♪ MEMÓRIA – Coube ao pesquisador musical Rodrigo Faour lembrar em rede social nesta quinta-feira, 10 de setembro de 2020, um fato que o Brasil que pareceu ter esquecido: Leny Eversong (1920 – 1984) existiu! Entusiasta de vozes potentes e grandiloquentes como a de Eversong, Faour é o produtor de três das quatro coletâneas editadas em CD, entre 2002 e 2012, com gravações da fase áurea dessa cantora paulista, nascida em Santos (SP) há exatos 100 anos. Sim, Leny Eversong veio ao mundo como Hilda Campos Soares da Silva em 10 de setembro de 1920 – e não em 1º de setembro, como consta erroneamente em sites sobre a artista. Ao morrer em 29 de abril de 1984, na cidade de São Paulo (SP), Leny já estava esquecida. Talvez porque tenha se afastado paulatinamente da carreira a partir do início dos anos 1970 por questões pessoais. Intérprete poliglota, Leny Eversong deu voz volumosa a repertório predominantemente cantado em inglês, mas que incluiu temas em espanhol, francês, italiano e, sim, português. Egressa das emissoras de rádio e dos cassinos, a cantora gravou discos regularmente ao longo das década de 1940 e 1950. Esta fase áurea da discografia é composta por singles de 78 rotações por minutos, editados entre 1942 e 1961. As quatro coletâneas da artista editadas em CD – A voz poderosa de Leny Eversong (2002), A grande Leny Eversong (esta produzida em 2004 por Leon Barg, do selo curitibano Revivendo), Grandes vozes (série de compilações lançadas 2007) e Super divas (série de 2012) – oferecem ótimas amostras da potência vocal da cantora. Pela fluência com que cantava em inglês, sem qualquer sotaque que poderia ter evocado a origem brasileira, Leny cumpriu bem-sucedidas temporadas nos Estados Unidos, na Europa e em vários países da América Latina. No Brasil, o estilo peculiar de interpretação de Leny Eversong – eternizado em gravações com proeminentes arranjos orquestrais – expunha a técnica à frente da emoção e fazia com que a cantora soasse estrangeira no próprio país, mais receptivo para vozes sentimentais. O que fez com que Leny jamais tivesse obtido a coroação popular das rainhas da era do rádio, mesmo tendo gravado numerosos sambas e sambas-canção em discografia que inclui álbuns como A voz de Leny Eversong (1956), Leny Eversong na América do Norte (1957), Leny em foco (1957) e Ritmo alucinante (1958). Embora associada a um tempo específico da música, os anos 1940 e 1950, a voz farta de Leny Eversong esbanjava afinação que, por si só, garante à cantora um lugar singular na história da música brasileira – o que torna ainda mais injusto o esquecimento do centenário de nascimento da artista pelo Brasil.