Em 12 meses, IPCA acumula alta de 1,88%, bem abaixo do centro da meta do governo. Com pandemia, alimentos voltam a ser principal despesa do orçamento das famílias, mostra IBGE. Supermercado em Natal (RN); alimentos voltaram a registrar alta nos preços em maio, segundo o IBGE Pedro Vitorino/Cedida O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), considerado a inflação oficial do país, caiu 0,38% em maio, após já ter registrado recuo de 0,31% em abril, em meio às consequências da pandemia de coronavírus, segundo divulgou nesta quarta-feira (10) o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). "É o segundo mês consecutivo de queda nos preços e o menor índice desde agosto de 1998, quando ficou em -0,51%", informou o IBGE. De acordo com o gerente da pesquisa, Pedro Kislanov, trata-se da "segunda maior deflação do Plano Real”. IPCA – Inflação oficial mês a mês Economia G1 No ano, o IPCA passou a acumular queda de 0,16%. Em 12 meses, acumula alta de 1,88%, a menor taxa desde janeiro de 1999 (1,65%) – menor taxa desde janeiro de 1999 –, refletindo a baixa demanda e a fraqueza da economia, com os brasileiros consumindo menos, quer seja por queda da renda ou em razão do isolamento social e do avanço da pandemia. Com mais esse recuo, a taxa no acumulado em 12 meses (1,88%) fica ainda mais distante do centro da meta do governo para 2020, que é de 4%, com tolerância de 1,5 ponto percentual para cima ou para baixo. Combustíveis puxam queda mais uma vez Dos 9 grupos de produtos e serviços pesquisados, 5 tiveram deflação em maio. Ou seja, na média, a maioria dos preços tiveram mais quedas do que aumentos. O maior impacto negativo do índice veio mais uma vez do grupo Transportes (-1,9%), puxado principalmente pela queda no preço dos combustíveis (-4,56%) e das passagens aéreas (-27,14%). Alimentação e bebidas: 0,24% (0,05 ponto percentual) Habitação: -0,25% (-0,04 p.p.) Artigos de residência: 0,58% (0,02 p.p.) Vestuário: -0,58% (-0,03 p.p.) Transportes: -1,90% (-0,38 p.p.) Saúde e cuidados pessoais: -0,10% (-0,01 p.p.) Despesas pessoais: -0,04% (0 p.p.) Educação: 0,02% (0 p.p.) Comunicação: 0,24% (0,01 p.p.) “A gasolina é o principal subitem em termos de peso dentro do IPCA e, caindo 4,35%, acabou puxando o resultado dos transportes para baixo, assim como as passagens aéreas, que tiveram uma queda de 27,14% e foram a segunda maior contribuição negativa no IPCA de maio”, afirmou Kislanov. O etanol e o diesel seguiram o mesmo movimento, com queda de 5,96% e de 6,44%, respectivamente. O pesquisador observou, porém, que recentes reajustes nos preços da gasolina promovidos pela Petrobras nas refinarias podem vir a aumentar o indicador dos combustíveis nos próximos meses. “A gente teve alguns aumentos no preço da gasolina que podem, sim, vir a impactar o índice”, avaliou. Serviços têm maior deflação da série histórica As outras quedas mais relevantes em maio foram nos preços dos grupos Vestuário (0,58%), com destaque para roupas femininas (-0,88%), calçados e acessórios (-0,74%), e roupas masculinas (-0,55%), e no grupo Habitação (0,25%), com a energia elétrica (-0,58%) oferecendo a maior contribuição para a deflação do mês. Do lado das altas, o maior crescimento no índice do mês veio do grupo Artigos de residência (0,58%), puxado pela alta dos artigos de TV, som e informática (4,57%) e eletrodomésticos e equipamentos (1,98%). A fraqueza da demanda e os impactos das medidas de isolamento social fica mais evidente na variação dos preços de serviços, que tiveram deflação de 0,45% em maio –o menor resultado da série histórica iniciada em janeiro de 2012. Questionado se há possibilidade do IPCA voltar a ter alta a partir do afrouxamento das medidas de restrição nas mais diversas cidades do país, Kislanov avaliou que a retomada das atividades econômicas pode, sim, impactar a inflação, sobretudo de serviços. “O que a gente pode vir a observar é que haja uma maior movimentação na economia e com isso a gente tenha uma mudança, também, nos indicadores de serviços. Mas os cenários são muito incertos ainda", afirmou Kislanov. Alimentos voltam a ser principal despesa do orçamento das famílias O grupo Alimentação e bebidas (0,24%) voltou a registrar alta, mas desacelerou em relação a abril, quando cresceu 1,79%. A cebola (30,08%), a batata-inglesa (16,39%) e o feijão carioca (8,66%) ficaram mais caros. Já as carnes subiram 0,05%, após quatro meses consecutivos de queda. Por outro lado, os preços de alguns itens como cenoura (-14,95%) e as frutas (-2,1%), que haviam subido em abril, recuaram em maio. Com isso, contribuíram para que a alimentação no domicílio passasse de 2,24% para 0,33%. A alimentação fora do domicílio também desacelerou para 0,04%, ante 0,76% em abril. Segundo o IBGE, em maio a alimentação voltou a ser o grupo de maior peso no IPCA, superando transportes. Em 2020, o cálculo do indicador sofreu modificações por conta das mudanças nos hábitos de consumo identificas pela Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF) divulgada em outubro do ano passado. Em janeiro, o grupo de transportes representava 20,60% do IPCA, enquanto o de alimentação e bebidas, 19,35%. Já em maio, o peso de alimentação e bebidas foi de 19,97%, e o de transportes, 19,85%. “Como os alimentos ficaram mais caros relativamente, eles passaram a representar maior peso no orçamento das famílias. Como as pessoas ficaram mais em casa, o transporte perdeu participação”, observou Kislanov. Já o Índice Nacional da Construção Civil do IBGE registrou alta de 0,17% em maio. Todas as 16 áreas pesquisadas tiveram deflação em maio As 16 áreas pesquisadas pelo IBGE tiveram deflação em maio. No mês anterior, 14 das 16 tinham registrado deflação. A última vez que todas as regiões do país registraram queda de preços foi em junho de 2017, quando o indicador nacional ficou em -0,23%. O menor índice em maio ficou com a região metropolitana de Belo Horizonte (-0,60%), seguido por Campo Grande (-0,57%). Em São Paulo e no Rio de Janeiro, houve deflação de -0,28%. Perspectivas e meta de inflação A meta central do governo para a inflação em 2020 é de 4%, e o intervalo de tolerância varia de 2,5% a 5,5%. Para alcançá-la, o Banco Central eleva ou corta a taxa básica de juros da economia (Selic), que foi reduzida nesta semana para 3% – nova mínima histórica. A expectativa de inflação do mercado para este ano segue bem abaixo do piso da meta. Os analistas das instituições financeiras reduziram a projeção de inflação para 1,53% em 2020, conforme a última pesquisa Focus do Banco Central. Foi a 13ª redução seguida do indicador em meio à pandemia do novo coronavírus, que tem derrubado a economia brasileira e mundial, e colocado o mundo no caminho de uma recessão. "Sem renda ou sem saber até quando terão dinheiro para consumir, as pessoas irão gastar apenas com o indispensável. Os alimentos consumidos em casa, os produtos mais essenciais neste momento, têm ficado mais caros desde o início da crise, refletindo a mudança de consumo da população no contexto de isolamento social”, avalia o professor da Fipecafi, Samuel Durso. LImites da inflação Arte G1 O mercado segue prevendo corte na taxa básica de juros da economia brasileira neste ano, com a Selic chegando a 2,25% ao ano. Já para o PIB (Produto Interno Bruto) de 2020, o mercado passou a projetar retração de 6,48%. A Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), por sua vez, estimou nesta quarta uma contração de pelo menos 7,4% para o PIB do Brasil neste ano, podendo chegar a um tombo de 9,1% em caso de segunda onda da pandemia e necessidade de regresso aos confinamentos. Coronavírus: Brasil registra 1.185 óbitos e mais de 31 mil novos casos em 24 horas INPC tem deflação de 0,25% em maio O Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC), que é usado como referência para reajustes salariais e benefícios previdenciários, teve deflação de 0,25% em maio, após reco de 0,23% em abril. Foi o menor resultado para um mês de maio desde o início do Plano Real. A variação acumulada no ano foi de 0,06% e, em 12 meses, o índice passou a acumular alta de 2,05%. Coleta à distância Em virtude do quadro de emergência de saúde pública causado pela Covid-19, o IBGE suspendeu, no dia 18 de março, a coleta presencial de preços nos locais de compra. Os preços passaram a ser coletados por outros meios, como pesquisas realizadas em sites de internet, por telefone ou por e-mail. Segundo o IBGE, para o cálculo do índice do mês, foram comparados os preços coletados no período de 30 de abril a 28 de maio de 2020 com os preços vigentes no período de 31 de março a 29 de abril de 2020.