Pilotos relataram danos em tanques de combustíveis e vazamentos causados pelo combustível em investigação. Petrobras decidiu interromper 'preventivamente' o fornecimento de um lote de gasolina de aviação importada após testes. Marca de combustível em aeronave Divulgação A Polícia Federal de São Paulo abriu inquérito nesta terça-feira (28) para apurar a suspeita de contaminação da gasolina de aviação importado pela Petrobras. Além da PF, a Agência Nacional de Aviação Civil (ANAC) e a Agência Nacional de Petróleo (ANP) também investigam a possibilidade de contaminação do combustível de aviação distribuído no Brasil, que pode ter causado danos e corrosões em tanques de combustível, bombas, mangueiras e injetores, além de vazamentos em aeronaves de pequeno porte. Em 13 de julho, a Petrobras decidiu interromper "preventivamente" o fornecimento de um lote de gasolina de aviação importada após testes realizados em seu centro de pesquisas Na semana passada, o Ministério Público Federal (MPF) requisitou a abertura de inquérito policial junto à Polícia Federal de São Paulo sobre a suspeita de contaminação da AVGAS. O inquérito foi remetido à PF depois de um representação enviado pela AOPA – Associação de Pilotos e Proprietários de Aeronaves à PGR no dia 12 de julho. Três dias depois, o requerimento foi distribuído ao MPF em SP como notícia de fato e a Procuradoria da República requisitou a investigação à PF. Além disso, a PF solicitou à ANP que faça a coleta de amostras da gasolina que estão guardadas e à espera de perícia em três aeroportos do interior de SP. Há duas semanas, os fiscais da ANP também coletaram amostras no Campo de Marte, na capital, mas nenhum laudo foi divulgado até agora. Em nota a Petrobras confirmou que houve uma alteração na composição dos componentes aromáticos da AVGAS analisada, mas não se sabe se foi isso que causou os danos nos aviões e não há um laudo divulgado pro setor ou algo do tipo. Ao todo, cerca de 12 mil aeronaves de motor a pistão usam a AVGAS para voos de táxi-aéreo, particulares ou de instrução no país, segundo a Associação de Pilotos e Proprietários de Aeronaves (AOPA) no Brasil. A ANAC já registrou 110 relatos de pilotos em 49 aeroportos do país sobre problemas nas aeronaves que podem ter sido causados por um lote importado pela Petrobras dos Estados Unidos. Anac e ANP A investigação da Anac e da ANP apura crime contra a ordem econômica, por adquirir, distribuir e revender derivados de petróleo, gás natural e suas frações recuperáveis, álcool etílico, hidratado carburante e demais combustíveis líquidos carburantes, em desacordo com as normas estabelecidas na forma da lei. Pilotos de aviões de pequeno porte apontam problemas na qualidade do combustível As causas da suposta adulteração, origem da gasolina adulterada e qual substância pode ter contaminado o combustível ainda não foram identificadas. Os primeiros relatos sobre a degradação de componentes do sistema de armazenamento e distribuição da gasolina de aviação foram feitos no começo desta semana por pilotos de diversos estados brasileiros, como Rio Grande do Sul, São Paulo e Goiás. Eles citam corrosões agressivas em tanques de aeronaves, juntas, mangueiras, seletoras, bicos injetores, drenos e em outras partes e componentes. Em um vídeo obtido pela reportagem, um piloto de Goiânia (GO) mostrou o vazamento de gasolina por várias partes da aeronave, com manchas na asa e na pista, e também alertou sobre o risco de ficar perto do avião. “Tomem cuidado com esse combustível, isso mata”, afirma. O mesmo foi registrado por outros aviadores, em vídeos e fotos. Em um áudio compartilhado em uma rede social e em grupos de aviadores, um dos pilotos relata que foi informado por uma oficina mecânica de que 40 aviões estavam com o mesmo problema. Ao tomar conhecimento das informações na terça-feira (7), a Associação de Pilotos e Proprietários de Aeronaves, que representa 15 mil pilotos e donos de 12 mil aeronaves no Brasil, fez contato com algumas oficinas mecânicas, e confirmou as ocorrências. No mesmo dia, a entidade oficiou a Anac sobre o problema e pediu providências à agência. O presidente da AOPA, Humberto Branco, ressaltou que – mesmo sem registro de acidentes relacionados à suposta adulteração, existe um “risco muito severo e desconhecido, e que a consequência na segurança da aviação pode ser muito grave”. Piloto de Goiânia (GO) mostra o vazamento de gasolina em aeronave Recomendações da Anac Na quinta-feira (9), a ANAC publicou um comunicado, chamado de Boletim Especial de Aeronavegabilidade (BEA), para informar a todos os pilotos e proprietários de aeronaves que operem com gasolina de aviação sobre os riscos associados ao uso de "combustível contaminado ou adulterado". No documento, a ANAC dá recomendações e diz que até a emissão do boletim não possuía informações fáticas que possam confirmar a existência de tal contaminação, tampouco, se confirmada, que tenha agido como fator contribuinte em alguma ocorrência recente”. Ainda de acordo com a Agência Nacional de Aviação Civil, a ANP avalia a necessidade de medidas mais rigorosas, que "dependerão da constatação de que há, de fato, uma situação de contaminação do combustível, o tipo, a origem e o período da suposta contaminação, bem como, se seria esta a causa da degradação de componentes”. ANAC investiga adulteração em gasolina usada em aviões no país; imagem mostra mancha de vazamento Divulgação Gasolina 100% importada Atualmente, 100% da gasolina de aviação distribuída em território nacional é importada. Em 2018, a Petrobras interrompeu a produção de gasolina de aviação para obras na planta de Cubatão, na Baixada Santista, que segundo a empresa sofreram atraso por causa da pandemia da Covid-19. A produção deverá ser reiniciada em outubro de 2020. Desde então, a Petrobras compra o combustível de produtores no exterior. Quando a AVGAS chega no litoral brasileiro, a Petrobras emite um certificado de qualidade, que é enviado para a ANP. No processo de venda da gasolina pela estatal, as distribuidoras emitem um novo boletim de qualidade, que também é enviado pra ANP. É responsabilidade das ANP fiscalizar as revendas. Em nota, a Petrobras diz que não a única importadora de gasolina de aviação. Os aviadores dizem desconhecer outros fornecedores usados pelo mercado nacional, e até a publicação dessa reportagem a ANP não havia informado a relação de outras importadoras autorizadas a distribuir AVGAS no Brasil. Rigor nas inspeções pré-voo A AOPA Brasil informou à GloboNews que aguarda a investigação mais detalhada das autoridades competentes para recomendar a suspensão de voos, mas já orientou todos seus associados que aumentem muito seu rigor nas inspeções pré-voo, principalmente na verificação para detalhes em mangueiras, conectores, juntas e seletoras em busca de indícios de vazamento de combustível. "Caso haja indício de vazamento, aborte seus voos, documente com fotos, procure sua oficina imediatamente. Além disso, colha amostra do combustível que esteja nos tanques e guarde-a. Entre em contato imediatamente com o revendedor ou distribuidor que abasteceu a aeronave e exija o atestado de qualidade do produto e reporte o problema à Anac e ao Cenipa”. A AOPA pede que à Anac que todos os testes realizados pela Petrobras e distribuidores no combustível importado nos últimos 120 dias sejam divulgados, que novos testes em diversos pontos da cadeia de distribuição, revelando assim que possível seus resultados e que forneça instruções a aviadores, distribuidores, revendedores, operadores e aviadores relativamente a verificações que possam ser conduzidas antes das operações como pronta forma de mitigação de riscos. Aeronave mostra manchas de vazamento de combustível; ANAC investiga adulteração Divulgação