Pedindo um minuto da atenção do público no “grito de guerra”, o Slam Manoel de Barros nasceu no último sábado (8) levando para a Praça Aquidauana, no centro de Campo Grande, versos cantados em alto e bom som. Um a um, carregados de coragem e poesia, cada poeta enfrentou o público apenas com a própria voz e expressão corporal, capturando olhares e ouvidos despertos na competição em que as palavras são armas munidas de críticas sociais, dores e amores em revolução feita de dentro para fora.
Sem palco, iluminação ou microfone, a arte de rua mostrou mais uma vez como precisa de pouco. No começo tímida, a plateia foi chegando aos poucos, dispensando o conforto e se acomodando no chão ou no meio fio para assistir ao campeonato de poesia falada. Gente nova, ocupando espaços públicos quase esquecidos pelo resto da cidade e principalmente, dispostos a ouvir. Em volta do poeta, silêncio e olhar atento.
Com apresentaçōes individuais, as regras são simples: Cada poesia pode ter no máximo três minutos e devem ser autorais. Instrumentos, adereços e qualquer elemento visual devem ser deixados de fora, para que o centro das atençōes seja sempre a palavra. São três rodadas, passa para a próxima etapa quem tiver a maior nota, dada por um júri escolhido na hora entre a plateia.
Espaço democrático como a própria rua, a cada intervalo para a contagem de pontos, intervençōes tomavam o “palco”, aberto para qualquer um com uma mensagem, performance ou poesia. Momento aproveitado também por competidores desclassificados nas rodadas anteriores, mostrando que mais que vencer, o que vale é a liberdade de expressão. É ser “água que corre entre as pedras”.
Movimento que nasceu para tirar a poesia do pedestal e aproximar os versos e a literatura do público, a competição ganhou o nome do poeta sul-mato-grossense, como uma homenagem a ele e às coisas “desimportantes”, mas cheias de significado. “O conceito do Slam é liberdade de fala, você recitar a sua ideia. O nome é mais para homenagear a cidade e o Manoel de Barros mesmo”, explica um dos organizadores, Renzo Escobar, de 19 anos.
Bruno da Silva Aguilera, de 17 anos, também parte da organização conta que depois do fim do Slam Campão, um dos campeonatos mais antigos da cidade, surgiu a necessidade de outras opçōes capazes de fortalecer a cultura local. “Muita gente sentiu falta do slam, então desenvolvemos essa ideia do slam Manoel de Barros para que a rua mostre a sua força e o povo ocupe os espaços públicos de maneira legítima. A ideia é que aconteça uma vez por mês aqui na Praça Aquidauana”.
Poeta desde os 15 anos, o competidor, Matheus Augusto Pereira, de 21 anos, achou um espaço para expor as próprias ideias e declamar os poemas que por muito tempo estavam apenas no fundo da gaveta. Ele conta ter descoberto o evento por um calouro da faculdade de psicologia que também fazia parte da organização. Para ele é importante ver a ideia sair do papel.“Ficamos felizes em ver que estamos conseguindo ir para frente com ideias que promovem a cultura na cidade. Então é primordial ter pessoas puxando outras pessoas para isso”.
Espectador, MatheusMarteli, de 21 anos, conta nunca ter assistido qualquer batalha de poesia ou qualquer coisa relacionada tão de perto. “Eu gostei muito, eu gosto de poesia e foi bem envolvente escutar as pessoas, prestar atenção realmente na fala delas e com toda a certeza, voltar. Eu acho muito bonito se expressar dessa forma”, diz. Para ele, a experiência foi inspiradora, tanto que resolveu investir mais tempo e escrever o próprio material, para quem sabe, participar das próximas edições.
Acompanhando o namorado Matheus, Camila Ramos, de 24 anos, também participou pela primeira vez de um campeonato de poesia falada. “Eu achei muito interessante porque vim meio sem saber o que era, ainda não conhecia o slam e tipo, estava cheio de gente, o astral, a energia foi muito legal”.
Fonte: Campo Grande News