Negociação com BNDES avançou pouco, diz CEO da Latam Brasil
A ajuda para as companhias aéreas sobreviverem em meio à pandemia do coronavírus deve chegar apenas na primeira quinzena de julho, afirmam fontes que trabalham na estruturação da operação no Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).
A pandemia derrubou o número de voos no país em mais de 90%. O impasse hoje está na precificação dos valores que os credores vão receber, em ações das empresas, após o término do empréstimo. A operação deve ser feita com prazo de cinco anos.
Após esse período, o BNDES e os bancos privados poderão virar donos de uma fatia considerável das aéreas. Ou, se quiserem, vender esse dinheiro a outras empresas do setor. O entrave está aí: de quanto será a participação acionária desses financiadores ao fim da operação financeira?
Além disso, o banco público não quer entrar na operação sozinho. O BNDES aceitar arcar com até dois terços dos cerca de R$ 6 bilhões em debate para as três empresas brasileiras, além de uma fatia m menor para a fabricante Embraer.
O restante teria que vir de bancos e fundos de investimento.
Segundo a fonte ouvida pelo blog, a arbitragem do preço futuro por ações precisa ser do mercado. Pesam na decisão do BNDES o fato de o atual comando insistir na atuação como um banco de mercado e a necessidade de diferenciar esta operação de outras realizadas no passado – e muito criticadas.
O pano de fundo do debate é a transformação do setor após a pandemia. Há dúvidas não apenas sobre o tempo de recuperação das empresas e do mercado, mas também como o coronavírus terá transformado o setor. Serão as viagens corporativas tão necessárias no futuro?
O caso Latam
Em entrevista exclusiva à GloboNews, o CEO da Latam Brasil, Jerome Cadier, afirmou que as negociações com os bancos avançaram pouco nas últimas semanas (veja vídeo acima).
O grupo entrou com pedido de recuperação judicial nos Estados Unidos nesta terça (26), o qual não inclui a subsidiária brasileira, mas acende uma luz amarela em relação ao futuro do setor no Brasil.
Grupo Latam Airlines entra com pedido de recuperação judicial nos EUA
As negociações da Latam na corte de Nova York preveem um aporte de US$ 900 milhões por parte dos acionistas majoritários: a família chilena Cueto e a brasileira Amaro e a Qatar Airways. Empréstimo que, segundo Cadier, pode ajudar a destravar as negociações com os bancos aqui no Brasil
"Se o BNDES pedia que pelo menos R$ 600 milhões fossem colocados do mercado, a gente, a partir de ontem, tem US$ 900 milhões para a Latam como um todo. Se for considerar apenas a Latam Brasil, seria a metade: US$ 450 milhões que vão fluir do mercado pra financiar a empresa, além dos governos", declarou.
A Latam Brasil opera atualmente com apenas 5% dos voos previstos para essa época do ano. Em junho, a expectativa é elevar esse percentual para 8%. E em julho, para 18%.
Em meio à queda abrupta e intensa da demanda, a companhia já começou a reduzir a sua frota de aviões. Das 160 aeronaves que tem no país, devolveu 13 ontem e deve fazer novas devoluções nos próximos meses, segundo Cadier.
Nesse cenário preocupante e com a ajuda dos bancos emperrada, a Latam já começa a falar em possíveis demissões. Nessa semana e na próxima, vai começar a se reunir com sindicatos para avaliar reduções no quadro de funcionários a partir de julho.
"A queda de demanda é tão brutal que é muito difícil imaginar que manter uma estrutura – e ai eu não estou falando só de tripulação, mas de manutenção, aeroportos e administrativo – é muito difícil a gente entender que a mesma estrutura conseguirá operar de forma competitiva num mercado que é 40% ou 50% menor. Então algum ajuste vai ser necessário”, disse o CEO da Latam Brasil.