RIO — Intérprete de Zé do Caixão em serie homônia de 2015, exibida na TV paga, o ator Matheus Nachtergaele conversou com O GLOBO sobre a morte do cineasta José Mojica Marins, nesta quarta-feira. Pelo telefone, Nachtergaele conta que estava saindo da academia quando soube da notícia.
— Ainda estou muito impactado. Eu amava demais o Zé, ele era o nosso Carlitos (personagem mais famoso de Charles Chaplin). Só que, em vez de estampar o lirismo e a delicadeza de um palhaço, ele mostrava a tristeza de um brasileiro amoral que enfiou os dois pés nas jacas dessa vida — comenta o ator, que teve pouco contato com Zé durante as filmagens da série, lançada em 2015. À época, o cineasta já estava bastante debilitado e cuidando da saúde.
Nachtergaele conta ainda que conheceu o mestre do terror nacional nas "bocas das noites paulistanas", quando ainda estava nos seus "tempos de loucura". Na visão do ator, Zé ostentava por fora as longas unhas e as roupas pretas, mas por dentro era o típico brasileiro.
— Ele era um autodidata que dava um jeito para sobreviver. O jeito dele foi rodar filmes com muita pornografia — analisa.
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Questionado sobre uma debatida subvalorização da figura de José Mojica Marins no cenário do cinema nacional, Matheus ressalta sua paixão pelo começo da carreira do cineasta (como em "O despertar da besta", de 1969). E faz um pedido:
— Espero que revisitem a obra dele. E provavelmente muitos dos filmes vão virar cults de forma mais ampla, indo além da legião de fãs que ele tem — aposta o ator.
"Voluntarioso, mas um pouco machista", segundo Nachtergaele, Zé do Caixão jamais chegou a ser devidamente abraçado, por exemplo, pelo movimento do Cinema Novo, que marcou uma guinada intelectual do setor audiovisual nos anos 1960 e 1970, período bastante prolífico na trajetória do cineasta. No total, Zé dirigiu mais de 40 produções.
— Essa galera até gostava dele e dos filmes, mas o Zé não era do clube, né? Eles eram burgueses e o cara era um homem do povo, sem intelectualidade. Nosso príncipe das trevas — finaliza Matheus.