Teorias conspiratórias apontam nova tecnologia como uma das causas da pandemia. Especialistas refutam possibilidade e apontam erros em mensagens falsas. Redes de telefonia 5G propagam o coronavírus e diminuem a imunidade das pessoas, facilitando a infecção e turbinando a pandemia, afirmam textos e vídeos que têm bombado na web nos últimos dias. Eles são #FAKE. G1 As mensagens dizem que existe um aumento de casos de coronavírus nos países onde há maior concentração de antenas. Em uma delas, o narrador afirma que está em curso um plano de dominação para uma nova ordem mundial. No Brasil, um desses vídeos tem cerca de 150 mil visualizações. No Reino Unido, torres da rede 5G foram queimadas após a divulgação dessas teorias conspiratórias. Cientistas e autoridades de saúde refutam veementemente essas mensagens e lamentam os episódios de vandalismo. A diretora do Instituto de Medicina Tropical (IMT-USP) Ester Sabino, uma das responsáveis pelo sequenciamento do genoma do novo coronavírus, afirma: "O problema é as pessoas usarem o celular e não limparem as mãos e o próprio aparelho. Isso, sim, transmite a Covid-19, não a antena 5G". O infectologista Leonardo Weissmann, consultor da Sociedade Brasileira de Infectologia, afirma que "é uma ideia absurda afirmar que as ondas de rádio 5G aumentam a propagação do vírus causador da Covid-19". Ele também diz que "é uma grande bobagem afirmar que causa danos no sistema imunológico das pessoas". "Precisamos tomar muito cuidado com as fake news, que se propagam tanto ou mais que o próprio vírus." Pesquisador da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e consultor da Sociedade Brasileira de Imunologia, Gustavo Menezes explica que o vírus não passa pela rede 5G. "Primeiro que o vírus é um microorganismo e por mais que ele seja pequeno, na ordem de nanômetro de tamanho, ele é muito maior do que um pulso elétrico. O vírus é formado por diversas proteínas, átomos, que são muito maiores do que o elétron que passa pelas redes. Por esse motivo, é impossível fisicamente um microorganismo transitar por uma rede, onde passam elétrons, que são muito menores do que o vírus. O vírus é formado por milhares de elétrons porque são milhares de átomos que formam o vírus. Fisicamente, estamos falando de uma bolinha de gude em comparação com a casa. O vírus é muito maior do que a energia que passa pelas redes", diz. Ele também explica que as ondas não afetam a imunidade das pessoas. "As ondas de telefonia, sejam elas 3G, 4G, 5G, já tem a 6G planejada inclusive, são ondas eletromagnéticas de rádio que são chamadas de não ionizantes. Pelo fato de serem não ionizantes, não há nenhum relato na história que essas ondas, por mais potentes que sejam, possam causar qualquer dano aos seres vivos. Elas têm uma energia muito pequena. Elas não são igual a um raio X, uma radiação ultravioleta, uma radiação gama, que são ondas de alta energia e que, por isso, podem causar danos às pessoas ou aos seres vivos. As ondas de telefone ou de rádio não têm nenhum potencial de causar danos a um ser." Gustavo Corrêa Lima, responsável pela plataforma tecnológica de Comunicações sem Fio do CPQD (Centro de Pesquisa e Desenvolvimento em Telecomunicações) deixa claro que as afirmações não têm nenhuma sustentação. Ele diz que essas teorias surgiram porque o lançamento comercial do 5G na China ocorreu em uma época muito próxima à do surgimento dos casos do novo coronavírus. "Algumas pessoas que são contra o 5G sem motivação científica aproveitaram dessa coincidência para começar a disseminar essa desinformação." Antes da China, países como a Coreia do Sul e a Suíça já tinham instalado uma boa base de células e iniciado a operação comercial no primeiro semestre de 2019. Em primeiro lugar, não é verdade que a radiação emitida pelos equipamentos 5G afetam a imunidade e facilitam o trabalho do vírus, afirma. Lima diz que estudos realizados no Reino Unido mostram que no 5G as radiações estão muito abaixo dos limites estipulados pela Comissão Internacional de Proteção contra Radiação Não Ionizante (ICNIRP), que define o máximo de potência que pode ser transmitido sem afetar a saúde humana. "Não chega a 1,5% no pior caso, dos 16 casos avaliados no Reino Unido. O 5G trabalha com radiação não ionizante. Ela está em uma categoria diferente do tipo de radiação que pode causar algum dano celular. Por exemplo, você tem o raio X. Se você é muito exposto ao raio X, você corre algum risco. Nós estamos trabalhando em uma frequência muito abaixo. De fato, o 5G não traz prejuízos à saúde como essas pessoas tentam colocar nessas teorias conspiratórias", diz. Lima diz que os parâmetros do 5G são próximos aos do wi-fi utilizado em casa. "Nos países em que foi introduzida a tecnologia 5G, ela trabalha em uma frequência de 3,5 Gigahertz (GHZ). Nas nossas casas nós já temos equipamentos que trabalham de 2,4 GHZ ou 5GHZ há muitos anos e ninguém nunca reclamou. São os roteadores wi-fi, tão próximos a nós e ninguém nunca colocou que isso poderia ser um problema de saúde. Não é o 5G que está causando qualquer tipo de problema porque ele trabalha em frequências e potências que são colocadas dentro dos mesmos parâmetros dos nossos roteadores wi-fi. Quem traz preocupações referentes a frequências mais altas, próximas a 27 GHZ, também não está trabalhando com uma informação plausível, porque, de novo, nós temos uma organização internacional, nós temos um requisito forte para que não haja qualquer prejuízo ao ser humano", diz. Ele explica que as potências dos terminais utilizados são reguladas independentemente da tecnologia de dados e são pautadas pela potência irradiada e pela frequência de operação. "Se ela é wi-fi ou 5G ou 4G ou que for, ela é pautada pela potência e frequência de operação. Podemos dizer que o wi-fi está na casa das pessoas trabalhando com uma frequência superior ao que é essa faixa intermediária de 3,5 que é a principal faixa do 5G. Quando falamos do 27 GHZ, que é a nova frequência de operação, aí talvez a gente não tenha alguma coisa em casa que a gente use e que possa conversar a respeito, mas é aí que entraram os estudos dos profissionais da organização mundial, dessa associação da organização de radiação não ionizante, que foi para dentro de um ambiente de escritório, de um ambiente residencial, e fez todas as medições, chegando à mesma conclusão: estamos abaixo de 2% do que é recomendado mundialmente em termos de exposição. Então, podemos dizer que estamos em uma faixa segura. O limiar é 100%. Estamos trabalhando com 2%, no máximo." Lima deixa claro, por óbvio, que não existe transmissão de virus pelo 5G. "Eu me pergunto como. A gente por enquanto tem uma presença no mundo virtual, mas ela não está ligada ao mundo fisico", diz. "Tem gente assustada. A reação de quem não vai estudar isso a fundo e não está bem orientado é acreditar. Está acontecendo na Inglaterra, onde estão incendiando algumas torres. A gente vê que por mais que a gente diga que é risível, tem de ser levado a sério porque o momento é sensível", diz. O especialista diz que na Inglaterra houve trabalho muito forte da Ofcom, a agência reguladora do Reino Unido, de levar especialistas para fazer medições dentro das residências e comprovar que não existe nada diferente daquilo conhecido como 4G, 3G, wi-fi, qualquer tecnologia que seja. As teorias da conspiração relacionando a tecnologia 5G com o o coronavírus provocaram ataques a torres de transmissão no Reino Unido. O diretor do Serviço Nacional de Saúde britânico, Stephen Powis, diz que esse é o pior tipo de mensagem falsa que existe. "Estou absolutamente indignado, totalmente enojado por as pessoas estarem agindo contra a própria infraestrutura de que precisamos para responder a esta emergência de saúde." É fato que para o 5G o número de antenas aumenta porque a frequência de 27 GHZ cobre uma menor área, mas Lima diz que isso não aumenta o risco. "Não é o fato de ter um maior número de antenas que traz mais riscos. Porque a gente tem esses roteadores wi-fi em casa e ninguém nunca apontou que existe qualquer risco à saúde." É #FAKE que redes 5G disseminam o novo coronavírus G1 Vídeo: Veja como identificar uma mensagem falsa VEJA outras checagens feitas pela equipe do FATO ou FAKE Initial plugin text