Banda inglesa lança 'What you gonna do' com Graham Coxon, guitarrista do Blur. Ao G1, vocalista Dan Smith relembra 10 anos de carreira com hits como 'Pompeii' e 'Happier'. Bastille lança 'What you gonna do' com Graham Coxon, guitarrista do Blur A banda por trás de hits do britpop dançante como "Pompeii" (2012) e "Happier" (2018) está diferente. Muito diferente. A recém-lançada "What you gonna do" é, nas palavras do vocalista Dan Smith, "pesada e direta". "A gente não está tentando fazer 'Happier parte 2' ou 'Pompeii parte 3', sabe? A gente só quer se divertir e curtir o processo. Quem sabe o que é um hit, enfim?", pergunta Dan ao G1, em entrevista por Zoom direto do apartamento dele em Londres (veja no vídeo acima). Em busca desse peso, o quarteto foi atrás de Graham Coxon, guitarrista do Blur. "Eu era adolescente e ouvi 'Song 2', pensando que resumia tudo, com aquela agitação, aquela energia, o barulho", recorda. Após três álbuns e quatro mixtapes, o cantor londrino de 34 anos também relembrou os quase dez anos de carreira. O Bastille é conhecido por nunca se levar tão a sério, topando ir bem além do indie rock do início em pubs. É "uma banda estranha" com "músicas esquisitas e variadas", define ele. "Eu nunca quis estar em uma banda de rock, eu nunca quis ser famoso. Então, a ideia de ser misterioso, ou tentar ser algo que eu não sou… ou tentar ser esse rockstar clichê, pra mim isso é uma besteira, acho hilário, parece cafona." A banda inglesa Bastille, com Dan Smith em destaque Divulgação/Universal Leia a entrevista abaixo e veja trechos no vídeo acima. G1 – Essa é a música mais direta, mais afiada da banda. Era isso que vocês queriam com ela? Dan Smith – A gente queria que fosse barulhenta e meio como uma zoeira mesmo, e um pouco boba. Eu acho que a nossa ideia é que no momento em que apertarem o play nas nossas novas músicas, as pessoas não pensem que é o Bastille. A gente não está tentando fazer "Happier parte 2" ou "Pompeii parte 3", sabe? A gente só quer se divertir e curtir o processo. "Quem sabe o que é um hit, enfim? Eu tenho certeza de que quando a gente tocou 'Pompeii', muita gente ficou assim 'O que é isso? Isso é esquisito'." Quero ter certeza de que, no ano que vem, tudo o que a gente lançar seja uma grande surpresa. E mesmo que não gostem, quero que pensam: "Ah, o Bastille fez isso!?" Bastille toca na edição de 2017 do festival californiano Coachella Reuters G1 – Como o Graham Coxon ajudou vocês a conseguirem isso? Dan Smith – A gente sempre foi muito fã do Graham Coxon e do Blur. Na minha infância, o Blur era uma das maiores bandas do Reino Unido. Eu amo como eles conseguem ir de "Beetlebum", com aquele jeito meio indolente de tocar, a umas coisas bem pesadas, como "Song 2". São músicas brilhantes, e o som da guitarra é tão característico. A gente queria um pouco desse peso britânico na música. Era o começo da quarentena e a gente pensou "Ei, e se a gente ligar pra ele e perguntar se ele quer participar da música?" Ele disse que sim, o que foi incrível. Eu acho que é a vantagem de esse ano ser tão estranho, triste, assustador, esquisito e complicado de muitas formas… Quando a quarentena começou, a única coisa que você sabia era que todo mundo estava em casa. E todos tinham tempo. G1 – Você se lembra da primeira vez que ouviu Blur? Onde estava, quem estava com você? Dan Smith – Boa pergunta, mas eu não sei. Provavelmente, minha irmã mais velha devia estar ouvindo, quando eu era criança. E tocava no rádio tipo toda hora, sabe? Eu não tenho uma memória específica, mas deve ter sido "Parklife". É uma dessas músicas que é tão da estrutura da vida britânica quando eu era criança. Tem também "Song 2". Eu me lembro que era adolescente e ouvi "Song 2", pensando que resumia tudo, com aquela agitação, aquela energia, o barulho. G1 – Como você analisa a carreira do Bastille até agora? Você teria feito algo diferente, tem algum arrependimento quando fala dessa trajetória? Dan Smith – Eu acho que a gente tem sido uma banda estranha. A gente fez músicas muito esquisitas e variadas. Claro que há momentos mais pops no que a gente faz, mas eu acho que todas as nossas músicas são sobre temas estranhos e eu sempre quis fazer música pop com diversidade e que tenha algo a dizer. Olhando para nossa carreira até agora, a gente tem momentos que foram bem mainstream, mas por trás disso, nos nossos álbuns, a gente sempre tentou um monte de coisas diferentes. É importante pra gente sempre experimentar e uma vez ou outra a gente se alinha com o que o mainstream é. Tem esse negócio de fama, mas isso não é parte das nossas vidas. Só que sair em turnê é demais. A gente tem sorte de ter viajado para Ásia, América do Sul, viajar pelos Estados Unidos muitas vezes, Austrália. Esse trabalho me permitiu ver o mundo inteiro. Então, eu sou agradecido por isso. G1 – Existem artistas, especialmente bandas de rock, que são muito sérios, tentam manter uma pose, são quase messiânicos. Não vou falar nomes, mas acho que você entendeu o que estou dizendo. Vocês não parecem ser assim, vocês são uma banda de rock mas sem essa pose. Você entende do que estou falando, isso faz sentido? Dan Smith – Sim, entendo. Eu nunca quis estar em uma banda de rock, eu nunca quis ser famoso. Então, a ideia de ser misterioso, ou tentar ser algo que eu não sou… ou tentar ser esse rockstar clichê, pra mim isso é uma besteira, acho hilário, parece cafona. Eu amo aqueles cantores, aqueles artistas, eles são demais, mas esse não sou eu, cara. Não somos isso. Eu vou a tantos shows e festivais, e eu sou aquele fã da frente. Então, quando estou no palco, eu não posso fingir que sou um cara que eu não sou. Eu quero ir pra multidão e pular com eles, me divertir. Esse sou eu. Uma vez ou outra, em um clipe ou outra coisa, você tem que fingir ser esse cara, mas não é quem eu sou. "Eu não vou fingir que sou mais legal do que eu sou. Alguns são muito bons em fazer isso, alguns são bons em interpretar esse papel e fazem isso melhor do que todo mundo. Mas eu acho que isso é uma grande merda, cara. Pra mim." Dan Smith, do Bastille, pede que fãs pulem em show no Lollapalooza 2015, em São Paulo Marcelo Brandt/G1 G1 – Falando de 'Pompeii', sei que é um clichê, mas como foi lidar com a pressão de ter outro hit tão grande quanto 'Pompeii'? Dan Smith – A gente sofreu muita pressão para repetir "Pompeii". Eu escrevi essa música sozinho, no meu quarto. Eu fiz no meu laptop e daí trabalhei nela com meu amigo Mark. Eu acho que o que me deixa mais orgulhoso dessa música (e eu nunca digo esse tipo de merda, "mais orgulhoso", é bem caído, clichê…). Quando lançamos, a maioria das músicas nas paradas eram escritas por tipo quatro, cinco, seis pessoas e produzida por um monte de gente. E para uma música que eu e meu amigo fizemos, só nós dois, para uma música assim conseguir o que ela conseguiu pelo mundo todo… Isso foi legal demais. E eu acho que o porquê de ela ter ido tão bem é porque ela não parecia com nada daquela época. "Ela era essa anomalia. A gente foi de uma banda pequena e indie do Reino Unido que tocava em uns pubs minúsculos e fodidos, e em "toilet venues" [casas de show que eram como um banheiro] e coisas do tipo. E, de repente, a gente tinha um hit mundial gigante e esse álbum que estava indo bem no mundo todo. E isso foi surreal. Isso fodeu totalmente a nossa cabeça." Acho que houve, sim, pressão para seguir fazendo aquilo, mas a gente estava determinado em não mudar o nosso processo. Embora a gente tenha sido encorajado a trabalhar com outros compositores e produtores, a gente continuou escrevendo e produzindo tudo a gente mesmo. Isso foi se tornando mais importante pra gente: fazer as coisas do jeito que a gente quer, em vez de fazer de qualquer jeito só para ter mais hits. A gente não está atrás de sucesso, a gente quer ter momentos interessantes. A gente tem sorte de ainda estar por aí fazendo música. Naquele momento, a gente vivia em um tempo em que as grandes músicas do mundo eram hip hop. É demais, brilhante, mas a gente não faz hip hop. Então, a chance de a gente ter um grande hit são minúsculas [risos]. G1 – Falando de 'Happier', como você acabou cantando a música? Eu lembro que era para você só escrever e outro cara deveria cantar, talvez o Justin Bieber, não sei se isso é mesmo verdade… Mas como você acabou cantando a música? Dan Smith – Sim, é isso. Eu escrevi a música com esse cara chamado Steve [McCutcheon, produtor] e eu sempre achei que a música ia ser gigante, mas nunca pensei que seria algo que eu cantaria. Todo mundo com quem a gente trabalha, da nossa gravadora, ouvia e dizia que era algo bem especial. Então, eu mandei pro Marshmello, e ele amou. Ele disse "cara, eu adoraria fazer isso, como uma parceria". Então, acho que foi assim que aconteceu. A gente estava trabalhando em um novo álbum, estávamos prestes a lançar nosso terceiro álbum e parecia uma coisa divertida e diferente de tentar. Eu nunca pensei que fosse se tornar tão gigante quanto se tornou, mas como compositor eu queria diversificar, tentar outras coisas. E, na verdade, foi demais ter o Marshmello envolvido. Na real, a gente entregou a música pra ele e ela virou dele. Ele a levou pelo mundo e tocou para milhões de pessoas. Na minha perspectiva, como compositor e cantor isso é fascinante. É divertido observar que a música ganhou uma vida própria. Pra gente, foi a maior coisa que a gente fez desde "Pompeii". Foi bem divertido ter se envolvido em uma música gigante da EDM. É um mundo tão diferente pra gente. Marshmello e Bastille, em foto do single 'Happier' Divulgação G1 – Eu estava lá no show que vocês fizeram no Lollapalooza em São Paulo, há cinco anos. E foi uma bem legal. Mas queria saber como foi pra você? Dan Smith – Cara, foi incrível. Aquela turnê do Lollapalooza que a gente fez foi um dos pontos altos de toda a nossa carreira. A gente amou demais. Eu sei que é clichê dizer que o fãs no Brasil são incríveis, mas foi tão, tão incrível. Todos gritando tão alto, tanta gente junta. A gente ainda fala sobre aquele show. A gente quer voltar um dia, se turnês mundiais ainda existirem, sabe? [cruzando os dedos] G1 – Falando daquele show, uma das músicas que chamou a atenção de quem não conhecia bem a banda foi 'The Rhythm of the Night', porque foi um megahit aqui, e a cantora do Corona é brasileira… Então, como surgiu a ideia de cantar essa música? Dan Smith – Antes de lançar o primeiro álbum, fizemos duas mixtapes e eu era muito fã do Frank Ocean. Ele tinha uma mixtape chamada "Nostalgia, Ultra". Ele misturava as músicas que a gente ouvia na rádio e misturava com outras, com trilhas de filmes, era muito divertido. A gente resolveu fazer uma cover de uma dessas músicas da mixtape dele, só para se divertir mesmo. A gente também fez uma cover de "No Scrubs", "What is love". A gente começou a tocar em festivais e pedia para as pessoas se abaixarem e pularem. E ela virou esse momento incrível dos nossos shows em que mesmo que com as pessoas que só conheciam "Pompeii", "Things we lost in the fire" ou uma ou outra música… A gente conseguia ter esse grupo enorme de pessoas indo pra cima e pra baixo ao som dessa versão indie de "The Rhythm of the Night". Ela virou single e foi um hit no Reino Unido. O nosso último álbum, "Doom Days", é sobre uma noitada durante o apocalipse. E a gente nunca teria feito esse álbum se não fosse "The Rhythm of the Night". É uma música que se tornou importante pra gente. G1 – Você gravou com o Martin Garrix. Pode me falar mais sobre isso? Dan Smith – Isso foi logo antes da quarentena. Ele me convidou para escrever algumas músicas com ele na Holanda. Foi muito divertido. Ele é um cara muito legal. Não sei ainda o que vai acontecer com essas músicas. Eu acho que eu tenho que mandar uma mensagem pra ele e perguntar. [risos] Bastille toca no Rock in Rio Lisboa 2018 Divulgação/Rock in Rio