Morte do artista, aos 86 anos, entristece o universo das músicas erudita e popular e faz lembrar atuação do regente mineiro na campanha pelas eleições diretas. Benito Juarez Reprodução / Capa de disco ♪ OBITUÁRIO – Um dos maestros mais engajados e importantes do Brasil, Benito Juarez de Souza (17 de novembro de 1933 – 3 de agosto de 2020) pode e merece ser lembrado pelo 25 anos que regeu a Orquestra Sinfônica de Campinas em período que foi de 1975 a 2000. Contudo, esse grande artista também pode e deve ser reverenciado por ter valorizado a produção autoral de compositores associados à MPB ao conduzir corais e sinfônicas, e não foi por acaso que Francis Hime lamentou a morte do maestro em comentário na rede social em que o filho de Benito, André Juarez, anunciou a definitiva saída de cena do pai – aposentado já há 20 anos – na madrugada desta segunda-feira, 3 de agosto, aos 86 anos, de causas não reveladas. Como maestro da Sinfônica de Campinas, Benito priorizou naturalmente as obras de compositores da música erudita. Mas sempre deu atenção e incluiu na pauta, quando possível, temas de compositores como Gilberto Gil – com quem fez concerto em 1992 na regência da Sinfônica de Campinas – e Milton Nascimento. Além do apreço pela (boa) música popular do Brasil, o que o levou a criar o pioneiro Curso de Música Popular Brasileira na Universidade de Campinas, Benito Juarez também precisa ser aclamado por ter sido o maestro das Diretas Já!, movimento político dos anos 1980. Sim, quando o povo do Brasil começou a se mobilizar e a se reunir nas ruas em 1984, em campanha pelo direito de eleger o próximo presidente do país, Benito Juarez foi o maestro regente da execução do Hino Nacional Brasileiro (Francisco Manuel da Silva, 1822, com letra de Osório Duque Estrada, 1909), cantado pela multidão que presenciou, em 16 de abril de 1984, um histórico comício pelas Diretas Já! na cidade de São Paulo (SP). Embora tenha sido mineiro nascido na interiorana cidade de Januária (MG), Benito Juarez fez nome em São Paulo, onde se formou na Escola Livre de Música de São Paulo e no Curso de Formação de Professores. Após passagem por Salvador (BA), onde integrou a Orquestra Sinfônica da Bahia, o artista voltou a São Paulo, onde criou em 1967 o Coral USP e, em 1971, o Coral da Unicamp. À frente do Coral USP, Benito Juarez usou a música (inclusive a popular) como arma política para combater a opressão de regimes totalitários, se alinhando com a ideologia dos grandes compositores de MPB projetados nos anos 1960.