Coletivo Covil do Flow, que mistura hip hop ao funk do Rio, conta com histórias de superação semelhantes a de outros jovens de comunidades. Eles tentam fazer um som festivo, mas sem perder a crítica. Coletivo Covil do Flow, da Rocinha Divulgação/ Covil do Flow O Covil do Flow, coletivo de artistas sediado na Rocinha que conta com moradores da comunidade, de São Gonçalo, do Leme e do Vidigal, tenta mostrar um lado mais positivo da juventude das favelas do Rio. Com histórias semelhantes a de outros jovens, como o trabalho desde cedo com baixos salários, problemas de saúde na família, paternidade precoce e luta para sobreviver da arte, tentam mostrar que a favela sofre, mas também se diverte. Fundado em 2013, o grupo assinou contrato com uma gravadora ano passado, tendo a oportunidade de se dedicar mais à música. A chance veio após chamarem a atenção dos donos da empresa, o baterista inglês Zak Starkey, filho de Ringo Star e que já tocou com Oasis e The Who, e a cantora e produtora australiana Sharna Sshh Liguz. Os dois foram até a comunidade para ver, pessoalmente, o trabalho do grupo. O Covil do Flow é o primeiro nome da gravadora Trojan Brasil e lançou, nesta terça (15), o clipe e a música “Se ela Joga”. “É um som em uma pegada mais comercial. Mais para pista de dança, de uma vibe festiva. A gente fala um pouco da cultura da favela e tudo mais mas nessa vibe do funk”, contou Victor Vergeti, o Ami$h. Nascido com uma sonoridade mais crítica, o grupo ao longo do tempo resolveu que era hora de também mostrar que a vida é difícil, mas tem momentos de prazer. “Nos pintam de uma maneira mais agressiva. E é bom mostrar que também tem alegria e vai muito além do que aparece na TV. Tem muito mais paz do que parece”, explicou o Ami$h, um dos líderes do grupo. Ele afirma que, com o tempo e a experiência, os ânimos ficaram mais calmos. “A gente tinha uma revolta muito grande quando a gente se conheceu. Hoje em dia a gente está mais em paz”, afirmou. Desafios cotidianos As histórias dos integrantes contam com diversos desafios, que aparecem de alguma forma nas músicas. Poder trabalhar com o que gostam é algo que, até então, parecia um sonho. Ami$h costuma dizer que a arte o salvou. Ator e produtor cultural, ficou sem trabalho e chegou a ser contaminado durante a pandemia da Covid-19. “Minha mãe também ficou internada por 18 dias e graças a Deus se recuperou. Para quem nasce em subúrbio ou favela, se superar é rotina”, contou. Para Josinaldo Galdino, o Nalk, o desafio é tentar ser um bom pai, mesmo sendo jovem. “Em meio às dificuldades em casa, emprego com salário mínimo e vários amigos no crime, ter um filho sem muitas oportunidades foi um divisor de águas. Quase peguei o caminho mais fácil. Mas tive força e consegui me reerguer. Hoje meu filho está bem e saudável e posso correr atrás do meu sonho com a cabeça tranquila”, contou. Para Victor Oliveira, o VT, a música representa uma estabilidade numa vida que sempre o obrigou a não fixar raízes. “Infelizmente, perdi meu pai muito cedo. E desde então foi só eu e minha mãe. Sempre trabalhei desde cedo e fui homem na casa. Devido às dificuldades, sempre nos mudamos de lugar. Várias casas diferentes. Sempre foi difícil pra mim criar raízes em qualquer lugar. Por isso hoje em dia poder fazer o que gosto e ainda com os meu amigos é muito importante. Sinto que me superei e me tornei mais forte”, explicou Victor Oliveira, o VT. Ami$h resume o sentimento de tentar representar um pouco dos jovens que lutam melhor nas comunidades do Rio. “O que nos uniu foi, além da paixão pela arte, todos estarem na mesma sintonia de querer mudar a vida das pessoas e mostrar que existe um caminho além do subemprego, do crime, seja lá o que for”, concluiu. VÍDEOS: Os mais vistos do Rio nos últimos 7 dias