'Isso fala muito de como é o Brasil. As pessoas gostam de dar dinheiro a quem já tem, não sei explicar', ela diz ao G1. Cantora carioca faz live cantando samba neste sábado (30). Teresa Cristina achou nas lives um refúgio para a tensão da quarentena. Desde meados de março, a carioca canta por mais de 3 horas todo dia no Instagram. Já foram mais de 60 lives. E ela não pretende parar tão cedo. Neste sábado (30), ela faz uma live especial dedicada ao samba. Na plateia virtual, anônimos e famosos interagem, se divertem e cantam junto cada um de suas casas. Foi nesse cenário de crise que Teresa conseguiu o primeiro patrocínio da carreira de mais de 20 anos. "Essa coisa de patrocínio, às vezes, é uma coisa muito ingrata. A gente fica invisível, sabe? Eu sou invisível desde 1998", afirma ao G1. "Isso fala muito de como é o Brasil. As pessoas gostam de dar dinheiro a quem já tem, não sei explicar como isso acontece, mas acontece", ela diz. A cantora fez campanha nas redes sociais pedindo para os fãs se inscreverem no canal do YouTube para aumentar o alcance com as marcas. Em paralelo, desde o começo da quarentena, o número de seguidores quase dobrou no Instagram. Antes tinha 98 mil e hoje fala com 189 mil pessoas. "A quantidade de artistas, de pessoas brancas que têm uma carreira facilitada para tudo…Isso é uma coisa que a gente não fala, porque a gente está cansado de falar", ela diz. "Não é uma coisa que as pessoas percebem por vontade delas, sabe?", afirma. E não é que Teresa fez poucos discos: são mais de dez. Nos últimos anos, ela estava dedicada aos álbuns em que canta Cartola e Noel Rosa e abriu turnê para Caetano Veloso. "A gente está acostumado a ouvir esse tipo de resposta 'daqui a pouco é você'. Chega uma hora que dá um pouco de revolta. A gente não precisa mais de gente preta tranquila no mundo. Chega", continua com firmeza. Teresa Cristina canta Cartola em única apresentação no Rio Live cantando samba A live deste sábado (30) vai ser dedicada ao samba, gênero que Teresa começou a cantar profissionalmente no Bar Semente, no Rio, aos 30 anos. "Vou cantar músicas que são importantes para minha carreira, músicas que já cantei muito na noite, músicas que gosto de ouvir nas rodas de samba", conta. Paulinho da Viola, Candeia, Chico Buarque, Wilson Batista e composições próprias estão no repertório. Ela também perguntou nas redes sociais quais são os sambas preferidos do público. A transmissão vai acontecer da casa que mora na Vila da Penha, no Rio, e Teresa será acompanhada pelo músico João Callado no cavaquinho. Ela diz que não vai com uma banda maior, porque precisa manter a segurança da mãe de 80 anos e da filha de 11. "Não tenho condição de encher a minha casa de gente". Refúgio em tempos sombrios A ideia de fazer lives diárias surgiu para afastar um começo de depressão na quarentena: "Foi um combo: quarentena, aumento das notícias ruins, a perda de pessoas e a atividade completamente inconsequente do governo". "Eu sou carioca, moro no Rio de Janeiro. A cidade tem mais mortos por Covid do que a China, um país imenso e tem prefeito querendo reabrir comércio", reclama. "Esse é o tipo de realidade do qual eu tenho que fugir. Eu me refugiei nessas lives. É um lugar onde eu fico teimando em ser feliz, teimando em falar de coisas belas, em exaltar a cultura do Brasil", diz. Teresa sempre convida artistas famosos e nem tanto conhecidos para cantar alguma música com o tema do dia. Já apareceram Simone, Bebel Gilberto, Badi Assad, Simone Mazzer, Preta Gil, Caetano Veloso. MAURO FERREIRA: Teresa Cristina semeia afeto, empatia e seguidores com série diária de lives nas madrugadas "As pessoas procuram um alento, porque não é que no dia seguinte vai estar tudo rosa. A gente sabe que vai acordar e ter um dia duro, vai ter que lidar com declarações estapafúrdias, bizarras e criminosas. Pelo menos a gente quer ficar um pouco mais leve na hora de colocar a cabeça no travesseiro para tentar dormir", afirma. Pesquisa e planejamento de lives É impressionante a disposição e a dedicação de fazer lives diárias à capella, que são longas e embasadas em artistas diferentes. Os repertórios de Dona Ivone Lara, João Gilberto, Cazuza, Paulinho da Viola, Rita Lee já foram revisitados. A live em que cantou Djavan durou 5 horas sem cantar uma música repetida. Simone aparece na live que Teresa Cristina fez repertório dela e Ângela Roro Reprodução Depois de tantas lives, Teresa diz que foi vendo os erros e os acertos que contribuem para esse espaço conquistado entre os "Cristiners", nome da turma que "frequenta" religiosamente suas lives. Ela pretende continuar fazendo transmissões no Instagram e já está com os aniversários de Chico Buarque, Maria Bethânia, Gilberto Gil no radar para edições temáticas em junho. Com toda repercussão positiva, Teresa não acredita que vai chegar um momento em que vai parar de fazer as lives. Mas ela pensa em rever a frequência, que hoje é diária. "Talvez não todo dia, mas eu não posso parar assim de uma hora para outra, não porque se não vou ter que entrar em um "LA, Live Anônimos", diz, e solta uma gargalhada. As cenas de 'lives' da quarentena que já estão na história do entretenimento brasileiro