Segundo álbum da cantora inglesa é dançante e coeso. Ela canta sobre relações e angústias ao som de arranjos retrô futuristas no melhor disco pop do ano. Leia faixa a faixa. Dua Lipa tem pressa. A cantora londrina de 24 anos adiantou em uma semana o lançamento de seu segundo álbum, citando apenas um motivo: queria dar um pouco de alegria para fãs de sons dançantes, em tempos de isolamento e coronavírus. Conseguiu. "Future Nostalgia" faz valer o título. São onze músicas retrô futuristas, que reimaginam a música dançante dos anos 70 e 80. Dua é uma das maiores apostas da música pop, mas com algo a dizer, desde que surgiu com "New Rules", em 2017. Mas este novo álbum muda, definitivamente, a cantora de patamar. Em vários casos, ela aperfeiçoa os estilos dance crying ou dark pop. São rótulos que ela ama e faz questão de citar para explicar suas canções. "Gosto de música para dançar, mas na real sou uma pessoa bem emotiva. Sinto que muitas coisas que eu escrevo são bem tristes", já disse ela ao G1. Não existe melhor conselho para 2020. Talvez, o jeito seja seguir essa não tão nova regra da Dua Lipa: dance e chore. Ao mesmo tempo. Leia um faixa a faixa do novo álbum de Dua Lipa: 'Future Nostalgia' A faixa-título começa fantasmagórica com batida retrô futurista e uma citação ao arquiteto americano modernista John Lautner. Dua banca a rapper, falando de si mesma sem se levar tanto a sério. Depois deixa a melodia tomar o refrão, com a voz menos grave do que de costume. 'Don’t Start Now' O primeiro single do álbum saiu em novembro de 2019. Dançante, oitentista e com um dos melhores usos de cowbell (ou campana, que faz aquele som de lata) nos últimos tempos. Virou hino involuntário do isolamento social com o uso dos versos "Não apareça aqui / Não saia" em memes. 'Cool' Aqui temos uma Dua Lipa que parece da era anterior, com a voz mais rasgada e grave. O arranjo é menos poluído do que o resto do álbum. Tem Stuart Price (Madonna, Killers, New Order, Kylie) na ficha técnica. O produtor britânico é um dos culpados pelos sintetizadores suaves. Tudo é "cool" demais. 'Physical' O segundo single, lançado em janeiro, é mais new wave, mais rock dançante aguado. Poderia ser um lado B do Killers ou uma tentativa de hit do Walk the Moon. Segue a linha retrô do álbum, mas é uma das menos inspiradas. 'Levitating' Possivelmente, a melhor. O suingue, os vocais de apoio (com a voz da própria Dua) e o arranjo com pausas e palmas colocam o álbum de volta no prumo. A candência de Dua para cantar cada verso (acelerando e diminuindo a velocidade) mostra como ela é a melhor popstar em ação hoje. É mais uma com Price na produção. O arranjo é espeto demais: as mudanças de rotação e na forma de cantar parecem dar a impressão de que quem ouve está levitando. Juro. Dua Lipa Divulgação 'Pretty Please' É uma típica música com a assinatura de Julia Michaels, compositora talentosíssima de hits como "Sorry", do Justin Bieber. É a mais colante e assobiável do álbum, perfeita para dancinhas em grupo em boates (infelizmente, agora seriam dancinhas em grupo via videoconferência). 'Hallucinate' Pelo que sei, Lady Gaga não patenteou esse tipo de arranjo com estrutura verso, pré-refrão, refrão e camadas sendo adicionadas parte a parte. E ela também não inventou a gaguejadinha ("Ah-ah-ah-ah", "Ma-ma-my" etc). Mas eu espero muito mais de Dua Lipa, não sei você. 'Love Again' A introdução anuncia uma balada, mas com 30 segundos a batida começa. O álbum segue dançante, com tema recorrente do cancioneiro de Dua Lipa: a tentativa de não se apaixonar, inventar novas regras, fugir de boy lixo, mas… acontece. Mas ela canta com um desdém impressionante. Parece mesmo que ela está sentindo o que canta: "Que merda, você fez eu me apaixonar de novo". 'Break My Heart' Tem um sampler de "Need you Tonight", do INXS, banda australiana cujo cantor morreu em 1997. Dua disse que essa música é a que mais faz valer o rótulo dance crying. Ela chora, porque um cara ligou, ela estava bem, mas agora só pensa em pegá-lo. "Eu preciso das suas mãos em mim / Doce alívio", implora. 'Good in Bed' É mais espevitada, fazendo lembrar o pop desbocado e com pianinhos chiados de Lily Allen. Tem uma das letras mais divertidas da carreira de Dua, mais bem resolvida do que nunca: "Eu sei que é bem ruim / Ferra minha cabeça / A gente se deixa maluco / Mas, querido, é isso que faz a gente ser bom de cama". 'Boys Will Be Boys' É a única balada, com arranjo orquestrado e coral. Parece que uma hora vai estourar, mas segue lenta. A escolha faz sentido, para dar mais destaque aos versos. A letra é direta, irônica, boa demais. Especialmente o segundo verso. "Eu tenho certeza que se existir algo que eu queira dizer e não me lembre das palavras / Sei que vai aparecer um homem para me salvar / E isso é sarcasmo, caso você precisa disso 'mansplained' / É, eu deveria ter ficado no ballet. Ah", canta, bufando de desprezo. Dua Lipa Divulgação