As cordas excedentes do arranjo do single empanam o brilho da gravação do álbum em que cantora revisita o próprio repertório com elenco masculino. Capa do single 'Coração vagabundo', de Gal Costa com Rubel Divulgação Resenha de single Título: Coração vagabundo Artistas: Gal Costa e Rubel Compositor: Caetano Veloso Edição: Biscoito Fino Cotação: * * * 1/2 ♪ Na madrugada de 2 de fevereiro, Gal Costa se apresentava na Fundição Progresso, caloroso palco da cidade do Rio de Janeiro (RJ), quando recebeu Rubel como convidado do show A pele do futuro. A intervenção do artista fluminense gerou dois duetos feitos pelos cantores no formato de voz e violão. Com Rubel, Gal reviveu Baby (1968) e Coração vagabundo (1967), duas canções de autoria de Caetano Veloso. Captado ao vivo, o dueto de Gal e Rubel em Baby gerou em 31 de julho single banal que pareceu servir somente ao currículo do cantor, sem nada acrescentar à discografia de Gal. Já Coração vagabundo bate outra vez em inédito dueto gravado em estúdio, de forma remota, para ser uma das dez faixas do álbum que será lançado em LP e CD, em fevereiro, com regravações do repertório de Gal. Sob a direção artística de Marcus Preto, a cantora revisita músicas da discografia em duetos com elenco masculino que, além de Rubel, inclui António Zambujo, Criolo, Jorge Drexler (em Negro amor), Rodrigo Amarante (em Avarandado), Seu Jorge (em Juventude transviada), Silva, Tim Bernardes, Zé Ibarra (em Meu bem, meu mal) e Zeca Veloso (em Nenhuma dor). Programado pela gravadora Biscoito Fino na sexta-feira, 18 de dezembro, juntamente com a gravação de Negro amor com Jorge Drexler, o single Coração vagabundo resulta menos imponente no conjunto das seis faixas já reveladas. Canção que abriu o LP Domingo, álbum de 1967 assinado pela estreante Gal com o também debutante Caetano, Coração vagabundo é, no registro original, flash da Gracinha que tinha João Gilberto (1931 – 2019) como norte do canto então íntimo. Com Rubel, Gal faz Coração vagabundo bater reverente a Caetano, ele próprio um discípulo fiel de João. Em nota da gravadora Biscoito Fino sobre o single, no qual canta e toca violão, Rubel enfatiza que procurou ser fiel à estética minimalista do álbum Domingo e ao “violão joãogilbertiano” de Caetano. Rubel, cuja voz é ouvida quando a gravação contabiliza quase um minuto e meio, fez bem a parte que lhe coube na faixa. O descompasso de Coração vagabundo na releitura do álbum provisoriamente intitulado Gal 75 – em alusão ao fato de o disco ter sido idealizado para celebrar os 75 anos completados por Gal em 26 de setembro – é provocado pelas cordas excedentes, orquestradas e tocadas por Felipe Pacheco Ventura, produtor do fonograma ao lado de Rubel. Ventura poderia ter sido mais fiel à estética minimalista do álbum Domingo, produzido por Dori Caymmi, mestre dos arranjos de cordas (função que Dori dividiu no disco com Francis Hime). As violas, violinos e violoncelos – estes a cargo de Marcus Ribeiro – soam quase invasivas no arranjo, atenuando o brilho do single Coração vagabundo.