Ela vinha lutando para manter seu salão com baixo movimento mas, com a quarentena, seu foco passou a ser ter dinheiro para comprar itens básicos como comida e remédio. Rudania dos Santos Dias da Silva teve que fechar salão e agora está contando com a ajuda de clientes para comprar comida e remédio para depressão Arquivo pessoal A manicure Rudania dos Santos Dias da Silva, de 38 anos, estava lutando há quatro anos para manter seu salão de beleza em funcionamento. Mas o movimento – que já vinha fraco – caiu para zero com o fechamento do seu estabelecimento por causa da pandemia do novo coronavírus. Se antes o foco de Rudania era atrair mais clientes para o salão, agora sua única preocupação é sobreviver sem renda – ela diz que tentou receber o auxílio emergencial de R$ 600, mas teve o pedido negado. A manicure contestou e está esperando resposta. “O negócio já estava fraco, cada dia era uma luta, mas eu não quero desistir do meu sonho que é ter meu próprio negócio, que eu consegui com muita luta, pagando em várias parcelas, e hoje me vejo tendo dificuldade para pagar água, luz, telefone, aluguel, despesa da casa”, conta. Sem renda e com dificuldades para receber o Auxílio Emergencial, trabalhadores dependem de ajuda para atravessar pandemia 'Estou vivendo com a ajuda de algumas mães', diz pipoqueiro sem trabalho no Rio Sem dinheiro, supervisor de call center vive com ajuda da mãe e da sogra 'Estamos vivendo da ajuda dos meus clientes', diz empregada doméstica da periferia de SP Juntei tudo que eu podia para vender', diz fotógrafo de baladas em SP Rudania é manicure desde os 13 anos. Ela se mudou da Paraíba para São Paulo aos 16 anos. Trabalhou como doméstica em dias de semana e fazia serviços de manicure aos finais de semana em salões de beleza, até conseguir um trabalho fixo em um salão há cerca de 14 anos. Depois de 4 anos, a então proprietária decidiu ir embora de São Paulo e Rudania realizou seu sonho de ter seu próprio negócio. Nesses 10 anos, Rudania conseguiu manter o negócio em pé, mesmo com o baixo movimento que começou após o início da crise econômica no país. Antes de fechar seu salão por causa da pandemia, ela contava com os serviços de dois cabeleireiros e outra manicure. Agora nenhum deles está podendo trabalhar e não há perspectiva de quando o salão será reaberto. “A situação já não vinha boa, mas a gente lutava juntos. Hoje me vejo numa situação muito difícil porque trabalham três pessoas comigo e não posso ajudá-los porque no momento nem eu tenho como sobreviver. Todos nós dependemos do salão”, lamenta. Rudania está em tratamento de depressão que, segundo ela, começou há três anos por causa da queda no movimento do salão. Mas nem para comprar os remédios ela tem dinheiro. A manicure conseguiu comprá-los com o auxílio de uma cliente. E ela diz que só está conseguindo comer porque outras três clientes estão dando uma ajuda de custo. “A queda foi para zero. As economias que eu tinha foram embora. Minha conta está zerada. Agora eu luto para pagar aluguel, luz, internet, água, dívidas dos produtos do salão, com muita dificuldade e apoio de alguns clientes”, diz. Rudania mora com um filho de 10 anos e sustenta a casa sozinha. Além das contas de consumo atrasadas, ela também não está conseguindo pagar o aluguel e condomínio do apartamento onde mora nem do salão. O aluguel de sua casa e as contas de consumo estão atrasados há dois meses, e o aluguel do salão ela não paga há três meses. “Eu tentei negociar o aluguel da casa, mas a dona não aceitou. Eu falei que ela não podia me colocar para fora do apartamento porque está todo mundo passando por essa situação, a gente não tem cliente para trabalhar, eu dependo do meu salão para pagar as contas, mas ela me ameaçou com despejo mesmo assim”, afirma. Ela ainda tem dívidas no cartão de crédito do seu cunhado. “Eu sempre usei o cartão dele, e nem ele entende a minha situação”, diz. Rudania tem medo ainda que a luz, água e telefone sejam cortados por causa da falta de pagamento. “Com toda essa dificuldade não estou legal, tive uma recaída na depressão, não está sendo fácil. Não estou dormindo de tão preocupada com tudo isso que está acontecendo. Meu filho está muito triste de me ver nessa situação”, afirma.