Conclusão da saga da Marvel nos cinemas pula direto na ação, ao mesmo tempo em que dedica tempo suficiente para refletir sobre impacto da derrota sofrida em ‘Guerra infinita’.
Se filmes de super-heróis fossem a Copa do Mundo, “Vingadores: Ultimato” seria aquela goleada na qual o time pode jogar completamente para a torcida. A grande estreia desta quinta-feira (25) tem clima de final com direito a chapéu no adversário, bola debaixo das pernas e a torcida gritando “olé” nas arquibancadas.
No caso, o rival se tratava da enorme pressão de concluir de maneira satisfatória uma história construída ao longo de mais de dez anos em 22 filmes. Este é um desafio que a Marvel tira de letra, sem perder tempo desnecessário com a trama, mas também sem se afobar.
Mais do que isso, “Ultimato” é provavelmente a melhor adaptação para o cinema de um daqueles grandes eventos dos quadrinhos da editora, e garante momentos suficientes para todos brilharem à sua forma.
Tudo isso, no entanto, transforma o filme em algo pouco recomendável para não iniciados. Não que seja impossível desfrutá-lo, mas se você quer entender por que todo mundo está falando sobre “Vingadores”, este não é o filme para entrar neste universo.
Thanos contra resto
“Ultimato” começa praticamente do ponto onde “Guerra infinita” (2018) acabou. Os heróis mais poderosos da Terra e da galáxia – o que sobrou deles, pelo menos – tentam encontrar uma solução para reverter o estalar de dedos do titã Thanos (Josh Brolin), que apagou metade da vida em todo o universo.
Para a missão, o time gigantesco volta a se reunir. Aos Vingadores originais, Homem de Ferro (Robert Downey Jr.), Capitão América (Chris Evans), Thor (Chris Hemsworth), Viúva Negra (Scarlett Johansson), Hulk (Mark Ruffalo) e Gavião Arqueiro (Jeremy Renner), se juntam Nebulosa (Karen Gillan), Rocket (Bradley Cooper), Capitã Marvel (Brie Larson) e alguns outros sobreviventes.
As três horas de duração ajudam, é verdade, mas é impressionante que o filme consiga manter o equilíbrio entre pular direto na ação e dedicar tempo suficiente para refletir o impacto que o sucesso do vilão teve nos protagonistas.
Estes momentos ajudam a criar a gravidade necessária para um filme deste tamanho, mesmo que todos já tenham uma boa ideia de como tudo vai terminar. O ritmo fica mais lento, mas são raras as vezes em que o público sente o passar das horas.
Na maior parte do tempo, aliás, acontece exatamente o contrário. O sentimento preponderante é de dúvida e ansiedade. Como resolver tudo o que o filme se propõe a fazer nos minutos que restam?
O roteiro assinado por Christopher Markus e Stephen McFeely, que escrevem filmes para a Marvel desde “Capitão América: O primeiro Vingador” (2011), amarra todas as pontas soltas e ainda arruma forças para homenagear seus antecessores (em cenas que farão algumas cabeças explodirem) e plantar pequenas sementes do que esperar do futuro da franquia.
Lógica de quadrinhos
Quando o objetivo final de uma história é ressuscitar metade do universo, desintegrada num piscar de olhos por um ser quase onipotente, lógica é a última coisa que o público está esperando. Então, é difícil condenar a falta dela durante a narrativa.
Por isso, é possível dizer que “Ultimato” provavelmente não daria tão certo se lançado há alguns anos. Seus antecessores não serviram apenas para construir um universo que o filme pudesse encerrar, mas também para formar um público mais amplo acostumado a coisas que só fazem sentido nos quadrinhos.
Quando os heróis seguem um plano absurdo ou são resgatados repetidas vezes por coincidências ou recursos narrativos fracos, como a da salvação semi divina sem grandes explicações, a empolgação criada é tão grande que fica mais fácil de relevar.
Não é ausência de defeitos, mas uma grande habilidade em escondê-los sob grossas camadas de raios e explosões.
No fim, o importante é conseguir reunir o maior número possível de sequências inacreditáveis por minuto, para agradar todos os nichos diferentes de admiradores. E isso o quarto “Vingadores” consegue sem problemas.
Mesmo que certos momentos pareçam um pouco gratuitos, até aqueles que costumam se incomodar com manifestações de torcida nas salas de cinema conseguirão ignorar e, talvez, até entrar no espírito.
Não aprendi dizer adeus
“Ultimato” é, de certa forma, uma grande despedida da Marvel para seus fãs. Downey Jr. e Evans, dois terços do trio que funciona de fundação ao universo cinematográfico da editora, já disseram que não voltam mais.
Os mais de US$ 18,6 bilhões de bilheteria arrecadados ao redor do mundo ao longos dos últimos 11 anos dão a certeza de que não se trata de um adeus do estúdio, mas o encerramento dessa grande fase.
E está tudo bem. É um final digno, emocionante (mesmo que um pouco piegas às vezes), e que, sem se preocupar com isso, constrói uma grande nova base para os próximos anos.
Fonte: G1