Ao menos 9 marcas participam de força-tarefa centralizada pelo governo federal. Na primeira semana, 6 delas receberam cerca de 160 aparelhos para reparar. Fiat recebeu 16 respiradores para consertar na fábrica de Betim (MG), na primeira semana de força-tarefa com governos e montadoras Divulgação As linhas de montagem de carros estão paradas. As atenções em algumas fábricas de veículos do Brasil agora se voltaram para máquinas bem diferentes: os respiradores hospitalares. 33% das cidades brasileiras têm no máximo 10 respiradores mecânicos Chevrolet, Fiat, Ford, Honda, Jaguar Land Rover, Jeep, Renault, Scania e Toyota confirmaram que aderiram a uma recém-criada força-tarefa para o conserto desses equipamentos fundamentais para o tratamento de doentes graves de Covid-19. O trabalho começou no meio desta semana. O objetivo é reparar cerca de 3 mil aparelhos fora de uso mapeados em todo o Brasil, um número que pode ser ainda maior. Até esta sexta, 6 das 9 marcas que confirmaram participação tinham recebido cerca de 80 respiradores, segundo levantamento do G1. Nesta segunda, a General Motors atualizou seu número para 91 aparelhos recebidos ao todo, o que eleva a conta geral para cerca de 160 em conserto – a dona da Chevrolet tinha informado 10 até meados da semana passada. Mas como transformar quem entende de máquina de fazer carros e caminhões em reparador de máquinas hospitalares? "A base nós temos, que é o conhecimento de eletrônica", explicou Marcos Túlio Sousa, supervisor de manutenção da Fiat em Betim (MG). "Equipamento industrial e médico possuem o mesmo componente." "É muito gratificante conseguir ajudar utilizando aquilo que eu sei fazer. Se conseguisse reparar 1, para mim já teria valido todo o trabalho", descreve Sousa. Ao embasamento técnico foi agregado um treinamento específico – e virtual, é claro – com especialistas do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai) e da Associação Brasileira de Engenharia Clínica (Abeclin). Coronavírus em SP: montadoras de carros consertam respiradores Além disso, as experiências são trocadas diariamente em uma rede de compartilhamento de informações por mensagens de WhatsApp formada por técnicos, profissionais de saúde e outras empresas, como as de transporte e de certificação dos aparelhos. E não é um apertar de parafuso: o tempo entre receber cada respirador e devolvê-lo, consertado, se possível, e certificado, é de pelo menos 3 dias. Antes de qualquer contato com os técnicos, os respiradores passam por uma espécie de "quarentena", ficando isolados por 24 dias, informou a Toyota. Os especialistas também trabalham protegidos com luvas, máscaras e óculos. Os primeiros desafios Dezesseis respiradores vindos de hospitais de MG chegaram às mãos de Sousa nesta primeira semana, cheia de desafios: alguns, parados há mais tempo, nem têm um histórico para se saber qual é o defeito. Apenas dois estavam em testes finais até a última sexta (3), quando ele conversou com o G1. Sousa e os oito técnicos que participam dessa ação pela Fiat se depararam com situações mais simples, como um aparelho em que aparentemente bastou trocar a bateria, até outra que ainda permanecia um mistério. "Ontem, dois técnicos ficaram com o respirador das 6h às 15h e não conseguiram identificar o problema. Vão continuar amanhã (sábado)", contou o supervisor da Fiat. Técnico trabalha no conserto de respirador na fábrica da Fiat, em Betim (MG) Divulgação Quando a questão envolve reposição de peças, algumas podem ser feitas com impressora 3D, explica Sousa. A troca de mensagens com os demais participantes também ajuda a ganhar tempo: "Conseguimos em 20 minutos o manual de um equipamento, graças ao grupo", destacou. Depois do reparo, é preciso testar o aparelho por cerca de 12 horas, para se ter certeza de que ele funciona dentro de todos os parâmetros necessários. De onde vêm os respiradores? Quem centraliza a operação é o Ministério da Economia, explicou Leonardo Amaral, responsável pela coordenação na Fiat. O governo federal informou as secretarias de estado sobre a iniciativa, e elas enviaram um ofício que explica o procedimento para cada unidade de saúde. Hospitais de campanha, produção de máscara: outras ações de montadoras 'Guerra' entre países por respiradores e produção nacional insuficiente são entrave Os pedidos são chegam por e-mail ao Ministério da Economia, que distribui as demandas entre as fábricas, respeitado a ordem de chegada das solicitações, disse Amaral. Os aparelhos de MG são distribuídos entre a Fiat e o Senai. Quem transporta esses respiradores são empresas de logística e outras que contribuem na força-tarefa. Às vezes, o próprio hospital. "Nossa expectativa era de receber mais 50 aparelhos na semana que vem. Mas, agora, entendo que o número vai aumentar porque a polícia de MG está autorizada a retirar esses equipamentos também", afirmou Marcos Sousa, supervisor de manutenção da montadora. Na última quinta (2), o comandante-geral da Polícia Militar do estado disse que a meta era arrecadar respiradores em mais de 1,3 mil pontos em 24 horas. Assim como a Fiat, que também faz o mesmo trabalho em Pernambuco, as demais fabricantes de veículos que anunciaram participação na iniciativa atendem unidades de saúde onde têm produção: os estados da Bahia, Paraná, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Santa Catarina e São Paulo. 160 em conserto O G1 procurou as 9 marcas na última sexta para saber quantos aparelhos elas receberam nesta primeira semana da força-tarefa. Cinco delas tinham cerca de 70 respiradores para consertar. A General Motors, dona da Chevrolet, disse ao G1 que iria disponibilizar todas as suas fábricas para a ação. Ela não respondeu ao questionamento da sexta, mas havia informado ao SPTV, em meados da semana, que tinha recebido 10. Nesta segunda (6), a empresa informou que já possui 91 respiradores para conserto, o que eleva o número geral de aparelhos que estão com montadoras para cerca de 160. Desses, 37 deverão ser entregues para uso nos próximos dias, disse a GM. Além dos 16 aparelhos que estão em Betim, a Fiat e a Jeep, que fazem parte do mesmo grupo, têm outros 15 em Pernambuco, vindos da Paraíba – a empresa atenderá também a este estado. A Honda recebeu cerca de 20 respiradores em sua fábrica de Sumaré (SP) e 1 já estava em fase de testes nesta sexta para voltar a ser usado. A empresa destacou aproximadamente 30 funcionários, entre engenheiros e técnicos, para a tarefa. A mesma quantidade de pessoas está trabalhando em instalações construídas em um ginásio esportivo da Scania, fabricante de caminhões, em São Bernardo do Campo (SP), para consertar os respiradores. A primeira remessa, com 22 equipamentos, foi retirada de forma voluntária de um hospital de São Paulo. Nesta sexta, a empresa recebeu outros 15, vindos da Baixada Santista. A Toyota recebeu os primeiros 3 respiradores na última quinta e eles ainda passam pela "quarentena". Doze técnicos vão atuar nos reparos, que serão feitos na unidade de Sorocaba (SP). No Paraná, a Renault treinou 4 funcionários para trabalharem na manutenção dos respiradores. A empresa afirma que os equipamentos serão enviados primeiramente para o Senai de Maringá. Lá, será feita uma triagem, para, então, serem repassados para a fabricante. A Confederação Nacional da Indústria (CNI) informou que existem, ao todo, 25 pontos de manutenção, dos quais 10 são unidades do Senai e 15 estão em unidades das montadoras citadas na reportagem e também da ArcerlorMittal e da Vale. Esses "pontos da iniciativa + manutenção de respiradores" estão em 13 estados: Bahia, Ceará, Espírito Santo, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Paraná, Pernambuco, Rio de Janeiro, Rio Grande do Norte , Rio Grande do Sul, Santa Catarina e São Paulo. Initial plugin text