Com dificuldades do governo em conduzir as reformas no Congresso, expectativa dos analistas é a manutenção de juros no médio prazo. O economista Roberto Campos Neto, presidente do Banco Central Pedro França/Agência Senado O comunicado do Comitê de Política Monetária (Copom) desta quarta-feira (5) deixa, mais uma vez, a porta aberta para cortes na taxa básica de juros, dizem economistas ouvidos pelo G1. A Selic sofreu hoje corte de 0,25 pontos percentuais, passando para 2% ao ano. A particularidade da nova carta é que a bola está, agora, com o governo. Novas reduções, diz o comitê, dependem do prosseguimento da agenda de ajustes fiscais. Copom faz novo corte e taxa Selic cai para 2% ao ano "O Copom entende que a conjuntura econômica continua a prescrever estímulo monetário extraordinariamente elevado, mas reconhece que, devido a questões prudenciais e de estabilidade financeira, o espaço remanescente para utilização da política monetária, se houver, deve ser pequeno", diz o comunicado do comitê. E prossegue: "Consequentemente, eventuais ajustes futuros no atual grau de estímulo ocorreriam com gradualismo adicional e dependerão da percepção sobre a trajetória fiscal, assim como de novas informações que alterem a atual avaliação do Copom sobre a inflação prospectiva." Copom volta a cortar taxa básica de juros de 2,25% para 2% ao ano Para o economista-chefe da MB Associados, Sérgio Vale, o texto é uma isca para a equipe econômica, em busca de uma sinalização mais consistente do caminho das reformas fiscais. "Como o governo não está lidando bem com esse trâmite no Congresso, a política de juros deve permanecer igual por um bom tempo", diz Vale. "O Copom deve esperar o restante desse semestre, ver como será a discussão do orçamento para 2021 e como a inflação vai estar encaminhada", afirma. "Ao menos, sinalizou que não pretende subir juros no curto, médio prazo." Dólar fecha em leve alta em dia de Copom Outro ponto importante observado pelo mercado neste momento é se o governo vai cumprir o teto de gastos. É ele que limita o crescimento das despesas da União (poderes Executivo, Legislativo e Judiciário federais) à inflação do ano anterior. Uma alteração desse regime, segundo analistas, pode provocar uma piora da percepção de risco dos investidores com a economia brasileira e alterar a política monetária. E, com a crise provocada pela pandemia do novo coronavírus, houve um intenso aumento de gastos governamentais para mitigar os efeitos da crise. O teto, então, passou a ser questionado. Parte dos economistas defende uma revisão da regra para que o governo consiga aumentar os investimentos públicos, incluindo o colchão de proteção social em meio à crise. Conselho Monetário define em 3,25% meta de inflação de 2023 “A preocupação dele (BC) é o teto de gastos. Como a gente está discutindo o teto, isso acaba sendo fundamental para manter o viés de mais cortes”, diz o economista-chefe da Garde Asset Management, Daniel Weeks. Um novo corte, de acordo com os economistas, não necessariamente teria de ocorrer na próxima reunião, em setembro. No comunicado desta quarta, o Copom afirma que “eventuais ajustes futuros no atual grau de estímulo ocorreriam com gradualismo adicional”, o que pode indicar que uma redução pode se dar apenas nas reuniões seguintes, a depender do quadro da economia. “O BC não ganharia nada em fechar a questão e afirmar com todas as letras de que não faria nenhum movimento de juros”, diz a estrategista da Mag Investimentos, Patricia Pereira. “A gente leu esse gradualismo adicional como um movimento que não precisa vir na próxima reunião, não precisa ser um ciclo contínuo como ele vinha fazendo.” Mercado prevê último corte pelo BC, e juros devem baixar para novo piso histórico de 2% Para Solange Srour, economista-chefe da ARX Investimentos, o mesmo vale para o caminho contrário. A permanência da estabilidade financeira não só é condição para um possível corte, como também para manutenção da Selic em patamares baixos. "É uma novidade a intenção de subir os juros se não houver a manutenção do regime fiscal e ancoragem das expectativas de longo prazo. Chamou atenção para como uma eventual quebra do regime fiscal ou um estado de calamidade ampliando poderiam ensejar alta de juros.", diz a economista. O mercado pode precificar um pequeno corte, diz ela, mas que o movimento para por aqui. "O Copom vai ser mais conservador diante da piora do cenário fiscal", diz Solange.