China e EUA já registraram aumento em divórcios neste período. Terapeuta e casais (famosos ou não) dão dicas de como passar por esse período sem crises. Latino e a namorada, Rafaela Ribeiro Danielly Ferreira/Divulgação As consequências da pandemia de coronavírus vão além da saúde e da economia. Em Xi'am, na China, houve um recorde no número de pedidos de divórcio nas últimas semanas, segundo o jornal "The Global Times". O tabloide "New York Post" também informou que advogados especialistas em separação relataram um aumento de 50% na busca de consultas por clientes em potencial no período de isolamento social nos Estados Unidos. A terapeuta de casal e família Pamela Magalhães explica ao G1 que essas crises acontecem porque "no período de isolamento, de confinamento, os casais são obrigados a se olharem, as famílias precisam entrar em contato, reconhecer as suas dinâmicas e o mecanismo sistêmico". "Não há distração, não tem trabalho, não tem a saidinha, não tem o 'vou buscar um cigarro lá fora e já volto', não tem happy hour de quarta, não tem futebol de quinta, não tem as viagens pra distrair, não tem a vida social ativa", diz a psicóloga. Para Pamela, o aumento no número de separações, como os já registrados na China e nos Estados Unidos, pode acontecer também no Brasil. "Não tem nada a ver com o país. Tem a ver com a condição do confinamento em que os casais são obrigados a entrar em contato com questões. Tudo que já existia tende a agravar." Ela destaca que as pessoas estão vivendo um momento mais ansioso diante da pandemia: “Se nos rendermos a essas emoções à flor da pele e se a relação já tinha ruídos que antes eram escondidos em algum lugar do armário vai vir tudo à tona." "Situações como o distanciamento, a desconexão que já existia, agora não tem mais álibi de justificativa pra que não haja o sexo, a conversa, a convivência, a troca. Sem essas desculpas antes convenientes que existiam, o casal é obrigado a entrar em contato", completa Pamela "Quem não tiver maturidade emocional, resiliência e disposição para se reinventar dificilmente vai sair junto dessa." O que fazer? Pamela dá dicas para os casais passarem bem por esta fase. Reconhecer o momento: é um momento tenso, em uma atmosfera ansiosa, que é uma situação que mobiliza nosso estresse; Pra eu viver um bom dueto, preciso saber fazer uma boa carreira solo: como eu estou frente a essa situação, como meu íntimo está respondendo a tudo isso? Feito esse exercício, aí sim eu posso ir a meu parceiro e dividir com ele como me sinto; Dividir e perguntar: dividir como estou me sentindo, como é pra mim, perguntar para o outro como ele está. Criar um espaço de conversação que se possa externar as emoções exercita a cumplicidade; Manter o ambiente de casa o mais pacífico possível mesmo em meio ao caos: Pode se manter informado, não ficar alienado, mas também tem que se preservar; Alternar o dia a dia com atividades gostosas pro casal: Tudo o que promove sensação de bem estar, prazer, gasto de energia, é muito bem-vindo. Ver filmes, ouvir músicas, fazer comidinha juntos, receitinha, dar risada, conversar; Manter uma rotina mesmo em quarentena é uma possibilidade de se organizar: A disciplina traz essa sensação de segurança, sentimento de organização. Mais organizado, o dia pode ficar um pouco mais previsível e isso para o cérebro traz uma sensação de segurança. O que dizem os casais? O G1 conversou com casais para saber como está sendo o isolamento social. Todos os ouvidos nesta reportagem estão cumprindo a orientação para se manter em casa e readaptar as rotinas, com home office e aumento nas tarefas do lar. Há casais com e sem filhos. Camila e Vinicius O casal Camilla Andrade e Vinícius Navarro entre Luiza e Lara: 'Isolamento mudou radicalmente a nossa rotina' Reprodução/Instagram Morando juntos há sete anos, a farmacêutica Camilla Andrade, de 37 anos, e o advogado Vinicius Navarro, 38, trabalham em turnos opostos. "Ele em horário comercial, e eu até às 22h, com plantões aos finais de semana e feriados." Com isso, o contato físico diário dos dois se limitava a três horas. “Longos períodos, apenas nas minhas 24 horas de folga — e quando ela é generosa, 48/72 horas”, explica Camilla. "Esse isolamento mudou radicalmente a nossa rotina, nós dois passamos a trabalhar em casa e as crianças sem escola (temos duas filhas 3 e 8 anos). Sendo assim, convivemos o tempo todo juntos, todos, exceto no período que estamos efetivamente trabalhando (7 horas/dia)." "Encaramos toda essa situação como uma oportunidade em passarmos mais tempos juntos, coisa que eu particularmente sentia muita falta. Mas a primeira semana foi desafiadora." "Ficamos perdidos na rotina das meninas, com os horários das refeições e administrar tudo isso gerou alguns atritos. Após essa fase de adaptação, tudo se encaixou e criamos uma rotina que vai desde hora para acordar, tempo disponibilizado para atividade física, momento em família e tempo a sós, somente nós dois. Hoje vemos que o isolamento nos aproximou." Lu e Marcos O cantor sertanejo Marcos em período de isolamento social na companhia da mulher, Lu Marchioto, e dos filhos Larissa, Lili e Leo Reprodução/Instagram Marcos, que forma a dupla sertaneja ao lado de Belutti, também cita uma melhora no relacionamento com o isolamento: "Nossa convivência está até melhor, porque boa parte dos atritos que aconteciam em casa, muitas vezes vinham de interferências externas. Interferência no trabalho, de amizade, falta de tempo pra eu estar em casa. Pelo fato de a gente estar vivendo pela família agora, os atritos diminuíram." Para ele, a mudança nesta fase de isolamento está no aumento das tarefas domésticas, já que está acostumado a ficar bastante tempo fora por causa da agenda de shows. Lu Marchioto, esposa de Marcos, concorda: "Esta é a hora de os casais se unirem e fortalecerem os laços, porque a gente não sabe o que vai enfrentar lá na frente". Marcos completa que o momento é bom para conversas construtivas "sobre a vida amorosa, os sonhos, as coisas que fazem falta". Diene e Fabio O casal Diene Duarte de Almeida e Fabio Acosta: "Não dormimos brigados" Arquivo Pessoal A pedagoga Diene Duarte de Almeida, de 45 anos, e o advogado Fabio Acosta, 44, estão casados há 13 anos, e têm uma premissa básica na relação: "Não dormimos brigados. Temos essa máxima do casamento e que vale muito nessa quarentena", diz Diene. A pedagoga diz que o máximo de tempo que passava com o marido era durante as férias, mas que apesar do aumento de tempo de convivência, a única alteração notada foi nas tarefas domésticas. "Tivemos um atrito que foi por uma questão que eu precipitei e ele ficou muito bravo. Mas eu errei, porque eu sou muito afobada. Foi na garagem e, quando a gente chegou em cima [no apartamento], já tava dando risada porque eu vi a besteira que eu fiz." “A gente tem muito bom humor, tira sarro um da cara do outro o tempo inteiro, então a convivência é muito tranquila, muito saudável”, diz ela. "A gente tem que gostar da companhia do outro. Quando você casa com quem você gosta da companhia, gosta dos assuntos, tem afinidade, é muito tranquilo. Mais do que um casamento, é uma parceria." Rafaella e Latino Morando junto com a namorada, Rafaella Ribeiro, há quase um ano, o cantor Latino cita a importância da individualidade nesse período. "Mesmo estando na mesma casa, é muito importante cada um ter seu momento de privacidade, lendo, vendo um filme, fazendo uma meditação". "O cantor diz que o casal é "bem tranquilo" e tem tentado seguir a rotina normal dentro de casa. Estamos mantendo os treinos, cozinhando e trabalhando muito'. Nesta fase de isolamento, o casal já se uniu, inclusive, para um projeto musical. Logo após o carnaval, Latino, Rafaella e alguns amigos ficaram em quarentena na casa de uma tia em Angra dos Reis após descobrirem que a anfitriã havia acabado de retornar da Itália. Durante os quinze dias que permaneceram no local, Latino decidiu fazer um clipe. "Ansioso que é, Latino resolveu fazer um vídeoclipe divertido para que não pirassem com essa reclusão. Juntou a turma que estava na casa, criaram um personagem para cada um e gravaram", explica a assessoria do cantor. Rafaella é Lili, que dá nome à música. Ela também participou do roteiro. Beatriz e Dilsinho Dilsinho e a mulher, Beatriz Ferraz Reprodução/Instagram Morando há três anos com a mulher, Beatriz Ferraz, o cantor Dilsinho vê um ponto positivo no meio da pandemia. "O lado bom de toda essa loucura é que estamos passando mais tempo juntos, consigo tomar café, almoçar, jantar em família. Coisas que parecem simples, mas não conseguia fazer com frequência devido à rotina do trabalho". Dilsinho faz uma média de 20 shows por mês. Para o cantor, a prática de exercícios físicos, a divisão das tarefas do lar e a escolha de uma série para acompanharem juntos são alguns trunfos para que a relação saia ilesa desse período. "Estamos há um bom tempo juntos e fomos aprendendo com o tempo que cada um precisa do seu espaço e personalidade." "Uma música do Jota Quest representa bem o meu pensamento: 'a nossa liberdade é o que nos prende'", explica o cantor, citando o verso de "Mais uma vez".