Orlando Silva, cantor que popularizou 'A última estrofe' em 1935, três anos após a gravação original de Fernando de Castro Barbosa Reprodução ♪ MÚSICAS PARA DESCOBRIR EM CASA – A última estrofe (Cândido das Neves, 1932) com Orlando Silva em gravação de 1935 ♪ Lançar uma grande música em disco – ou mesmo em show – é proeza que confere prestígio a um cantor. No entanto, a primazia nem sempre garante a um intérprete o status de ficar associado à música que lançou. Valsa-canção de tom seresteiro, de autoria do compositor carioca Cândido das Neves (24 de julho de 1899 – 4 de novembro de 1934), conhecido pelo apelido de Índio, A última estrofe surgiu em 1932 na voz do cantor Fernando de Castro Barbosa. Feita por esse efêmero cantor com o acompanhamento da Orquestra de Concertos Columbia, a gravação original de A última estrofe foi apresentada em disco de 78 rotações por minuto editado pela gravadora Columbia. A pouca repercussão do registro original poderia ter relegado A última estrofe a um injusto anonimato se, três anos depois, a valsa-canção não tivesse sido revivida e popularizada na voz lapidar do então iniciante cantor carioca Orlando Silva (3 de outubro de 1915 – 7 de agosto de 1978). Na gravação apresentada em disco de 78 rotações de número 33975, editado em 1935 pela gravadora RCA-Victor, Orlando deu o devido valor à música, cuja letra ostenta os versos parnasianos típicos das composições de Cândido “Índio” das Neves, escritos em sintonia com a bela melodia. A regravação de A última estrofe em 1935 ajudou a consolidar o reinado do então novato Orlando Silva – iniciado naquele ano de 1935 e em vigor até 1942 – e serviu de referência para registros posteriores da composição. Sucessor de Orlando, o cantor Nelson Gonçalves (1919 – 2018) regravou A última estrofe em 1946. Decorridos 33 anos, Jair Rodrigues (1939 – 2014) reviveu a música em gravação para o álbum Antologia da seresta (1979). Primeira cantora a abordar a música, até então propagada somente em vozes masculinas, Gal Costa apresentou memorável registro de A última estrofe no álbum Gal de tantos amores (2001). Feita com vigor vocal e alto teor emocional, a gravação da cantora foi injustamente ignorada por ter sido lançada no disco mais equivocado da carreira de Gal. Ainda assim, a faixa serviu para mostrar a beleza vintage de A última estrofe para os seguidores mais atentos da cantora. ♪ Ficha técnica da Música para descobrir em casa 29 : Título: A última estrofe Compositor: Cândido das Neves Intérprete original: Fernando Castro Barbosa Álbum da gravação original: Disco de 78 rotações por minuto – Columbia nº de catálogo 22.125-B Ano da gravação original: 1932 Regravações que merecem menções: a de Orlando Silva em disco de 78 RPM editado em 1935, a de Nelson Gonçalves em disco de 78 RPM lançado em 1946, a de Jair Rodrigues no álbum Antologia da seresta (1979) e de Gal Costa no álbum De tantos amores (2001). ♪ Eis a letra da música A última estrofe : “A noite estava assim enluarada Quando a voz já bem cansada Eu ouvi de um trovador Nos versas que vibravam de harmonia Ele em lágrimas dizia Da saudade de um amor Falava de um beijo apaixonado De um amor desesperado Que tão cedo teve fim E desses gritos de tormento Eu guardei no pensamento Uma estrofe que era assim: Lua… Vinha perto a madrugada Quando em ânsias minha amada Nos meus braços desmaiou E o beijo do pecado O teu véu estrelejado A luzir glorificou Lua… Hoje eu vivo sem carinho Ao relento, tão sozinho Na esperança mais atroz De que cantando em noite linda Essa ingrata volte ainda Escutando a minha voz A estrofe derradeira, merencória Revelava toda a história De um amor que se perdeu E a lua que rondava a natureza Solidária com a tristeza Entre as nuvens se escondeu Cantor, que assim falas à lua Minha história é igual à tua Meu amor também fugiu Disse eu em ais convulsos E ele então, entre soluços Toda a estrofe repetiu”