Levantamento da FGV mostra que, até outubro, setor registrou expansão do faturamento nas cinco regiões, mas valor exportado recuou no Sul e no Nordeste. Mesmo com a crise provocada pela pandemia do coronavírus, a agropecuária conseguiu ter um bom desempenho na maioria das regiões do Brasil, de acordo com um estudo da Escola de Economia de São Paulo da Fundação Getulio Vargas (EESP-FGV) sobre os impactos da Covid-19 sobre o setor. PIB do agronegócio deve fechar 2020 em alta Em todas as cinco regiões, o Valor Bruto da Produção Agropecuária (VBP, faturamento) registrou crescimento entre janeiro e outubro de 2020, em relação a iguais meses de 2019. Porém, houve queda nas exportações do Nordeste e do Sul. Nesta última, a forte seca comprometeu a produção agrícola e pecuária dos três estados da região. Veja a seguir as principais conclusões do estudo: Sudeste O relatório da FGV mostra que a agropecuária do Sudeste "atravessou a crise do coronavírus com grande fôlego". Entre janeiro e outubro deste ano, o faturamento do setor na região cresceu 14,9%, contra igual período de 2019, enquanto o valor das exportações expandiu 9,4% O destaque ficou com a ampliação do abate de suínos e frangos (6,3% e 4,2%, respectivamente) e no volume de leite adquirido (1,2%). Já a tomada de crédito agrícola cresceu 7,5%, diante da expectativa de um aumento de 1,6% na safra de grãos 2020/2021. "Mesmo com a alta do dólar, a aquisição de insumos e investimentos para a próxima safra não foram comprometidos", afirma o estudo. "Tudo isso indica que, mesmo durante a pandemia, o agronegócio na região tem se mostrado não só resiliente como também prosperado, com safras e receitas recordes. Essa resiliência é equivalente em cada um dos estados que integram a região", acrescenta. Norte Fazenda Rancho Fundo no nordeste do Pará, estado que avança cada vez mais na produção de carne bovina Divulgação O Norte também passou pela crise com um bom desempenho. O valor de produção do agro na região aumentou 17,4% até outubro de 2020, enquanto a expansão nas exportações foi de 20,3%. Já a tomada de crédito agrícola cresceu 20%, com expectativa de alta de 2,6% na safra de grãos 2020/2021. No conjunto, a região responde por cerca de 4,5% da produção de grãos do país, 20,3% dos abates de bovinos, e cerca de 10,6% do volume de leite captado. O estudo afirma ainda que, nos últimos 20 anos, o agronegócio do Norte tem migrado de uma economia “florestal” para uma economia “agropecuária”. "No Acre, por exemplo, o setor florestal respondia por quase 100% das exportações do estado até 2004, e hoje praticamente sumiu. No Amapá, o setor florestal ainda é hegemônico, mas irrisório em escala", afirma. "No Amazonas, a agricultura encolheu – mas a economia florestal também – ao mesmo tempo que a participação da soja cresce na balança de exportações. O Pará cada vez mais avança na produção de carne bovina e soja, padrão também seguido por Rondônia" Até um quinto das exportações de soja e carne da Amazônia e do Cerrado para UE têm rastros de desmatamento ilegal, diz estudo Centro-Oeste Produção de soja em MT Divulgação Região que responde por cerca de 48% da produção de grãos do país, o Centro-Oeste se superou e bateu recordes em valor da produção e exportação, mesmo frente à crise do coronavírus. Houve crescimento de 25% no VBP da agropecuária e de 11,5% no valor das exportações da região. E também alta de 8,9% na tomada de crédito agrícola com expectativa de crescimento de 1,5% na safra de grãos. Governo prevê nova safra recorde de grãos, mas estima queda na produção de arroz e feijão "O Centro-Oeste se consolidou, nas últimas duas décadas, como principal celeiro agrícola do país. A escala da produção e da produtividade na região crescem continuamente, ao mesmo tempo que o uso da terra caiu", afirma o estudo. Nordeste Em 2020, a região atravessou a crise do coronavírus de forma desigual, diz a FGV. Em alguns estados, o valor da exportação do agronegócio cresceu em 2020, como em Pernambuco e Alagoas. Em outros, como a Paraíba, ficou estável. Já no Rio Grande do Norte, em Sergipe e no Ceará, a receita das exportações teve uma forte queda. No total, houve crescimento de 16,0% no faturamento da agropecuária e queda de 0,3% no valor das exportações. Foi registrada ainda uma alta de 10,7% na tomada de crédito agrícola com expectativa de queda de 4,3% na safra de grãos. Trabalhadores do raleio de uva em Petrolina (PE). Nordeste se destaca na produção de frutas do Brasil Reprodução/ TV Grande Rio O estudo mostra ainda que há dois tipos de agronegócio no Nordeste. O agronegócio litorâneo, centrado na zona da mata, e o agronegócio interiorano, centrado no sertão e na costa cearense. "O agronegócio litorâneo caracteriza-se por um perfil de monocultura intensa voltada à exportação e concentrada no setor sucroalcooleiro, especialmente em estados como Alagoas e Pernambuco", afirma. "Já o agronegócio interiorano é marcado pelas secas e estiagens que afetam a região, sendo tradicionalmente dominado pela agricultura familiar de pequeno porte". Nova geração da agricultura familiar encara dificuldades para continuar missão dos pais Sul A agropecuária do Sul, por sua vez, teve bastante dificuldade, principalmente porque, além do cenário de isolamento social, a região passou por uma das maiores estiagens da história, comprometendo a produção agrícola e pecuária. Seca prejudica agricultura e pecuária de Santa Catarina Até outubro, houve crescimento de 11,1% no VBP da agropecuária e queda de 4,0% no valor das exportações. E também alta de 8,7% na tomada de crédito agrícola com expectativa de crescimento de 12,5% na safra de grãos 2020/2021. 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