Para a entidade, retomada mais robusta neste ano seria improvável, mesmo em situações normais. O Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil cresceu 0,2% em fevereiro, em comparação com janeiro na análise da série dessazonalizada, segundo o Monitor do PIB, calculado pela Fundação Getulio Vargas (FGV). A economia também avançou 0,2% no trimestre móvel encerrado em fevereiro, contra o encerrado em novembro, apronta a projeção. Na comparação interanual, houve alta de 0,8% no mês e de 1,1% no trimestre móvel.
“O crescimento da economia em fevereiro continuou baseado, principalmente, no consumo das famílias, com particular destaque para o consumo de serviços. O investimento voltou a cair neste mês e a taxa de investimentos encontra-se bem abaixo da média da série histórica desde 2000”, comenta, no relatório, o coordenador do Monitor do PIB, Claudio Considera.
Para ele, embora esteja claro que 2020 será marcado pela forte desaceleração econômica em decorrência da pandemia do novo coronavírus, “os resultados até fevereiro mostram que uma retomada mais robusta da economia brasileira seria pouco provável, mesmo em situações normais, dada a fragilidade da composição da demanda com crescimento via consumo que vinha sendo estimulado por medidas pontuais adotadas pelo governo, como a liberação do FGTS”.
“A partir da próxima divulgação, referente a março, será possível analisar a dimensão do impacto negativo que esta pandemia tem provocado na economia brasileira”, concluiu o economista.
Atividades econômicas
Das três grandes atividades econômicas, apenas a indústria se retraiu em fevereiro, na comparação dessazonalizada (-0,3%). Na análise interanual, a indústria cresceu, assim como a agropecuária e os serviços. Pela ótica da demanda, cabe destacar o desempenho negativo da formação bruta de capital fixo (FBCF), que recuou 2,1% na comparação com o mês imediatamente anterior e 1,2% com o mesmo período do ano passado.
Para análise desagregada dos componentes da demanda, a FGV utiliza a série trimestral interanual por considerar que ela apresenta menor volatilidade do que as taxas mensais e aquelas ajustadas sazonalmente, permitindo melhor compreensão da trajetória de seus componentes.
Em termos monetários, o PIB em valores correntes foi de aproximadamente R$ 1.230.712 milhões, ou R$ 1,231 trilhões, no primeiro bimestre de 2020.
Componentes
O consumo das famílias cresceu 1,5% no trimestre móvel findo em fevereiro, em comparação ao mesmo trimestre de 2019. O consumo de serviços, que representa cerca de 50% do consumo das famílias, foi responsável por 1,1 ponto percentual desse crescimento (ou aproximadamente 70%).
Desde meados de 2018, o consumo de serviços tem mostrado grande relevância para o crescimento do consumo das famílias, com desaceleração do consumo de bens. Em fevereiro, os destaques foram alugueis e serviços prestados às famílias.
A FBCF se retraiu 0,7% no trimestre móvel findo em fevereiro, em comparação ao mesmo trimestre do ano anterior. Apesar de negativa, essa variação mostra reversão da trajetória descendente apresentada desde o trimestre findo em novembro de 2019. A retração do componente é explicada pela queda no componente de máquinas e equipamentos que foi influenciada, principalmente, pelos desempenhos negativos dos segmentos de tratores e de automóveis em geral.
A exportação de bens e serviços apresentou queda de 6,0% no trimestre móvel encerrado em fevereiro, em comparação com o mesmo trimestre do ano anterior. A exportação está em queda desde o trimestre móvel findo em julho de 2019, com contribuição negativa de quase de todas as categorias destacadas na análise. Até fevereiro, as retrações dos bens de capital (-37,3%), dos produtos agropecuários (-18,0%) e dos bens intermediários (-6,8%) foram as mais significativas.
A importação cresceu 3,4% no trimestre móvel findo em fevereiro, comparativamente ao mesmo trimestre do ano anterior. A importação de bens de capital (19,2%) e de bens intermediários (2,8%) foram as que mais contribuíram para o desempenho positivo do componente. O principal destaque negativo foi a retração da importação de produtos da extrativa mineral (-6,2%).
A taxa de investimento no mês de fevereiro foi de 13,8%, na série a valores correntes. Essa taxa está abaixo da taxa de investimento mensal média desde janeiro de 2000 e também desde janeiro de 2015. A menor taxa de investimento mensal observada, desde 2000 foi 13,3%, em dezembro de 2019.