Ao G1, ele fala do álbum 'Bigger Love' e fala das manifestações contra o racismo nos Estados Unidos e no Brasil: 'Ainda assim persistimos em fazer arte e seguimos resilientes'. John Legend Divulgação Assim como nos outros álbuns de John Legend, o foco principal em "Bigger Love" é o amor. Amor entre duas pessoas, entre família e entre até gente que não se conhece. "A grande ideia por trás de 'Bigger Love' é que o amor pode nos ajudar a superar tempos difíceis", diz Legend em entrevista ao G1. O cantor americano faz live nesta quinta-feira (25) para divulgar o disco. Todas as músicas estavam prontas antes da pandemia e dos protestos #BlackLivesMatter depois da morte de George Floyd, mas o cantor nota que algumas ganharam novo significado com o atual contexto. Uma delas é "Never Break", última faixa do disco. "Pensei muito sobre a experiência das pessoas negras nos Estados Unidos e por quanta dor nós temos passado nesse país. Ainda assim persistimos, persistimos em fazer arte e seguimos resilientes", completa. Inicialmente previsto para maio, "Bigger Love" foi lançado na sexta (19), dia em que os Estados Unidos celebra o dia da emancipação dos escravos, e Legend viu a mudança como "um dia perfeito para celebrar liberdade e a música e a cultura negra". Com produção de Raphael Saadiq, o disco tem a colaboração de muitos produtores e compositores pop, como Charlie Puth, Anderson Paak e Tayla Parx, compositora de hits como "7 Rings" e "Thank U Next", gravados por Ariana Grande. Veja a entrevista de John Legend ao G1. G1 – Você lançou o disco no dia 19 de junho, feriado que marca a emancipação dos escravos nos Estados Unidos. Foi algo planejado? John Legend – Na verdade, nossa ideia original era lançar no final de maio, mas demorou um pouco para finalizar o disco com todas as restrições do isolamento social. A gravadora me perguntou se poderíamos mudar para 19 de junho e eu topei na hora. Embora não seja um feriado tão comemorado aqui nos Estados Unidos, eu sei o que significa e pensei que seria um dia perfeito para celebrar liberdade e a música e a cultura negra. G1 – Qual é a mensagem que você quer passar com o álbum? John Legend – Acho que a grande ideia por trás de "Bigger Love" é que o amor pode nos ajudar a superar tempos difíceis. E não é só sobre o amor entre duas pessoas, entre você e seu par romântico ou você e sua família. Se você tem um amor que se expande a pessoas que você talvez nem conheça direito, esse é o tipo de amor que pode mudar o mundo. Eu falo sobre isso muito, porque eu sinto que é importante ver a humanidade do outro, mesmo que existam diferenças de religiões, cor de pele ou nacionalidades. Se a gente pensar em cada um desse jeito, se tivermos essa mentalidade, nós poderemos criar um mundo melhor. G1 – O álbum estava pronto antes da pandemia e dos protestos do #BlackLivesMatter depois da morte de George Floyd. Você acha que as músicas ganharam um novo significado? John Legend – Sim, especialmente a última música do álbum me parece muito diferente agora. "Never Break" é sobre resiliência. Mesmo quando a vida nos joga todos esses desafios, é sobre conseguir sobreviver a eles com as pessoas que você ama. Eu pensei muito sobre a experiência das pessoas negras nos Estados Unidos e por quanta dor nós temos passado nesse país. Ainda assim persistimos, persistimos em fazer arte, e ainda seguimos resilientes. Eu sinto que essa música captura essa emoção. G1 – Eu vi que você descreveu 'Bigger Love' como o álbum mais sexy da sua carreira. Pode justificar essa conclusão? John Legend – Eu vou deixar os fãs decidirem [risos]. Eu sinto que têm algumas músicas que são definitivamente boas para ouvir no quarto, mas têm outras que são dançantes, outras falam ao coração, são sinceras. Tem uma grande variedade de emoções no álbum, mas tem uma boa sessão para uma playlist no quarto sim, especialmente no meio do disco. G1 – Conta um pouco sobre as participações do disco. Você convidou três cantoras: Rapsody, Koffee e Jhené Aiko. John Legend – Eu as escolhi individualmente, porque todas são ótimas no que fazem e eram ótimas para as músicas. Eu estava procurando alguém pra cantar comigo em "U Move, I move", porque queria fazer um dueto e também tinha acabado de gravar com a Jhené no álbum dele e achei que seria legal retribuir e tê-la no meu álbum. Eu ouvi muito as músicas e o álbum da Rapsody. Ela é super talentosa, grande MC, pensadora. Eu sabia que ela era a pessoa perfeita para falar de memória, nostalgia. Koffee eu estava procurando uma artista jamaicana, queria alguém que fosse leve e tivesse muita credibilidade quando se fala em música negra e caribenha. Koffee é a artista mais jovem a conseguir Melhor ábum de reggae no Grammy então é muito empolgante a parceria com ela também. G1 – Você disse em outra entrevista que você teve "super-heróis" com "poderes musicais", como Charlie Puth, Tayla Parx e Raphael Saadiq, que faz a produção executiva do disco. Pode falar um pouco sobre como foi trabalhar com eles? John Legend – É uma equipe com alma. Raphael Saaqid, Anderson Paak, Tayla Parx , Trey Campbell… Eles são muito talentosos e criativos, têm muita alma. A gente fez algo que foi muito divertido juntos, esperamos que seja divertido para os fãs também. G1 – Para você, o tempo no estúdio é divertido, desgastante ou o lugar perfeito para ficar infinitas horas? John Legend – É sempre inspirador. Eu amo escrever músicas, especialmente quando estou com alguém e encontramos para criar algo que estamos muito animados para fazer. É excitante, inspirador, divertido e você sai com o astral lá em cima depois de criar algo novo. Imagina chegar para o trabalho todos os dias e pensar: "Eu posso criar algo novo que pode mudar minha vida". É um sentimento bonito. Algumas dias você não vai tão bem, mas quando você acerta é mágico. G1 – Me conta um pouco sobre a sua quarentena. Como é a rotina com as crianças em casa? John Legend – Olha, é um trabalho em equipe. Estou aqui com a Chrissy [Teigen] e a minha sogra também. Todos nós estamos de olho nas crianças, cuidando delas. Minha esposa é muito criativa e sempre cria brincadeiras novas para eles, seja coisas de arte, coisas de cozinhar. Teve até um casamento dos animais da minha filha no jardim outro dia. John Legend e Chrissy Teigen com os filhos Luna e Miles Reprodução/Instagram/John Legend Tem sido uma grande experiência, porque eles não vão para escola, a gente não vai trabalhar. Acho que as crianças gostam mais do que todo mundo, porque eles ficam o máximo de tempo com a mamãe e com o papai, o que não é comum, porque eu viajo, fico fora vários dias. Eu não entro em um avião desde fevereiro. É louco, nunca fiquei tanto tempo sem voar. G1 – Para terminar, John, queria voltar a falar sobre os protestos outra vez. Aqui no Brasil, a gente tem um alto número de mortes de pessoas negras diariamente, mas os protestos aqui só ganharam força depois do caso George Floyd e olhe lá. O que você acha disso? John Legend – Eu não sei muito sobre política brasileira, então não quero opinar sobre isso, porque não sei. Mas com certeza passo muito tempo pensando na situação dos Estados Unidos, especialmente das pessoas negras daqui. Muitas coisas que estão acontecendo com pessoas descendentes da África, eu vejo como um legado da escravidão. Teve escravidão no Brasil e em vários lugares da América. Alguns lugares isso acabou mais cedo do que outros, mas todas as nações têm que lidar com esse legado da escravidão e do colonialismo, que marcam o nascimento das nossas nações. Nós estamos tentando lidar com isso aqui nos Estados Unidos, espero que vocês consigam também. As cenas de 'lives' da quarentena que já estão na história do entretenimento brasileiro