Centro de distribuição da B2W: ações subiram mais de 17% com bons resultados do trimestre (Luis Ushirobira/Site EXAME)
Outrora rainha absoluta do comércio eletrônico brasileiro, a B2W, dona das Lojas Americanas, do Submarino e da Shoptime, conseguiu dar alguns passos para voltar aos tempos de glória.
A série de iniciativas dos últimos trimestres — que incluem carteira digital, dinheiro de volta, serviço de entrega próprio e ações para aumentar a qualidade do marketplace — fez as vendas no segundo trimestre atingirem 3,9 milhões de reais, alta de 22% na comparação com o ano passado.
Sem incluir os resultados das lojas físicas das Lojas Americanas, a empresa cresceu o dobro do mercado de comércio eletrônico no período, que subiu 11%, segundo a consultoria eBit/Nielsen.
Para além do bom resultado, contudo, o que mais animou os investidores sobre a B2W é que a empresa conseguiu fazê-lo queimando menos caixa. A empresa conseguiu gerar no trimestre 40,3 milhões de reais em caixa, o melhor resultado em nove anos.
A geração de caixa no segundo trimestre foi de 6 milhões de reais entre abril e junho, após a B2W ter tido caixa negativo de 34 milhões de reais no mesmo período do ano passado.
A B2W vinha sendo criticada nos últimos anos por crescer e oferecer muitos descontos sem pensar na sustentabilidade financeira, enquanto uma das principais concorrentes, a Magazine Luiza, mostrava caixa mais saudável. A época do vale-tudo parece ter ficado para trás.
As principais concorrentes, como Magazine Luiza e Via Varejo, ainda não divulgaram seus balanços do trimestre. A argentina Mercado Livre divulgou resultados na quarta-feira, 7, quando reportou alta de 33% nas vendas no marketplace, também celebrada pelo mercado.
“Seguimos forte em nossa meta de crescer pelo menos duas vezes o mercado em 2019”, disse o diretor financeiro da B2W, Fabio Abrate.
Quem vai ser a Amazon brasileira?
Dentre os motivos que levaram à alta das vendas, a empresa cita o crescimento de 51% das vendas no marketplace, quando lojistas parceiros vendem seus produtos no site da empresa. O marketplace respondeu por 59% das vendas no trimestre.
A B2W também adicionou mais de 5 milhões de novos vendedores à plataforma, o que possibilita maior oferta de produtos. A empresa tem atualmente mais de 30 milhões de lojistas que vendem seus produtos nos sites da empresa.
O crescimento do marketplace vem ao mesmo tempo em que as vendas diretas da B2W (modalidade chamada de 1P, ao contrário do 3P, que são vendas no marketplace) mantiveram bom volume e responderam por 41% das vendas totais. A empresa afirma que está tentando focar, na modalidade de venda de direta, em produtos nos quais têm expertise, deixando para os parceiros as demais categorias.
Para Abrete, da B2W, o resultado do trimestre “consolida a percepção de que nossos clientes podem comprar de tudo”.
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As empresas de varejo brasileiras lutam para ver quem conseguirá ser a “Amazon brasileira”, aumentando a frequência de compra dos clientes e conseguindo se consolidar sua imagem como uma empresa que vende de tudo.
Nesse cenário, o marketplace ajuda as empresas a abraçarem a chamada “segunda onda” do varejo, vendendo produtos diversos que vão de itens de supermercado a roupas, produtos que as pessoas não compram tanto pela internet atualmente.
Ao ter no portfólio produtos de categorias mais baratas e variadas, um varejista ganha menos por pedido do que com eletrônicos e eletrodomésticos, mas consegue clientes que compram com mais frequência e voltam mais à loja. (Foi com esse objetivo que a concorrente Magazine Luiza adquiriu a Netshoes neste ano e vem tentando aumentar o número de lojistas parceiros no marketplace, que hoje responde por apenas por 18% das vendas totais.)
Como já fazem boa parte das concorrentes, como Magazine Luiza e Mercado Livre, a Americanas está oferecendo um serviço de entrega aos lojistas parceiros. A empresa afirma que 92% dos parceiros marketplace já estão usando o serviço — em comparação a 67% no mesmo período do ano passado.
No mês passado, um relatório do Bradesco BBI fez as ações de Mercado Livre e Magazine Luiza subirem ao afirmar que, no varejo brasileiro, as duas empresas eram as melhores posicionadas para abraçar a segunda onda do comércio eletrônico no Brasil: o Mercado Livre por sua grande disponibilidade de produtos, e o Magazine Luiza por sua boa malha logística, capaz de entregar produtos mais leves com mais rapidez, e pela compra da Netshoes, que fará sua variedade de produtos aumentar.
Novos serviços
Para além da segunda onda, a B2W quer mostrar que também é capaz de ingressar também nos serviços financeiros com a carteira digital AME, cuja sociedade é dividida entre a B2W e as Lojas Americanas, sua divisão de lojas físicas. A empresa afirma que teve 3 milhões de downloads do aplicativo, mas ainda não divulga volume de transações ou outras informações.
A atuação nos serviços financeiros foi o principal fator que fez a ação do Mercado Livre subir dois dígitos após a divulgação do resultado da empresa neste semana. A empresa argentina afirmou que os serviços financeiros têm mais capacidade de crescimento do que as vendas no comércio eletrônico.
A empresa, assim como as concorrentes — que vão do Mercado Livre às entregadoras de comida Rappi e iFood — aposta em sua grande base de usuários para fazer o AME deslanchar e tornar-se um “superapp”, onde os usuários podem não só comprar como recarregar o celular ou pagar contas.
A boa notícia para a empresa foi que o número de usuários mensais dos aplicativos de Submarino, Americanas e Shoptime subiu de 11 milhões no primeiro trimestre para 17 milhões no segundo trimestre. O Mercado Livre, por exemplo, tem mais de 30 milhões de usuários ativos e afirmou que sua carteira digital já atingiu 3 milhões de usuários ativos. O líder no Brasil é o PicPay, com 10 milhões de usuários.
Apesar de ainda não haver detalhes sobre o AME, os resultados da B2W animaram os investidores e as ações fecharam o dia com alta de 17,75%, a 44,05 reais, com a B2W respondendo pela segunda maior alta da bolsa nesta sexta-feira.
Quando as concorrentes Via Varejo e Magalu divulgarem seus balanços, o mercado estará atento à capacidade das empresas de aumentar as vendas e a participação do marketplace, ao mesmo tempo que queimando a menor quantidade de dinheiro possível. A B2W, por ora, fez a lição de casa. Resta ver como se portará no longo prazo.