Capa do álbum 'Essa é a sua vida', de João Bosco Arte de Elifas Andreato ♪ DISCOS PARA DESCOBRIR EM CASA – Essa é a sua vida, João Bosco, 1981 ♪ Cantor, compositor e violonista mineiro revelado em 1972, no Disco de Bolso do jornal O Pasquim que o debutante mineiro dividiu com o então já soberano Antonio Carlos Jobim (1927 – 1994), João Bosco chegou ao Brasil sobretudo através da voz avalizadora de Elis Regina (1945 – 1982). Atenta aos sinais, a antenada cantora logo se apropriou da parceria nascente de Bosco com o carioca Aldir Blanc, bamba das letras. Elis lançou várias obras-primas da dupla entre 1972 e 1979. Nesse período, Bosco construiu paralelamente, a partir de 1973, discografia como cantor na gravadora RCA. Pela RCA, Bosco gravou sete álbuns de 1973 a 1981. Alguns, como Caça à raposa (1975) e Galos de briga (1976), ajudaram a projetar a voz e a imagem do cantor em escala nacional. Outros, como Bandalhismo (1980), passaram despercebidos. Foi também o caso do derradeiro álbum de Bosco na companhia, Essa é a sua vida, disco produzido por Bosco, arranjado pelo pianista Cristovão Bastos e lançado em 1981 com repertório inteiramente autoral pautado por regravações de músicas que o artista cedera para outros intérpretes e que até então nunca registrara na própria discografia. A única entre as dez parcerias de Bosco e Blanc que já havia sido gravada por Bosco na própria obra fonográfica era Agnus sei (1972), justamente o título inaugural da parceria, lançado em 1972 no mencionado Disco de Bolso do Pasquim. Composição intrincada, Agnus sei reapareceu no álbum Essa é a sua vida com arranjo calcado na interação do violão de Bosco com as cordas e com as percussões tocadas por Chacal, Cidinho e Gilberto D'Ávila. O violão de Bosco, a propósito, conduziu a tensão que moveu a abordagem de Cabaré (1973), música lançada há oito anos na voz de Elis. A seleção de repertório do álbum Essa é a sua vida rebobinou sucessos como Corsário (1975), música lançada por Ney Matogrosso no primeiro álbum solo do cantor revelado como vocalista do grupo Secos & Molhados, mas também reapresentou composições que soaram como inéditas, caso de Perversa (1980), canção sobre o torpor do ciúme lançada no ano anterior pela cantora Malú Moraes e abordada em 1981 por Cristina Buarque. Bafejada pelos sopros do trompete de maestro Nelsinho e do saxofone alto de Oberdan Magalhães (1945 – 1984), a canção De partida (1976) também soou como novidade para quem desconhecia a obscura gravação feita por Elizeth Cardoso (1920 – 1990) cinco anos antes. Aberto pelo bolero Amigos novos e antigos (1974), lançado por Maria Alcina um ano antes de ter batizado álbum editado por Vanusa em 1975, o álbum Essa é a sua vida resultou tenso na maior parte das dez faixas. O clima somente desanuviou na regravação de Foi-se o que era doce (1974) por conta da efervescência rítmica desse samba maxixado lançado na voz esfuziante da mesma Maria Alcina, com letra em que Aldir Blanc mostrou a habilidade para fazer crônicas sociais em versos que caíam no suingue sem perder o ritmo. O frenesi rítmico também ditou a regravação do choro Títulos de nobreza (1975), composto por Bosco e Blanc para a cantora Ademilde Fonseca (1921 – 2012), como já sugeria o subtítulo Ademilde no choro. Pouco conhecida, a música-título Essa é a sua vida (1979) já tinha ganhado o violão de Bosco na gravação original feita pela cantora Aline. Música apresentada por Elis Regina em 1973, O caçador de esmeralda – música assinada por Bosco e Blanc com a adesão de Cláudio Tolomei – completou e fechou o repertório de Essa é sua vida, disco editado com capa criada por Elifas Andreato sem a maestria habitual do artista gráfico. Álbum gravado por Bosco para encerrar contrato com a RCA, gravadora com a qual o cantor já vivia relação desgastada naquele ano de 1981, Essa é a sua vida encerrou ciclo na discografia de Bosco. Contratado pela Ariola, companhia então recém-instalada no Brasil, o artista prosseguiu a carreira fonográfica com o álbum Comissão de frente (1982) e com o primeiro disco ao vivo, editado em 1983. Mais tarde, já na Barclay, o cantor lançou Gagabirô (1984), último disco calcado na emblemática parceria de Bosco com Aldir Blanc. Uma das pedras fundamentais da MPB na década de 1970, essa parceria gerou ótimos álbuns ainda a serem descobertos, caso em especial de Essa é a sua vida.