Nasdaq caiu 1,55%, para 8.863,17 pontos, e voltou ao território negativo no acumulado do ano. As bolsas de Nova York fecharam em forte queda pelo segundo dia consecutivo. A quarta-feira (13) começou com os futuros dos índices acionários apontando para uma sessão de ganhos, mas os investidores digeriram mal os sinais emitidos pelo presidente do Federal Reserve (Fed), Jerome Powell, em um evento online organizado pelo Instituto Peterson de Economia Internacional. O Nasdaq, que na terça-feira cedeu 2,06%, caiu mais 1,55%, para 8.863,17 pontos, e voltou a território negativo no acumulado do ano (-1,22%). O índice de blue chips Dow Jones também recuou mais 2,17%, para 23.247,97 pontos, e o S&P 500 terminou a quarta-feira em queda de 1,75%, a 2.820,00 pontos. Wall Street fecha em forte queda pelo segundo dia consecutivo Brendan McDermid/Reuters O chefe do banco central americano jogou um balde de água fria em quem torce por uma taxa de juros negativa nos EUA, incluindo o presidente Donald Trump. Também reforçou a percepção já demonstrada por outros membros do Fed na semana, de que a recuperação da economia, severamente impactada pela pandemia de covid-19, provavelmente será mais lenta do que o mercado gostaria, clamando por novos estímulos fiscais do Capitólio e da Casa Branca. “O escopo e a velocidade dessa crise não têm precedentes modernos, significativamente piores do que qualquer recessão desde a Segunda Guerra Mundial”, disse, alertando que “a recuperação pode levar algum tempo para ganhar impulso e com o tempo pode transformar problemas de liquidez em problemas de solvência”. Todos os 11 setores do S&P 500 terminaram o dia no vermelho. Ações de companhias aéreas, energia e ações de bancos tiveram as maiores perdas. A United Airlines, por exemplo, caiu 8,88%, a Halliburton desvalorizou 9,06% e o Wells Fargo cedeu 6,24%. No pano de fundo desse cenário, Trump publicou tuítes pouco agradáveis a grandes investidores. Ele atacou o que chamou de “caras ricos” que dão declarações negativas sobre o mercado de ações em benefício próprio. “Você deve sempre lembrar que alguns estão apostando muito contra [o mercado] e ganham muito dinheiro se [as bolsas] caírem. Então, eles se tornam positivos, obtêm grande publicidade e crescem. Eles te pegam nos dois sentidos”, escreveu o presidente americano, questionando se isso seria legal. A declaração vem após o bilionário Stanley Druckenmiller ter dito no Clube Econômico de Nova York que neste momento “a recompensa pelo risco em ações é, talvez a pior que já viu”, segundo um post da organização no Twitter. O gerente de fundos de hedge David Tepper também disse à CNBC hoje que as ações estão supervalorizadas. Nos últimos dias, o S&P 500 foi negociado a 21,14 vezes acima das projeções de lucros das empresas nos próximos 12 meses, o nível mais alto desde março de 2002, de acordo com o Dow Jones Market Data. Mas os investidores questionam a confiabilidade das previsões de lucros nos próximos trimestres, dada a incerteza sobre o curso da pandemia e a recuperação econômica. Os participantes do mercado têm procurado ansiosamente qualquer pista sobre a duração da crise e não encontraram conforto nas palavras de Powell. Além disso, economistas consultados pelo “Wall Street Journal” preveem que a contração dos EUA será maior do que previsto anteriormente. Segundo o levantamento, o Produto Interno Bruto (PIB) americano deve encolher 6,6% este ano, medido a partir do quarto trimestre de 2019, um rebaixamento em relação à queda de 4,9% prevista na pesquisa do mês passado. Os economistas ainda apontaram que a taxa de desemprego nos EUA deverá atingir 17% em junho, contra 13% na pesquisa do mês passado. Outro sinal de que a economia americana está em situação difícil veio com o índice de preços ao produtor (PPI, na sigla em inglês), que caiu 1,3% em abril em relação ao mês anterior, informou o Departamento do Trabalho nesta quarta-feira. É a maior queda desde dezembro de 2009. Sobre abril de 2019, o PPI geral teve deflação de 1,2% no mês passado. As notícias ruins do dia sucederam as da véspera, quando diretor do Instituto Nacional de Alergias e Doenças Infecciosas, Anthony Fauci, alertou que uma retomada precoce da economia pode provocar “sofrimento e mortes desnecessárias” e novos movimentos ameaçam levar a troca de acusações entre Washington e Pequim para um patamar mais perigoso. Na terça-feira, o senador Lindsey Graham propôs uma lei que permitiria a Trump impor sanções à China caso o país não investigue as origens da pandemia. Um segundo tuíte de Trump, inclusive, colocou em dúvida a eficiência do acordo comercial de “primeira fase” assinado em janeiro com a China. “Como já disse há muito tempo, lidar com a China é uma coisa muito cara a se fazer. Acabamos de fazer um ótimo acordo comercial, a tinta estava quase seca e o mundo foi atingido pela praga da China. Cem acordos comerciais não fariam a diferença – e todas aquelas vidas inocentes perdidas”, atacou. Para azedar ainda mais, por pressão da Casa Branca, o Federal Retirement Thrift Investment Board (FRTIB), principal fundo de pensão do governo federal dos EUA, interrompeu um plano de transferir alguns de seus investimentos para empresas chinesas após Trump que a medida prejudicaria a segurança nacional. “Teremos mais e mais barulho em torno dessa questão [EUA-China]”, disse Sophie Chardon, estrategista da Lombard Odier. Ainda assim, a analista espera que Washington tente evitar uma repetição do conflito comercial. “No fim das contas, não é bom para a economia ter tarifas muito altas – especialmente em um ano em que você tem eleições nos EUA e já tem a crise da covid-19”.