Veja relatos de pequenos comerciantes sobre dificuldades para acessar linhas de financiamento anunciadas pelo governo federal para conter efeitos econômicos da pandemia. Pequenos comerciantes vêm enfrentando dificuldades para acessar benefícios e linhas de financiamento anunciados pelo governo federal para combater os efeitos econômicos da pandemia da Covid-19. (Vejas relatos abaixo) Donos de estabelecimentos de comércios e serviços que estão sem poder abrir as portas e têm faturamento em queda, esses pequenos empresários não conseguem acesso ao crédito prometido. Já foram anunciados: auxílio emergencial de R$ 600 para trabalhadores informais, desempregados, contribuintes individuais do INSS e MEIs; linha de crédito emergencial voltada a pequenas e médias empresas para pagamento do salário de funcionários; linha de crédito da Caixa Econômica Federal para microempreendedor individual e micro e pequenas empresas. Economistas e analistas ouvidos pelo G1 avaliam que as medidas anunciadas pelo governo para mitigar os impactos econômicos provocados pela pandemia do coronavírus são insuficientes, falhas e não estão chegando a todos que precisam. Micro e pequenos empresários sofrem com burocracia e escassez de crédito Relatos de quem buscou auxílio Veja relatos de donos desses pequenos negócios espalhados pelo Brasil – como lanchonete, academia e barraca de feira – sobre obstáculos para garantir pagamentos de funcionários e fornecedores, entre outros. Dificuldade na análise de crédito Imagem de lanchonete que fica na Universidade de São Paulo (USP); proprietária relata dificuldade para obter linhas de crédito do governo Divulgação Monyca Sanches, que é proprietária de uma lanchonete dentro do campus da Universidade de São Paulo (USP), não aderiu a nenhuma das alternativas oferecidas pela Caixa ou BNDES. Ela chegou a procurar a uma linha de crédito emergencial para financiar o salário dos trabalhadores pelo período de dois meses. No entanto, as empresas interessadas nessa opção são submetidas à análise de crédito das instituições financeiras. “Essa linha emergencial para custeio de folha de pagamento, a gente recebeu uma oferta do Banco do Brasil, mas é muito cara. Além disso, eles querem que você tenha o valor de caução. Se você tiver um empréstimo em outros bancos, já era, eles não dão. Ou então você tem de dar um bem no valor dos salários como garantia. É muito difícil ter esses requisitos para quem tem um negócio pequeno”, afirma. Falta de informações Dono de um restaurante de comida japonesa no Distrito Federal, Jael Antônio da Silva, de 73 anos, conta que ainda não conseguiu acessar as opções de empréstimo ofertadas pelo governo. De acordo com ele, a maioria das linhas de crédito "não está devidamente regulamentada" e os bancos não operam com elas. “O dinheiro do BNDES, por enquanto, só se encontra no papel, porque não foi feita a alocação dos recursos. Os agentes financeiros, de uma maneira geral, são o Banco do Brasil e a Caixa Econômica Federal. Você vai lá pegar informação, e eles não têm nada para te dizer, porque não foram informados ainda." Silva avalia a situação como "calamitosa" e diz que nenhum de seus amigos do grupo de empresários do qual faz parte parte conseguiu retirar o benefício. Pedido no BNDES negado Também do DF, Gabriel Rocha, de 38 anos, é dono de um bar e restaurante – o negócio está fechado há 60 dias. Rocha conta que que, na semana passada, conseguiu fazer a solicitação de crédito para o capital de giro pela Caixa Econômica Federal. Gabriel Rocha, de 38 anos, é dono de um bar e restaurante Arquivo pessoal Já no site do BNDES o pedido não foi aprovado – e não foram informados motivos para a negativa. "Talvez tenha alguma restrição devido ao período em que estamos fechados ou pode ser falta de garantia real também, mas não explicam." O G1 questionou Banco do Brasil, Caixa e BNDES sobre as dificuldades na concessão desses créditos, mas não obteve retorno até a última atualização desta reportagem. Dificuldade com burocracia Flávia Silva é dona de salão de beleza no Recife há 13 anos e também não conseguiu acesso a uma linha de crédito para manter o negócio. “No primeiro momento, quando se falou em fechar os salões, eu procurei algumas linhas de crédito junto com o Sebrae e fui para o Banco do Nordeste. Solicitaram um avalista, e aí eu não pude dar andamento ao processo por conta disso", diz. "A Caixa Econômica disse que eu estava habilitada pelo Sebrae a ter esse crédito, mas, como eu não era correntista da Caixa, não tinha como dar andamento à minha solicitação. Mais uma vez, esbarrei numa burocracia e fiquei sem ter como captar esse crédito até hoje. Sempre fiz de tudo para manter a empresa ok, com todos os impostos, encargos, tributos. No momento em que a gente necessita utilizar isso tudo que a gente construiu, não consegue, porque sempre esbarra numa dificuldade." Custos da operação Nilson Medeiros, dono de academia também no Recife, avalia que “a burocracia é a dificuldade para você ter acesso aos bancos públicos". "Mas nós esbarramos, mesmo, foi nos custos da operação. A gente precisava desse valor para cobrir as operações da volta da academia, da volta do nosso negócio, por pelo menos entre três e quatro meses – e, no final das contas, o que dificulta mesmo é o valor do empréstimo." Sem resposta do banco Empresário do ramo de autopeças há 50 anos, Caetano Carvalho, de 63, conta que há duas semanas foi a uma agência bancária de Campo Grande (MS) para tentar a linha de crédito, mas teve o pedido negado. "Na primeira tentativa [linha de crédito] eu não consegui. Levei todas as folhas de pagamento de todos os funcionários ao banco, acompanhado de todos os documentos necessários para solicitar o crédito", lembrou. "Eu ainda estou sem uma resposta. São tantos os documentos, mesmo não tendo nenhuma restrição no meu empreendimento”, lamenta. Ela afirma que, na mesma agência, conseguiu apenas usar o limite disponível para honrar a folha de pagamento e pagar fornecedores. O G1 entrou em contato com o banco no qual Caetano tem conta para saber o motivo do crédito ter sido negado, mas até a última atualização da reportagem não havia obtido retorno. Auxílio emergencial negado A feirante Geane Ferreira, de 46 anos, vende bananinha frita na Feira de Economia Solidária, em Rio Branco, junto com o marido, Eliezio Rodrigues, de 60 anos. Ela conta que está há dois meses com as atividades paradas e que desconhecida a linha de crédito do BNDES, mas diz que chegou a tentar fazer cadastro para receber o Auxílio Emergencial – e teve o pedido negado duas vezes. A renda mensal da família variava entre R$ 1,5 mil a R$ 2 mil. “Somos só nós dois aqui em casa, não temos outra renda a não ser das nossas vendas. Agora, estamos vivendo com uma ajuda um pouco dali, outro de cá", diz Geane. Empréstimo pode prejudicar negócio Dona da marca Rio Açaí, a empresária Simone Ferreira, de 43 anos, viu seu faturamento cair quase 90% nas primeiras semanas após as medidas de isolamento social serem implementadas no Rio. Antes da pandemia, ela comandava uma equipe com quatro pessoas que vendiam açaí nas areias da praia do Leblon, na Zona Sul. "Eu vendia, em média, 150 copos de açaí por dia e hoje vendo entre 10 e 15 unidades", afirma. Ela contou que deu entrada no pedido de Auxílio Emergencial de R$ 600 em 7 de março, e ele foi aprovado em 15 de maio. Simone diz que não se interessou por outras medidas linhas de crédito. Disse que pegar empréstimo nesse momento não seria bom para o negócio. Produção da Rio Açaí, que viu cair as vendas durante a pandemia Divulgação Ministério da Economia defende fortalecer programas sociais, mas sem Auxílio Emergencial permanente Initial plugin text