Apesar das expectativas de uma recuperação rápida, órgão destaca que dados sobre a confiança do consumidor mostram uma realidade mais pessimista. As recentes altas expressivas nas Bolsas de valores, que mostram uma "desconexão" com a contração da economia mundial devido à pandemia de coronavírus, são uma fonte "tremenda" de incerteza e uma ameaça à recuperação, alertou o Fundo Monetário Internacional (FMI) nesta quinta-feira (25).
Em seu Relatório de Estabilidade Financeira, o FMI alertou que, entre as grandes incertezas que cercam a crise atual, "destaca-se a desconexão entre os mercados financeiros e a evolução da economia real".
Segundo o relatório, muitos mercados se beneficiaram da enorme quantidade de ajuda injetada por vários governos e aumentaram as perspectivas de que a recuperação será rápida, apesar do fato de os dados sobre a confiança do consumidor mostrarem uma realidade mais pessimista.
O FMI emitiu esse aviso depois de publicar na quarta-feira uma atualização sobre suas perspectivas para a economia mundial, alertando que o mundo experimentará uma contração de 4,9% no PIB global este ano e que a recuperação em 2021 será mais lenta do que o antecipado.
Em Wall Street, por exemplo, o S&P, que caiu 34% em apenas 23 dias de negociação, foi impulsionado por estímulos de bancos centrais e agora está cerca de 10% abaixo de sua máxima recorde. As ações, no entanto, operam em forte queda nesta quarta-feira com o aumento de infecções em vários Estados norte-americanos.
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A principal vulnerabilidade identificada pelo FMI é a ameaça sobre a recuperação em caso de "diminuição do apetite por ativos de risco", o que foi beneficiado pelo apoio financeiro fornecido por vários países para combater a crise.
O FMI lembrou que os mercados de risco e de dívida sofreram perdas nas primeiras semanas da pandemia, mas vêm ganhando terreno desde então.
Consequências inesperadas
A principal preocupação é que, no caso de quaisquer contratempos – como uma segunda onda de infecções, uma recessão mais profunda do que o esperado ou uma intensificação da agitação social – a recuperação poderá ser comprometida.
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O FMI observou em seu relatório que o apoio "sem precedentes", através da injeção de liquidez, empréstimos e taxas de juros mais baixas, "amorteceu o impacto da pandemia na economia global e diminuiu o impacto imediato sobre o sistema financeiro".
A diretora-gerente do FMI, Kristalina Georgieva, tem defendido consistentemente um apoio maciço aos governos para evitar cair em uma grande recessão, como a da década passada.
O FMI também alertou que a crise do coronavírus pode cristalizar outras vulnerabilidades e que os altos níveis de dívida existentes podem se tornar "incontroláveis", ameaçando a resiliência dos bancos em alguns países.
Outro ponto de preocupação citado no relatório são os riscos de que vários mercados emergentes precisem de refinanciamento e que algumas economias podem se ver sem acesso à liquidez.
Tobias Adrian, diretor do Departamento de Mercados de Capitais e Monetários do FMI, alertou que "os formuladores de políticas precisam estar vigilantes sobre as consequências não intencionais" de fornecer dinheiro fácil.
"Uma vez que a recuperação ganhe um ritmo firme, os responsáveis deveriam resolver urgentemente as fraquezas que podem semear problemas futuros e ameaçar o crescimento a médio prazo", alertou o FMI.
Risco de bolha
Na véspera, o Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV) fez uma análise semelhante em seu Boletim Macro de junho.
"A significativa recuperação dos mercados globais de ações e títulos de dívida corporativa reflete, em parte, a ausência de alternativas de investimento e também as expectativas favoráveis para a atividade, devido aos elevados estímulos fiscais e monetários. Porém, como a melhora da economia real não está assegurada, não se pode destacar o risco de que haja um descolamento entre os mercados financeiros e a economia real. Ou, colocado de forma mais simples, que a forte valorização de ativos não passe de uma grande bolha".
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