
Cantora interpreta músicas de Adriana Calcanhotto, Belchior, Dalto, David Bowie, Roberto Carlos e Zélia Duncan. Cida Moreira celebra o 69º aniversário em show transmitido em 27 de novembro Reprodução / Vídeo Resenha de show transmitido online Título: Cida Moreira – 69 anos Artista: Cida Moreira Data: 27 de novembro, às 20h Local: casa da artista, em São Paulo (SP) Cotação: * * * * ♪ “Não é mole… (fazer) 69 anos… Mas seguimos”, ponderou Cida Moreira ao fim do show inédito com que celebrou a idade a que chegou em 12 de novembro. São 69 anos de vida pautada pela música densa que abastece a alma da dama do cabaré. É essa alma que garante a interpretação robusta da cantora e que se sobrepõe à voz ora mais opulenta, ora mais desgastada pelos efeitos do tempo. Espanando a poeira desse tempo, Cida Moreira deu voz a repertório inteiramente inédito na voz da cantora em show transmitido por plataforma de vídeo na noite de sexta-feira, 27 de novembro, para quem comprou ingresso. “Nada do que fiz / Por mais feliz / Está à altura / Do que há por fazer”, vislumbrou a artista, ao dar voz aos versos do poeta Antonio Cicero na letra de Sem medo nem esperança (2015), parceria de Cicero com Arthur Nogueira. Literalmente em casa, acompanhando-se ao piano, mas com o toque dos músicos Omar Campos (ao violão) e Yuri Salvagnini (no acordeom e eventualmente no piano), Cida pareceu justificar os versos do poeta quando encerrou o show no tom vigoroso de Pequeno mapa do tempo (Belchior, 1977), sugestão para o roteiro feita pelo DJ Zé Pedro, mentor do show. Para quem acompanha a trajetória da cantora revelada no alvorecer da década de 1980, o roteiro foi caixa de boas surpresas. A começar por Abolerado blues (Nei Lisboa, 1984), composição que batizou o segundo álbum da artista sem ter feito parte do LP lançado em 1983. Em trilho aberto por O trenzinho do caipira (Heitor Villa-Lobos, 1930, com letra de Ferreira Gullar, 1978), em registro inicialmente instrumental, Cida saboreou a doçura de Pelo sabor do gesto (As-tu déjà aimé?, Alex Beaupain, 2007, em versão em português de Zélia Duncan, 2009), reacendeu a ressaca existencial de música pouco badalada da obra de Sérgio Sampaio (1947 – 1994) – A luz e a semente, do álbum Tem que acontecer (1976) – e transformou em tango a angustiada canção que ganhou de Adriana Calcanhotto em 1984, Mortaes, mas que seria efetivamente lançada em disco pela autora no errático álbum Enguiço (1990). Com exceção de Mortaes, nenhuma música do roteiro foi feita para Cida. Mas pareceu que todas eram talhadas para a intérprete, hábil na exposição da sensibilidade melancólica de Não há cabeça (1979), música que apresentou Angela Ro Ro ao Brasil na voz de Marina Lima. Entre o brilho e o gás do blues Billie Holiday (1984), esquecida composição de Dalto, Cida deu voz a uma das últimas grandes canções de Roberto Carlos e Erasmo Carlos – Do fundo do meu coração (1986), reavivada na voz atenta de Calcanhotto – e alcançou picos de beleza ao interpretar Caetano Veloso e David Bowie. Do compositor inglês, Cida expôs a inspiração melódica de Life on mars? (1971), lendo a letra em inglês sem prejuízo da interpretação. De Caetano, Cida dá voz aos versos em português de Que não se vê, canção-bilíngue. Lançada por Caetano no álbum Omaggio a Federico e Giulietta (1999), Que não se vê é versão em português da canção italiana Come tu me vuoi, feita pelo compositor Nino Rota (1911 – 1979) – com letra de T. Amurri – para a trilha sonora do filme La dolce vita (1960). Executado com o típico toque de piano de cabaré, medley com duas parcerias de Chico Buarque com Ruy Guerra – Fortaleza e Fado tropical, ambas compostas para a trilha sonora da censurada peça Calabar – O elogio da traição (1973) – completam o roteiro deste show em que Cida Moreira mapeou 69 anos de vida e música no tempo de transmissão de precisos 54 minutos. Cida Moreira interpreta 15 músicas em show transmitido por plataforma de vídeo Reprodução / Vídeo ♪ Eis o roteiro seguido em 27 de novembro de 2020 por Cida Moreira em inédito show transmitido por plataforma de vídeo: 1. O trenzinho do caipira (Heitor Villa-Lobos, 1930, com letra de Ferreira Gullar, 1978) 2. Abolerado blues (Nei Lisboa, 1984) 3. Pelo sabor do gesto (As-tu déjà aimé?, Alex Beaupain, 2007, em versão em português de Zélia Duncan, 2009) 4. Mortaes (Adriana Calcanhotto, 1990) 5. A luz e a semente (Sérgio Sampaio, 1976) 6. Não há cabeça (Angela Ro Ro, 1979) 7. Billie Holiday (Dalto, 1984) 8. I loves you, Porgy (George Gershwin, 1928) 9. Do fundo do meu coração (Roberto Carlos e Erasmo Carlos, 1986) 10. Sem medo nem esperança (Arthur Nogueira e Antonio Cicero, 2015) 11. Life on mars? (David Bowie, 1971) 12. Que não se vê (Come tu me vuoi, Nino Rota e T. Amurri, 1960, em versão em português de Caetano Veloso, 1999) 13. Fortaleza (Chico Buarque e Ruy Guerra, 1973) / 14. Fado tropical (Chico Buarque e Ruy Guerra, 1973) 15. Pequeno mapa do tempo (Belchior, 1977)