Dupla vai se apresentar em evento transmitido pela TV Globo, pelo Multishow e GNT. Line-up tem Fernando & Sorocaba e Xand Avião com homenagens a grandes ícones do forró. Matheus e Kauan Divulgação Matheus e Kauan, como muitos artistas da música sertaneja e do forró, costumam passar o mês de junho todo no Nordeste agitando as festas de São João. "A gente já chegou a fazer três shows por dia", afirma Matheus. Mas este ano, as festas juninas silenciaram por conta da pandemia de coronavírus e as únicas apresentações possíveis, por enquanto, são as virtuais. "Tem sido um mês bem triste, porque a gente sabe da cultura o tanto que é forte, o tanto que as pessoas esperam o ano inteiro. E a gente também. São shows bem diferentes, especiais. É como se fosse o carnaval de Salvador, se for comparar em forma de energia", compara. Matheus & Kauan são uma das atrações do "Arraiá em casa", um especial junino que será transmitido no sábado (27) pelo Multishow, GNT e TV Globo. "A gente vai tentar preencher um pouquinho nesse vazio no coração das pessoas." Em entrevista ao G1, além de dar detalhes do evento, o sertanejo também fala sobre as críticas ao ritmo sertanejo dentro das festas de São João. "Sempre vão existir pessoas que não concordam. Mas faz parte do processo." Matheus ainda comenta sobre as dificuldades no período da quarentena e explica seu processo de composição. Ele tem 426 obras assinadas em seu nome, segundo dados do Ecad, muitas delas interpretadas por Luan Santana — incluindo a recém-lançada "Asas". "A gente se conhece desde moleque, ele é meu padrinho de casamento, somos vizinhos, praticamente. Então por estar sempre encontrando, ele é sempre a primeira pessoa para quem acabo mostrando as coisas e ele se identifica muito com as letras." G1 – Esse ano, muita gente lamentou o fato de não poder ir para uma festa junina. A gente tem visto várias lives este mês no clima do São João pra tentar ocupar esse espaço e matar a saudade do público. Mas e para vocês, como costuma ser o mês de junho? Matheus – É sempre muito especial na nossa carreira. Basicamente a agenda se concentra toda no Nordeste do país. É onde que tem essa cultura tão aguçada, tão bacana, e uma energia surreal, inexplicável. É como se fosse o carnaval de Salvador, só que é o São João, se for comparar em forma de energia. [Em 2020], tem sido um mês bem triste, porque a gente sabe da cultura o tanto que é forte, o tanto que as pessoas esperam o ano inteiro. A gente também — e todos os artistas que fazem show no Nordeste nessa época. São shows bem diferentes, especiais, com clima muito legal. 'Arraiá em casa': Xand Avião, Fernando e Sorocaba e Matheus e Kauan agitam especial junino Reprodução/Instagram G1 – Quais as lembranças que vocês têm das festas juninas, de quando não eram conhecidos ainda? Matheus – Quando fizemos a dupla, eu era muito novo, então não tinha tido essa experiência ainda. Afinal de contas a gente é de Goiás e a festa junina lá é mais aquele negócio de escola. Então todas as histórias que envolvem São João e festa junina, a gente viveu lá no Nordeste depois que a gente começou a fazer show lá. E é surreal. Histórias engraçadas, todos os dias a gente tem. Não vou me recordar agora de alguma específica que a gente viveu. Mas o que acho muito bacana é sempre essa correria toda e, quando a gente chega, já com 12, 13 horas de festa, está todo mundo super animado ainda. Não tem como não marcar nossa carreira, nossa vida. A gente sente muita falta disso. G1 – Não deu pra curtir nenhuma festa no anonimato, então? Matheus – A gente costuma curtir nos hotéis. Eles sempre são bem temáticos também, então quando a gente chega, sempre tem aquele pezinho de moleque, aquelas pingas artesanais que eles fazem e tem super a cara de São João. A gente chega na recepção e já toma todas junto com a galera ali. G1 – Como será o show de vocês no "Arraiá em casa"? O repertório será focado nas músicas da dupla ou vai ter também um pouco de forró? Matheus – A gente vai fazer essa live no estúdio. E juntamente com o pessoal da Globo e a Thainara OG, a gente conseguiu viabilizar esse local pra fazer um cenário totalmente típico de São João mesmo. Quem assistir de casa vai se sentir realmente no São João. A gente vai cantar várias músicas homenageando grandes artistas que levantam essa bandeira há muito tempo. Vamos fazer música de Luiz Gonzaga, Dominguinhos, Alceu Valença… pessoas que fazem parte da cultura nordestina e, principalmente, do São João. G1 – Há anos, o sertanejo sofre críticas por, cada vez mais, dominar a programação das festas juninas. O que você acha disso? Matheus – Existem pessoas que ainda são bastante conservadoras em relação a isso, mas acredito que essas barreiras, cada dia mais, venham se rompendo. Porque o sertanejo era um ritmo que, há uns dez, era indiscutível que no Rio de Janeiro ou outros estados não existia. E a gente conseguiu quebrar essa barreira, afinal de contas a gente faz uma música popular, uma música que todo mundo gosta. A gente fala do cotidiano das pessoas, assim como o forró e qualquer outro gênero musical. Nessa época, muitas bandas que geralmente não fazem show pro sudeste, pro sul, trabalham bastante, representando e levantando a bandeira do São João do nordeste. Então a partir do momento que os sertanejos, o funk e outros ritmos, começaram a fazer shows, realmente as pessoas mais conservadoras estranham um pouco. Mas acho que todo mundo tem que entender que essas parcerias que a gente faz com outros gêneros é muito bom para a música em geral. Sempre vai existir pessoas que não concordam. Mas faz parte do processo. Matheus Aleixo na festa do peão de Barretos de 2019 Érico Andrade / G1 G1 – Como tem sido o período da quarentena pra você? Matheus – Tem sido um momento bem difícil pra todo mundo, tanto no ponto de vista profissional quanto no pessoal, porque as pessoas não estão acostumadas a não poder sair de casa, a ter que cumprir tantas regras assim. A gente tem se acostumado um pouco mais, mas uns dias atrás, eu estava bem apreensivo, particularmente. É uma época que a gente trabalha muito. Tenho aproveitado meu tempo para compor e fazer música e, se Deus quiser, depois que isso tudo passar, a gente vai lançar um projeto. G1 – Por falar em compor, você escreve desde a adolescência. E diferente de muitos nomes da composição que foram pra frente do microfone e pararam de escrever músicas, você não abandonou esse lado. Como divide seu tempo nas duas carreiras? Matheus – À medida em que a gente começa a ver a correria de shows, do dia a dia, alguns artistas começam realmente perdendo isso, porque, imagina… 25 shows por mês, ainda tem que fazer música, atender as pessoas, tem a família que, com certeza, sempre está em primeiro lugar. A partir do momento que você se dispõe a fazer uma coisa, você tem que se entregar de corpo e alma naquilo que você está fazendo e ter bastante foco. E essa palavra foco é muito importante no processo de composição. Porque você tem tudo pra desviar com as coisas que acontecem no dia a dia. Essas outras que os artistas muitas vezes jugam mais importantes, como os shows e tudo mais, acabam tirando o foco deles desse processo de composição, que é um processo, vamos dizer assim, chato e leva muito tempo. Eu sou um cara muito apaixonado por escrever, desde novo. Sempre gostei muito ler também, então isso faz parte da minha vida. Não sabia tocar nenhum instrumento, então fazia só as letras e deixava guardado. Comecei a tocar violão depois de um, dois anos, peguei todas essas músicas que eu tinha escrito em forma de poema e comecei a musicar. E aí foi onde eu vi que aquilo ali poderia ser um dom. G1 – A nova música do Luan Santana ('Asas') é sua, assim como muitas outras que escreveram a carreira dele. Quando compõe, já escreve pensando que vai pro Luan? Matheus – Eu nunca fiz uma música seguindo uma receita ou pensando em algum artista. Eu basicamente paro pra pensar em um artista quando é Matheus e Kauan. Porque já sei as coisas que a gente gosta de cantar, já sei o que nosso público gosta de ouvir. Aí quando a gente finaliza esse processo, eu continuo compondo. E costumo mandar para os amigos artistas. Eu e Luan, a gente se conhece desde moleque, a gente tem essa afinidade. Ele é meu padrinho de casamento, somos vizinhos, praticamente. Então por estar sempre encontrando, ele é sempre a primeira pessoa para quem acabo mostrando as coisas. E ele se identifica muito com as letras, o ritmo. Nosso estilo de música é bem parecido. G1 – Muitas vezes, quando entrevistamos artistas com muitos anos de carreira e questionamos sobre o que eles estão ouvindo de novidade na música, eles citam vocês. Só que vocês já estão com dez anos no mercado. Acha que está faltando uma renovação na música, novos nomes? Matheus – Eu não acho que falte novidades. A música tem caminhado de uma forma muito intensa, que tem até demais, na minha concepção. As pessoas às vezes se preocupam muito com o sucesso momentâneo e esquecem que por trás daquilo ali tem que existir um processo de criação, pra ser mais duradouro. Acho que muitos artistas hoje em dia esquecem do processo de criar uma carreira e, não só, uma música. Então a gente vê o tempo inteiro músicas surgindo e depois desaparecendo. Acho que o que falta é essa relação pessoal com a música, de se entregar de uma forma diferente e criar um estilo próprio, uma identidade. Eu sou de uma parada meio pop, por isso que a gente trouxe isso para nosso som e, por isso, que soa novo, apesar de 10 anos de carreira.