Morto há 40 anos, o compositor carioca está imortalizado pelas letras em que evidenciou a paixão pelo amor, pelas mulheres e pela vida. ♪ MEMÓRIA – “Eu sei que vou te amar / Por toda a minha vida eu vou te amar…”. Nesses versos escritos por Vinicius de Moraes para a canção Eu sei que vou te amar (1959), um dos clássicos eternos da parceria do compositor com Antonio Carlos Jobim (1927 – 1994). o poeta pareceu se declarar mais ao amor do que à mulher amada. Poeta da canção que saiu de cena há exatos 40 anos, Marcus Vinícius da Cruz de Mello Moraes (19 de outubro de 1913 – 9 de julho de 1980) está imortalizado na história da música brasileira por ter exposto em letras de músicas a paixão pelo amor, a vida e as mulheres. Sim, Vinicius de Moraes foi movido a paixão. E esse arrebatamento pautou todo o cancioneiro autoral do compositor, cuja primeira letra de música foi escrita em 1928, aos 15 anos. Foi para fox-canção intitulado Loura ou morena, cuja melodia de Haroldo Tapajós (1915 – 1994) foi ouvida em disco pela primeira vez em single editado em 1932 com os versos de Vinicius na gravação da dupla Irmãos Tapajós. Artista multimídia que rodou o mundo, até pela carreira de diplomata vivenciada de 1943 a 1963, Vinicius de Moraes era carioca. E tinha de ser carioca! De outro modo, o poeta nunca teria traduzido com fidelidade a graça, a coloquialidade e a leveza da bossa nova nos versos de standards do gênero como os sambas Chega de saudade (1958), Garota de Ipanema (1962) e Ela é carioca (1963) – todos assinados com Tom Jobim em parceria fundamental aberta em 1956 para a composição da trilha sonora do musical de teatro Orfeu da Conceição (1956). Somente pelo cancioneiro da bossa nova – amplificado em escala planetária pela voz e pelo violão de João Gilberto (1931 – 2019) – Vinicius já teria lugar de honra no primeiro time da música brasileira. Contudo, Vinicius atravessou a bossa sem se restringir ao universo temático do sal, céu, sol e sul. Plural, o poeta soube carregar no tom do melodrama, em sambas-canção de melodias tristonhas, com a mesma habilidade com que traduziu em versos a incandescência afro-brasileira dos sambas que compôs com Baden Powell (1937 – 2000), parceiro também fundamental na construção da obra musical do letrista dos afro-sambas. Com Toquinho, Vinicius de Moraes iniciou em 1969, na Itália, parceria de tom mais informal que conquistou o Brasil ao longo dos anos 1970. Com generosidade exemplares, Vinicius saboreou a vida como a arte do encontro e teve a grandeza de se tornar parceiro de jovens compositores então iniciantes, caso do Francis Hime, com quem fez música em 1963, primeiro ano da carreira profissional do genial compositor. Com Carlos Lyra, o poeta aguçou a consciência social. Antes de todos esses parceiros, e mesmo de Tom, Vinicius exercitou o lirismo romântico na escrita dos versos do samba-canção Quando tu passas por mim (1953), parceria com Antonio Maria (1921 – 1964) – lançada na voz de Aracy de Almeida (1914 – 1988) – que marcou a retomada da produção musical do poeta após as incursões juvenis dos anos 1930. Vinicius de Moraes foi compositor plural, capaz inclusive de criar belas melodias, como atestaram obras-primas em que o poeta fez sozinho música e letra, como Serenata do adeus (1958) e a valsa Pela luz dos olhos teus (1960). “Fosse um só, teria sido Viniciu de Moral”, gracejou o bem-humorado cronista Sérgio Porto (1923 – 1968). Acima de tudo, Vinicius de Moraes foi poeta da canção que ouvia música nas palavras. E pôs essa música em letras escritas com paixão pelo amor, as mulheres e a vida.