
Um dos grandes nomes da MPB, o artista baiano foi encontrado morto em sua casa, no Rio, aos 72 anos. Moraes Moreira foi homenageado no programa Som Brasil em 2009 TV Globo / Zé Paulo Cardeal Baiano da pequena Ituaçu, Antonio Carlos Moreira Pires — ou apenas Moraes Moreira — embalou as festas de um Brasil inteiro. Do rock ao samba, passando pelo forró, axé ou frevos, o cantor e compositor deixou sua marca na MPB durante mais de 50 anos de carreira. Aos 72 anos, Moraes Moreira foi encontrado morto em sua casa, no Rio de Janeiro, nesta segunda-feira, 13, após sofrer um infarto, segundo sua assessoria. "Deixa saudade e uma grande obra", escreveu Gilberto Gil, em homenagem ao amigo e conterrâneo. Para relembrar a carreira desse artista que fez história com o grupo Novos Baianos e em carreira solo, a BBC News Brasil selecionou sete músicas para conhecê-lo melhor. Confira: Preta Pretinha "Assim eu ia lhe chamar, enquanto corria a barca". Com letra de Luiz Galvão, Moreira musicou aquele que seria um dos maiores sucessos dos Novos Baianos. A canção faz parte do álbum Acabou Chorare, de 1972, e não demorou muito para virar febre nas rádios pelo país. O grupo foi formado em 1969, em Salvador, do encontro de Luiz Galvão, Moreira, Paulinho Boca de Cantor e Baby Consuelo, hoje conhecida como Baby do Brasil. Em 1970, lançaram o primeiro LP, É Ferro na Boneca, com rock e inspirações psicodélicas e da Jovem Guarda. A letra de Preta Pretinha, repetitiva, vem de um romance frustrado de Galvão com uma jovem de Niterói (RJ), como ele contou no livro Anos 70: novos e baianos — daí a referência à barca, que liga o Rio de Janeiro à cidade do outro lado da Baía de Guanabara. Pombo Correio Não é exagero dizer que o carnaval brasileiro tem uma mão de Moraes Moreira. Foi com a marchinha Pombo Correio, em 1978, que a arte de Moreira ganhou as ruas em fevereiro. Até então, os trios elétricos de Salvador, criados por Dodô e Osmar, tocavam apenas música instrumental. Por isso, Moreira é considerado o primeiro cantor de trio elétrico do Brasil, abrindo o caminho para uma geração de artistas da Bahia. Lá Vem o Brasil Descendo a Ladeira Moraes Moreira contava que a ideia dessa canção surgiu após uma noitada no Rio de Janeiro, junto ao seu amigo João Gilberto. A presença do carioca na comunidade dos Novos Baianos, que passaram a morar no Rio, é considerada essencial para o caráter múltiplo do grupo, fundindo samba, frevo, baião, rock, etc. "Numa daquelas ladeiras maravilhosas do Rio, João viu uma mulata descendo de manhã com todo o suingue, toda energia, partindo pra vida, mas sem se queixar de nada. Ele olhou e disse: 'Olha lá o Brasil descendo a ladeira'. E daí nasceu essa música", declarou Moreira na gravação do acústico MTV, em 1995. O sucesso está no disco solo homônimo, lançado em 1979 e que consolidou a carreira de Moreira nos anos seguintes. Chão da praça Do mesmo disco Lá vem o Brasil descendo a ladeira, veio outro hit de Moreira: Chão da Praça. A canção é considerada uma das antecessoras do que viria a ser rotulado como axé music na década de 1980. A música é uma composição de Moreira com o cearense Fausto Nilo. No livro Sonhos Elétricos, Moreira contou qual foi a ideia para a composição: " Era na verdade uma grande homenagem à praça do Poeta, que já vinha sendo referenciada também por outros artistas." A praça em questão é a Castro Alves, no coração do centro de Salvador, em homenagem ao autor de O Navio Negreiro. A canção segue sendo um dos hinos do carnaval da Bahia. Besta é tu Com composição conjunta com Luiz Galvão e Pepeu Gomes, Besta é Tu ficou imortalizada na voz de Moraes Moreira. A canção também faz parte do Acabou Chorare, o álbum mais emblemático dos Novos Baianos. "Besta é tu" é, na verdade, uma forma de aprendizado de violão, chamada assim no interior da Bahia onde Moreira nasceu. "É no tom de Lá menor, que é o primeiro tom que a pessoa aprende. Quando consegue fazer o besta-é-tu, é uma felicidade", demonstrava Moreira em seus shows. Lenda do Pégaso Em 1980, Moares Moreira lançou o LP Bazar brasileiro, em carreira solo. Em parceria com Jorge Mautner, um dos grandes nomes da MPB, compôs a música de Lenda do Pégaso, uma fábula em forma de canção, comprovando o teor criativo e inovador do trabalho de Moreira. A canção quase infantil é sobre um passarinho tido como feio que queria ser outras aves, enxergando nelas qualidades que não possuía. "Aí então Deus chegou e disse: pegue as mágoas, pegue as mágoas e apague-as. Tenha o orgulho das águias. Deus disse ainda: é tudo azul, e o passarinho feio virou o cavalo voador, esse tal de Pégaso", encerra a música. Mistério do Planeta Também parte de Acabou Chorare e também da parceria entre Moreira e Luiz Galvão, Mistério do Planeta é um dos sucessos que permanecem na boca dos brasileiros até hoje. "Vou mostrando como sou. E vou sendo como posso. Jogando meu corpo no mundo. Andando por todos os cantos", começa a canção. É uma das músicas que mostra um dos aspectos importantes da música dos Novos Baianos e Moraes Moreira, que é a incorporação de diversas vertentes musicais e a ode à liberdade artística. Em 17 de março, Moreira publicou o seu último post no Instagram, com um cordel sobre a quarentena, onde escreveu: Vivemos num mundo insano. Queremos mais liberdade. Pra que tudo isso mude. Certeza, ninguém se ilude. Não tem tempo, nem idade".