♪ Composta por Caetano Veloso para o musical de teatro Miss Banana (1986), estrelado pela atriz Regina Duarte há 35 anos, a música Porteira jamais foi gravada em disco pelo autor. Até o cantor cearense Marco Forte regravar Porteira no álbum Marco (Nova Estação, 2020) – recém-disponibilizado nas plataformas de áudio e com edição em CD prevista para julho deste ano de 2021 – havia somente uma abordagem da composição em disco, feita pela atriz e cantora Tânia Alves no álbum Dona de mim (1986). Descendente de família de pianistas, Marco Forte é também ator e debuta como cantor no mercado fonográfico aos recém-completados 48 anos. Gravado em 2018 em estúdio da cidade de São Paulo (SP), com produção musical e arranjos do guitarrista Rovilson Pascoal, Marco é o primeiro álbum do artista. Além de produzir e arranjar o disco, o multi-instrumentista Rovilson Pascoal mixou e masterizou o álbum na primavera de 2020, dois anos após a gravação. No tom minimalista de arranjos geralmente calcados em instrumentos de cordas como o violão e o violoncelo, Marco Forte dá voz suave a um repertório garimpado com ousadia. Além de Porteira, há em Marco músicas até então esquecidas como Caso de polícia, bolero da lavra de Moraes Moreira (1947 – 2020) lançado por Maria Bethânia no álbum A beira e o mar (1984) e, até então, nunca regravado. No registro de Marco, o toque do bongô de Nahame Casseb dá o devido ritmo abolerado a Caso de polícia. Editado de forma independente, com capa que expõe o cantor nos traços da aquarela do artista plástico Romulo Guina, o álbum Marco conduz o intérprete por um Brasil antigo – então pautado pela sofisticação da MPB – ao longo de dez regravações. Embora traga no repertório um samba do pioneiro compositor Noel Rosa (1910 – 1937), Pela décima vez (1935), o álbum Marco ecoa modernidades atemporais da geração de compositores e intérpretes projetados ao longo dos anos 1960. O cantor dá voz a Paulinho da Viola (Nada de novo, samba de 1970), pega Febril (1985) de Gilberto Gil, cai no samba de Chico Buarque – Novo amor (1982), apresentado por Clara Nunes (1942 – 1983) no álbum Nação (1982) e revivido por Marco na cadência do cavaquinho tocado pelo multifuncional Rovilson Pascoal – e celebra Nana Caymmi através de gravações de músicas como Depois do Natal (João Donato, Lysias Ênio e Jonas Mello, 1965). Cantora idolatrada por Marco, Nana gravou Depois do Natal em 1979, anos antes de registrar o mencionado samba Novo amor no álbum Alma serena (1996) e de espalhar Cantiga do vento (Sueli Costa e Luiz Sergio Henriques) em Amor blue (2007), disco da amiga compositora Sueli Costa. A origem nordestina de Marco Forte – cantor nascido e criado em Fortaleza (CE) – reverbera na cadência forrozeira de Você e tu (Gereba e Tuzé de Abreu, 2000) e na opção por abrir o álbum Marco com Inclinações musicais (Geraldo Azevedo e Renato Rocha, 1981), música que batizou LP lançado pelo pernambucano Geraldo Azevedo há 40 anos. Marco, em essência, é álbum que expõe as inclinações musicais de Marco Forte em afetivo recorte autoral.