O complexo ferroviário da antiga Estrada de Ferro Noroeste do Brasil (EFNOB), em Campo Grande (MS), foi tombado pelo Iphan, em 2009. Importante para o desenvolvimento no Centro-Oeste brasileiro, no início do século XX, o conjunto da EFNOB possui 22,3 hectares e 135 edifícios em alvenaria e madeira, erguidos em datas diferentes a partir da ampliação das atividades ferrovia. A Estrada de Ferro foi incorporada pela empesa estatal Rede Ferroviária Federal S/A (RFFSA), em 1957 e, atualmente, a concessão pertence à Companhia América Latina Logística, criada em 1997.
O tombamento considerou a relevância cultural desse patrimônio, em âmbito nacional, devido ao seu sentido geopolítico e de integração nacional, aproximação política e econômica do sul de Mato Grosso com São Paulo, e o início da urbanização de Campo Grande. A área tombada abrange edificações representativas da evolução socioeconômica da cidade, após a chegada da ferrovia. Também foi tombado um trecho de pouco mais de um quilômetro da via férrea que empreende grande curva a oeste a fim de retornar na direção de Corumbá (MS). Destaca-se como elemento marcante na referência visual e configuração urbana dessa área.
A importância da EFNOB e de suas estruturas vincula-se à dimensão estratégica nacional do Brasil, quando passava pela integração de seus territórios, o que poderia ser feito com o trem. Campo Grande, com a construção da ferrovia, passou a desempenhar um papel de fundamental na articulação dos fluxos econômicos procedentes de Corumbá, Cuiabá e da zona cafeeira de São Paulo. A ferrovia favoreceu a transferência do eixo econômico Cuiabá e Corumbá, por meio da navegação pelo Rio Paraguai para Campo Grande e São Paulo. A chegada dos trilhos da EFNOB em Campo Grande foi um dos acontecimentos mais importantes da história da cidade.
Na construção do complexo ferroviário, houve a reprodução – com maior precisão e em maiores dimensões – do processo de planejamento urbano adotado, em linhas gerais, em todas as cidades que nasceram próximas ou quase no leito de uma via férrea. No final do século XIX e início do século XX, a necessidade de garantir a comunicação no extenso território brasileiro forneceu o grande impulso do desenvolvimento desse meio de transporte. Em um cenário de expansão, foi iniciada a construção da EFNOB, ligando Santos (no litoral paulista) às fronteiras do Brasil com a Bolívia (em Corumbá).
Até 1905, a principal atividade econômica de Campo Grande era o comércio de gado e, desde o Segundo Império, em meados do século XIX, discutia-se a construção de uma ligação férrea do longínquo Mato Grosso ao litoral brasileiro. Esse trajeto só podia ser feito por navegação pela Bacia Platina (rios Paraná, Paraguai e Uruguai), o que dependia das relações diplomáticas com Paraguai e Argentina. No início da década de 1910, estudos realizados por técnicos da EFNOB indicaram que a sede da ferrovia devia ser construída em um centro com residências, comércio, órgãos públicos, órgãos do complexo ferroviário e, na periferia, alguns bairros residenciais.
Fonte: IPHAN