Elogiada por Alceu Valença, artista pernambucana tenta visibilidade nacional com disco em que apresenta onze músicas autorais. Capa do álbum 'Estamos vivos', de Isabela Moraes Leo Aversa Resenha de álbum Título: Estamos vivos Artista: Isabela Moraes Gravadora: Deck Cotação: * * * ♪ “Você, mesmo faísca, se me risca, entro em alta combustão”, avisa Isabela Moraes em verso do fluente xote Você distante, destaque do repertório inteiramente autoral de Estamos vivos, terceiro álbum desta cantora e compositora pernambucana nascida em Caruaru (PE) em agosto de 1980. À beira dos 40 anos, Isabela tenta visibilidade nacional após dois álbuns de restrita circulação regional – Agora ou nunca mais e Bandeira em Marte, este lançado no já longínquo ano de 2008 – e algumas músicas gravadas nas vozes de cantores como o conterrâneo Almério e a paulistana Mariana Aydar. Produzido por Juliano Holanda com Rafael Ramos, o álbum Estamos vivos está longe de conter o “fogo no deserto” – para citar outro termo usado na letra do xote Você distante – mas evita incêndios ao longo das 11 músicas do disco, todas compostas e assinadas somente por Isabela Moraes. E isso é bom e é ruim. Estamos vivos é álbum que irradia calor ao mesmo tempo em que impede a artista de personificar espécie de Ana Carolina do agreste – e mal nenhum há nisso se essa for a vocação de Isabela. Sim, Isabela Moraes arde na fogueira das paixões e das desilusões, como confessa na letra de Por nós dois, sedutora balada romântica pontuada pelo chamado da sanfona de Marcelo Jeneci. Em essência, Estamos vivos é disco de canções confessionais como a boa balada Do contra, em que a cantora e compositora versa sobre incompatibilidades de gênios conjugais, listando na letra paradoxos temperamentais como “Sou real, ela quer o mistério”. A presença do já citado Marcelo Jeneci (piano, Fender Rhodes e synth) na gravação da canção Do contra depõe a favor da faixa e do próprio disco, exemplificando o capricho de produção musical orquestrada com a arregimentação de músicos do quilate de Antonio Adolfo. A propósito, o toque do piano de Adolfo é ouvido em faixas como Ao redor do sol e Vida real, ambas curiosamente amplificadas com a batida do rock, em provável efeito do envolvimento do produtor Rafael Ramos na confecção do álbum Estamos vivos. Com a diferença de que Vida real sugere benéfica influência da obra do compositor pernambucano Accioly Neto (1950 – 2000) na criação do cancioneiro de Isabela Moraes. A música Servi pra você também aparece envolvida por embalagem roqueira. Se algo joga contra no disco, é a própria safra autoral da artista. O repertório soa irregular. A ladainha de Outra oração, o jorro de ansiedade que escorre em Tempo de esperas e o pueril perfil da população pobre esboçado em Quem disse? tornam injustificáveis o incenso de Isabela Moraes por parte de estrelas conterrâneas como Alceu Valença. O fato é que, lá pelo meio do álbum Estamos vivos, composições como Quando a saudade for te procurar – cuja letra rebate na tecla da separação afetiva – frustram expectativas. E é sintomático que o disco encerre com o incandescente solo psicodélico da guitarra de Juliano Holanda, no arremate da gravação de Pra nos perdoar, faixa em que Isabela Moraes canta a capella os versos do poema Oração à tua falta. A sensação que fica ao fim das 11 faixas é que o canto vulcânico de Isabela Moraes permanece à beira da erupção no álbum Estamos vivos sem entrar na alta combustão mencionada pela artista no xote Você distante.