Único espaço disponível e com capacidade para eventos de grande porte, o aluguel do Palácio Popular da Cultura, ou Centro de Convenções Rubens Gil de Camillo, agora custa mais do que o dobro do ano passado.
Indignados, produtores culturais cancelaram 14 eventos programados para 2019. Além do preço, eles reclamam que o sucateamento do lugar não condiz com o valor cobrado, superior a de qualquer outro espaço e com muitas desvantagens, como goteiras, poltronas estragadas e problemas de segurança.
A equipe de reportagem do Lado B esteve no local para ver de perto as condições do auditório e em 40 minutos de visita encontrou problemas na iluminação, sinalização de emergência, falta de extintores nos locais indicados pelas placas, e exigidos pelo Corpo de Bombeiros e até uma saída de emergência ao lado da cozinha foi bloqueada com arames e madeira.
Com valores atualizados no dia 2 de abril, o aluguel do Auditório Manoel de Barros, maior espaço disponível no Palácio Popular da Cultura, com capacidade para 1.041 pessoas custa R$ 4.339,00, dependendo do tamanho do espetáculo e da necessidade de montar e desmontar o cenário, que acrescenta uma cobrança de R$ 2.169,00 fazendo com que o valor atinja R$ 6.508,00.
Além da taxa de energia elétrica, que é definida pelo número de lâmpadas utilizadas e varia entre R$ 501 e R$ 1.085,00. A cada nova sessão, é necessário pagar o preço integral pelas salas, o que até então não ocorria.
Proprietário da Sparta Produções, Bruno Damus diz ter cancelado cinco espetáculos com datas já reservadas no Centro Cultural, pelo custo e pelo risco ao público. “Antes cobravam R$ 3.510 e já era caro, porque o teatro vem sem som e iluminação, tudo pagamos a parte, ao contrário de outros locais. Agora, além de subir para mais de R$ 7 mil, se tiver duas sessões vai para R$ 11 mil. Isso sem uma maçaneta na porta”, explica.
Outro produtor de eventos, que pediu para não ser identificado, afirma ter desmarcado outras nove produções e confirmado apenas 5 que já haviam sido pagas com valores antigos. Sem uma alternativa de espaço, ele nem cogita novos eventos para o próximo ano, já que o Teatro Glauce Rocha, na Universidade Federal de Mato Grosso do Sul e o Aracy Balabanian, no Centro Cultural José Octávio Guizzo estão fechados para reformas.
“Para um espaço sem estrutura nenhuma, ficou inviável. Os camarins não têm cadeira, não tem sofá e nem maçaneta nas portas, estrutura nenhuma para receber os artistas e agora cobram por sessão. No palco, os cabos da iluminação não funcionam e os refletores precisam ser posicionados manualmente com uma escada. Em dias de chuva, além do assento rasgado, as cadeiras da primeira fileira também ficam molhadas por causa de goteiras”, afirma.
Recentemente o Centro de Convenções recebeu investimento R$ 798 mil, do Programa de Eficiência Energética (PEE) da Energisa, para a instalação de 588 luminárias de LED, substituição de 848 lâmpadas comuns, que deve trazer economia na conta de luz, além das 11 centrais de ar-condicionado que foram restauradas e compra de 5 equipamentos de ar-condicionado tipo split.
Ainda assim, a manutenção das centrais de ar-condicionado deixa a desejar, reclamam os produtores, o que também fica visível durante a visita. A infiltração e a umidade acumulada no local cobriu as paredes com um “carpete” de fungos.
Em nota por e-mail, outro produtor sai em defesa do espaço. O empresário Pedro Silva diz que, apesar dos problemas, é único espaço disponível no momento, portanto, continuará recebendo as promoções da produtora. Sobre o valor, ele considera razoável o reajuste. “Entendemos a parte administrativa do Centro de Convenções, porque o preço estava defasado já há 3 anos”, diz.
O diretor-presidente da Fundação de Turismo (Fundtur), Bruno Wendling afirma que ao assumir o cargo em 2017, “herdou” mais de 20 anos do Centro de Convenções Rubens Gil de Camillo, período em que “deixou-se de fazer muitas ações de manutenção” e afirma que o prejuízo chegava a R$ 1 milhão por ano, devido ou “ciclo vicioso” em que gestões anteriores cediam o espaço gratuitamente ou com baixos valores, gerando uma receita insuficiente para a conservação adequada.
Bruno Wendling também reconhece os problemas na estrutura e a necessidade de melhora do sistema de som, do palco, dos assentos do auditório e em “uma série de coisas, mas que para isso é preciso aumentar a receita. Não existe uma fórmula mágica”. Segundo ele, os produtores locais têm 30% de desconto, desde que empresa comprove que exerce atividades no ramo cultural.
Segundo o diretor, levantamento foi feito nos principais locais de eventos, não só de Campo Grande, mas em outros centros de convenções do País. ”Vimos que estávamos muito abaixo, inclusive, dos valores que eram praticados por outros espaços do nosso Brasil. Então o que fizemos foi uma correção natural dos preços e se você fizer comparativo dos espaços privados aqui de Campo Grande, você vai ver que estamos muito mais distantes”.
Com o antigo valor, ele garante que não havia chance de recuperação. “Como vou investir se não tenho receita? Se eu não tenho recurso, naturalmente eu tenho dificuldade de investir. Então para mim, estou bem tranquilo em relação a essa decisão. Eu sei que ela é legal, legítima e inclusive é amparada pelo nosso regimento interno. Com esse valor corrigido, esperamos que nos próximos anos, a receita seja maior que as despesas para que tenhamos a capacidade de investimento para entregar um espaço cada vez mais qualificado”, afirma.
O diretor-presidente diz trabalhar com base no orçamento disponível, priorizando as reformas mais urgentes. “Provavelmente no mês de junho devemos ter algumas pequenas reformas de segurança pontuais, para arrumar pequenas questões de segurança, como extintores, avisos antifogo, barras de segurança que estão danificadas. Também estamos tentando captar recursos fora. Tem projeto nosso no Ministério do Turismo solicitando R$ 2 milhões de reais para que seja feita reforma mais ampla”, revela.
Fonte: Campo Grande News