Nissan Leaf: modelo é aposta antiga da marca no segmento de carros elétricos (Nissan/Divulgação)
O anúncio de demissões em massa da Nissan em seis operações no mundo é apenas um prelúdio do que está por vir. A transformação da indústria automotiva global está cobrando um preço alto das montadoras, que buscam manter os níveis de vendas em um cenário extremamente competitivo, ao mesmo tempo em que tentam equalizar a entrega de carros mais eficientes e tecnológicos sem grandes perdas. Para a montadora japonesa, o desafio deve ser ainda maior.
Isso porque a Nissan, em particular, enfrenta problemas de governança e incertezas acerca da aliança de longa data com a francesa Renault, que está completando 20 anos.
A montadora japonesa, de faturamento próximo a 110 bilhões de dólares, passa por um profundo processo de reestruturação, após a prisão do ex-CEO Carlos Ghosn, acusado de uso indevido de recursos da empresa. Atualmente, o executivo cumpre prisão domiciliar.
No mês passado, a companhia implementou uma nova estrutura de governança “para assegurar que as operações sigam com facilidade sob a nova estrutura”.
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A Renault, Nissan e Mitsubishi criaram ainda um conselho para administrar a sua aliança estratégica, diante da saída de Ghosn, que foi o grande idealizador da parceria. A ideia, segundo as três empresas, é que o conselho supervisione as operações e a governança da aliança.
De acordo com fontes do setor, desde a saída de Ghosn, os embates têm aumentado entre os membros da Renault e da Nissan, mostrando que o executivo era um importante agregador nas negociações da aliança.
Mas governança é apenas uma parte dos problemas enfrentados pela Nissan. No ano fiscal de 2018, as vendas globais da montadora caíram 4,4%, para 5,5 milhões de unidades, em um mercado que se torna cada vez mais disputado e exige maiores volumes para se manter em pé. As líderes globais, Toyota e Volkswagen, têm vendas próximas a 10 milhões de unidades por ano.
Ainda no ano fiscal de 2018, as vendas da Nissan nos Estados Unidos – importante mercado para o grupo – caíram 9,3%, para 1,44 milhão de unidades; já na Europa, houve recuo de 17,8% dos emplacamentos (excluindo Rússia), para 536 mil unidades.
E o lucro?
A busca por rentabilidade, um discurso constante da Nissan, passa por um grande desafio escolhido a dedo pela própria montadora anos atrás: a liderança na eletrificação dos automóveis. A marca vem apostando fortemente no desenvolvimento de veículos elétricos, mas os investimentos são muito pesados e ainda apresentam pouco retorno, afirmam analistas ouvidos por EXAME.
Além disso, parcerias de montadoras anunciadas em projetos de eletrificação, como BMW e Land Rover e Toyota e Subaru, por exemplo, colocam um desafio adicional à Nissan neste segmento.
A companhia japonesa anunciou recentemente ter atingido a marca de 400 mil unidades vendidas do Leaf, automóvel 100% elétrico, desde o seu lançamento mundial em 2010. Já a Tesla comercializou, somente no ano passado, 146 mil unidades de um único modelo.
“Hoje, a Nissan já tem competidores de peso como a Tesla e outras alianças entre empresas fortes para a corrida dos elétricos. Embora a marca japonesa seja uma das pioneiras no segmento, é muito diferente manter a liderança na prática”, avalia Milad Kalume Neto, gerente de desenvolvimento de negócios da consultoria automotiva Jato Dynamics.
Brasil
A Nissan informou nesta quinta-feira, 25, que reduzirá sua capacidade de produção global em 10% até o final do ano fiscal de 2022. A operação brasileira, entretanto, não sofrerá impactos, destacou a companhia a EXAME.
No Brasil, a montadora mantém 2,4 mil funcionários, a maioria na fábrica de Resende, no Rio de Janeiro. No local, são produzidos os modelos March (compacto de entrada), o sedã compacto Versa e o SUV Kicks.
No primeiro semestre deste ano, a Nissan figurou em décimo lugar no ranking de vendas de automóveis e comerciais leves da Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave), com 3,52% de participação de mercado.
O March é o décimo modelo mais vendido do país na categoria de hatchs pequenos e, segundo analistas, tem uma forte venda no segmento corporativo (para empresas), a chamada venda direta.
Já o SUV Kicks foi responsável pela subida da marca no ranking total de emplacamentos. O modelo também já é o terceiro utilitário esportivo mais vendido do Brasil, segundo a Fenabrave.