagodão baiano e do funk que chegou do Rio e de São Paulo. A bregadeira reforça a onda eletrônica no pop do Nordeste, que inclui a pisadinha, o brega-funk e a arrochadeira. Os ritmos se assemelham no som e na filosofia: produções acessíveis, de estúdios caseiros, com o som reforçado para tocar em "paredões" (caixas que embalam festas de rua). Leia mais: 'Amor ou o Litrão' foi escrita em 10 minutos e gravada após viagem de 4 dias Rosemildo Duarte, conhecido como Boyzinho, O Rei da Bregadeira Divulgação As paradas nacionais estão cheias de novos artistas de bregadeira. Além do "Amor ou o litrão", dos baianos Menor Nico e Petter Ferraz, há nomes como o cearense MC Rogerinho ("Só você"), o potiguar Jeff Costa ("Xerecard") e o paraibano Dodô Pressão ("Resenha"). A levada ficou tão popular que atrai famosos de outros estilos. O sertanejo Zé Felipe, filho de Leonardo, fez "Só tem eu". O funkeiro Kevinho se juntou ao hitmaker do arrocha Tierry em "Bruninha". Até o MC carioca Biel aprendeu a bregadeira com a namorada baiana Tays Reis em "Artigo 157". Artistas de outros terrenos como Zé Felipe, Kevinho, Biel e Tierry já investiram na bregadeira recentemente Divulgação Quem criou a batida e popularizou o nome do estilo, em 2013, foi o baiano Rosemildo Duarte, conhecido como Boyzinho, O Rei da Bregadeira. Ele nasceu em Camaçari, no litoral baiano, mas fez a carreira em Vila do Poço, no interior do estado. A bregadeira era uma resposta ao funk que chegava com força de São Paulo. Boyzinho fazia suas montagens eletrônicas com letras sobre artigos de luxo, assim como os MCs paulistas. Mas a levada era baseada nos ritmos locais do brega, arrocha e pagodão (também conhecido como swuingueira). "Em 2012 eu comecei a ouvir funk ostentação. Entendi que o jovem estava muito nessa onda. Mas se eu cantasse na mesma batida de lá, ia ser só mais um. Resolvi criar um ritmo novo com essa linguagem funk, mas com a batida da Bahia", descreve o músico de 33 anos. "Na minha visão, a bregadeira é o funk da Bahia. Assim como o funk de Pernambuco é o brega-funk", compara Boyzinho. Outro pioneiro do ritmo foi grupo Turma da Bregadeira, de Itambé (BA), que lançou o primeiro álbum em 2014. "Era um disco focado para o paredão. Até hoje a gente cria as nossas músicas para tocar melhor no paredão", define DJ Boy, da Turma da Bregadeira. "Na época a gente popularizava as músicas no Nordeste, aí ia o Xand Avião, o Wesley, gravavam com banda, e estouravam elas no Brasil. O Gabriel Diniz era um grande fã de bregadeira, fazia stories curtindo", ele lembra. "O que está acontecendo agora, é que os próprios artistas do estilo estão estourando nacionalmente, e o Brasil todo está curtindo a bregadeira", diz o DJ Boy. Da esquerda: Rick Souza, Igor Menezes e DJ Boy, do grupo baiano Turma da Bregadeira, que lançou um dos primeiros álbuns do estilo, em 2014 Divulgação Bregadeira ou arrochadeira? A batida da bregadeira é bem semelhante à de outro ritmo que estava se popularizando havia alguns anos na Bahia: a arrochadeira. Dá para dizer que os dois estilos são irmãos, como versões sintetizadas do requebrado baiano. Mas enquanto os grupos de arrochadeira ainda se apresentavam com percussões orgânicas, a bregadeira puxava mais ainda para o funk e não tinha tambor físico nas suas formações. A arrochadeira começou com "Piriri popom", de Dan Ventura, em 2006. Foi um sucesso do carnaval de Salvador, que inspirou Ivete Sangalo a fazer versões ao vivo incorporando a personagem "Piriguete Sangalo". Dan Ventura formou depois o grupo Bonde do Maluco, que continuou a dar uma cara mais dançante e eletrônica ao arrocha, e até hoje é referência para músicos de arrochadeira e bregadeira. O sertanejo Zé Felipe contou ao G1 que os versos românticos com vocal falado do seu novo hit "Só tem eu" foram inspirados em "Não Vale Mais Chorar Por Ele", sucesso do Bonde do Maluco que era uma versão de "Don't matter", do americano Akon. O produtor de "Só tem eu", Rafinha RSQ, bastante requisitado no pop atual, também deu a sua receita de bregadeira e disse sobre a faixa: "Ela conversa muito com o povo. O povo periférico, especificamente onde tem muito paredão". A primeira festa do "BBB21" teve um de seus momentos mais animados ao som "Cabaré", sucesso do baiano Nego Jhá, que se define como artista de arrochadeira. Ele comemorou o feito no Instagram, e agradeceu a Deus. Initial plugin text A primeira festa do "BBB21" teve um de seus momentos mais animados ao som "Cabaré", sucesso do baiano Nego Jhá, que se define como artista de arrochadeira. O baiano comemorou o feito no Instagram . Expansão paulista da bregadeira O criador da bregadeira vê um momento fértil para o ritmo e o seu modo de produção. Para aumentar o diálogo com o funk, Boyzinho está se mudando para São Paulo. "Se você ouvir as 10 músicas mais tocadas no Brasil hoje, metade é produzida 'home studio' com teclado. As pessoas estão começando a entender, ainda mais numa época de pandemia, que é mais viável com teclado. E o púbico está respondendo", diz Boyzinho, o Rei da Bregadeira. "Abri um estúdio dentro da favela de Paraisópolis, no lugar onde rola o Baile da 17. A tribo se conversa muito e entende essa linguagem, então a ideia é unir, fazer parcerias com os DJs e MCs de SP", ele conta. O produtor de "Amor ou o litrão", Petter Ferraz, contou ao G1 que já trabalhava em uma agência de São Paulo, a KMais, na Zona Sul da cidade, quando concebeu o sucesso. A ponte para a expansão da bregadeira baiana no território do funk paulista, então, só aumenta. O maior sucesso do pioneiro da bregadeira foi "Trip do boyzinho", de 2018, que inclui a batida eletrônica global do psy trance. Ela usa um trecho da música "Malemolência", da cantora paulistana Céu. O músico baiano conta que tentou conversar com Céu após o sucesso, mas não teve resposta. O único contato foi feito por empresários, para exigir 10% dos direitos autorais de "Trip do boyzinho" para a cantora, que foram concedidos, segundo Boyzinho. "Sempre chamei ela por Instagram, mandei vários 'directs', dizendo que era fã, muitos mesmo, mas nunca fui respondido. Foi só esse contato de empresários pelos direitos, mesmo", ele lamenta. Mas o bom momento da bregadeira e as parcerias com o funk de SP dão esperança a ele de, um dia, receber um sinal da Céu e expandir a colaboração para a MPB: "A minha vontade era lançar uma música do zero com ela. Porque foi uma ótima combinação."
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