Os nove álbuns de estúdio lançados pelo cantor baiano naquela década precisam ficar disponíveis para streaming. ♪ ANÁLISE – É provável que, com a morte repentina de Moraes Moreira (1947 – 2020) na madrugada de segunda-feira, 13 de abril, as gravadoras logo comecem a arremessar álbuns do cantor nas plataformas de áudio. A indústria da saudade sempre se mostrou pronta para entrar em ação com rapidez no universo pop. O que causa espanto é que muitos discos do cantor, compositor e violonista baiano – em especial os nove álbuns de estúdio lançados pelo artista ao longo dos anos 1980 – nunca tenham merecido edição digital. Quase todos sequer foram editados no formato de CD quando as gravadoras investiam no poder de sedução das bolachinhas prateadas. Editada pela gravadora Ariola (de 1980 a 1984) e pela CBS (de 1985 a 1988, ano em que o cantor lançou dois álbuns), a discografia solo de Moraes Moreira nos anos 1980 costuma ser subestimada no confronto com a obra do grupo Novos Baianos. De fato, nenhum álbum solo de Moraes naquela década causou revolução musical como Acabou chorare (1972), pedra fundamental da discografia do grupo baiano que revelou Moraes para o mundo a partir de 1969. No entanto, são álbuns vigorosos em que o artista expandiu cancioneiro calcado na alegria tropical, procurando se atualizar sem se render aos modismos musicais da época. Os álbuns Bazar brasileiro (1980), Moraes Moreira (1981), Coisa acesa (1982), Pintando o oito (1983), Mancha de dendê não sai (1984), Tocando a vida (1985 – único da década lançado em CD), Mestiço é isso (gravado em 1986, mas lançado em janeiro de 1987), República da música (1988) e Bahiano fala cantando (1988) apresentaram repertórios inspirados que formaram parte expressiva da obra autoral do compositor. É fato que tais álbuns não concentram os maiores sucessos de Moraes Moreira, com exceções de Coisa acesa (disco que emplacou a música-título nas rádios e na trilha sonora da novela Final feliz) e de Mestiço é isso, disco do grande hit radiofônico Sintonia (Moraes Moreira, Fred Góes e Zeca Barreto, 1987) que também trouxe pot-pourri com sucessos carnavalescos e juninos do autor de Festa no interior (com Abel Silva, 1981) e Chame gente (parceria com Armandinho, de 1985). Contudo, são discos em que Moraes Moreira se exercitou com maestria na composição de sambas, frevos, marchas, baiões, choros e lambadas e outros ritmos em sintonia com a mistura pop tropicalista do artista. Pela grande contribuição dada por Moraes Moreira à música brasileira, o mínimo que se espera é que os detentores dos direitos da obra fonográfica do artista a tornem acessível – com a devida remasterização – para antigos admiradores e novos seguidores que hão de surgir, chamando mais gente para reouvir e/ou descobrir uma discografia luminosa.