Ao anoitecer, as ruínas do Sítio Arqueológico de São Miguel Arcanjo, em São Miguel das Missões, no Rio Grande do Sul, se transformam. Todas as luzes são apagadas e os visitantes, que se acomodam na arquibancada da antiga praça, têm, por alguns breves minutos, apenas o silêncio e as luzes da lua e das estrelas como companhia. Depois, ao longo de 48 minutos, os espectadores são convidados a conhecer um pouco mais sobre a relação entre os jesuítas e os índios guaranis no Brasil, por meio de narrações e de um jogo de luzes sobre a antiga igreja, as árvores e as demais ruínas.
O vermelho, o branco, o azul, o violeta e o verde são algumas das cores que se revezam sobre as ruínas, conforme o trecho da história, que é narrada pelas vozes de atores consagrados, como Fernanda Montenegro, Lima Duarte e Paulo Gracindo.
O espetáculo Som e Luz foi criado pelo governo do Rio Grande do Sul em 1978, com apoio do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), instituição vinculada ao Ministério da Cidadania. O texto e o roteiro são de autoria de Henrique Grazziotin Gazzana. Em 2016, o governo federal, por meio do Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), investiu mais de R$ 2 milhões na revitalização e modernização do espetáculo. Foi feita a substituição da tecnologia analógica pela digital, a troca de amplificadores, a trilha foi remasterizada e foi feita a instalação de caixas de som atrás da plateia, além das que já ficavam à frente.
“Este ano, vamos completar 41 anos de exibição. O espetáculo ocorre todos os dias aqui. Depois do Sítio Arqueológico de São Miguel Arcanjo e do Museu das Missões, é o grande atrativo do município. Deste espetáculo, a gente retira os investimentos para infraestrutura turística e para eventos que vêm fomentar ainda mais o turismo aqui em São Miguel das Missões”, explica o secretário municipal de Turismo, Desenvolvimento e Cultura, Fabiano Moraes.
Tombado como Patrimônio Cultural pelo Iphan, em 1938, e declarado Patrimônio da Humanidade pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), em 1983, o Sítio Arqueológico de São Miguel Arcanjo recebe diariamente milhares de turistas do Brasil e do exterior, que ficam no local até à noite para prestigiar a apresentação. Para melhor atender a esse público, há versões do espetáculo em espanhol e em inglês, em dias intercalados, sempre antes ou depois das apresentações diárias em português.
“Eu sou apaixonada, não me canso de vir aqui. Porque é uma história que me encanta. Muito bem feito, bem elaborado. É emocionante mesmo. Vale a pena vir, porque mesmo quem não conhece a história, aqui fica sabendo um pouco”, afirma a estudante Samara Ruckert.
Samara estava com o tio, o empresário Sinélio Vargas, que mora em Santa Catarina, mas que, sempre que vai a Missões, aproveita para ver o espetáculo. “Vim ao espetáculo aqui umas oito vezes. Inclusive, em uma parceria que a gente fez com a universidade de Santo Ângelo, eu trouxe o pessoal aqui para assistir. Foi maravilhoso, todo mundo gostou. Falam muito, até hoje, quando me encontram. Trago, sempre que eu posso, outras pessoas. Hoje, eu trouxe a minha mãe, que, apesar de ser daqui, mora em Santa Catarina e nunca tinha assistido ao espetáculo e adorou”, contou o empresário.
Quem saiu emocionada foi a servidora Darline Dalla Porta, que estava com a filha Giovana, de 3 anos. “Moro aqui há 30 anos e desde pequena a gente assiste. Agora, adulta, algumas vezes também. E ela (Giovana) é a segunda vez que vem. É a nossa história. Então, a gente fica emocionada. Porque conta toda a história desde os fundadores e da nossa Missão”, afirmou.
Segundo a Secretária Municipal de Turismo, Desenvolvimento e Cultura de São Miguel das Missões, apenas no ano passado, foram quase 41 mil pessoas que assistiram ao espetáculo. “Tem alguns meses que o turismo é mais forte, como novembro, em que aproximadamente 10,2 mil pessoas assistem ao espetáculo”, destacou o secretário.
Herói da Pátria
O escritor e pesquisador José Roberto de Oliveira ressalta que o espetáculo Som e Luz ajuda a manter viva essa parte da memória e da história nacional, além de ser uma das poucas manifestações artísticas brasileiras que tem como grande herói um indígena, Sepé Tiarajú, da etnia Guarani. “É o único índio brasileiro herói da pátria. No mesmo nível de Tiradentes, Dom Pedro I e tantos outros heróis brasileiros. Então, a importância de estar aqui neste lugar e louvando, obviamente, esse herói indígena brasileiro registrado oficialmente no Panteão da Pátria”, afirma Oliveira.
Para o espetáculo ocorrer, é feito teste de refletor a refletor regularmente. São 230, nas cores azul, vermelha e verde. São quatro caixas de som em frente à arquibancada e duas atrás. Há, ainda, um gerador destinado especificamente para que, caso falte luz, o espetáculo não deixe de ocorrer. Atualmente, tudo é computadorizado e, de uma salinha fora das ruínas, o espetáculo é operado.
“Com chuva ou vento, sempre tem turistas e até o pessoal daqui gosta bastante de participar. É uma satisfação. A gente se sente feliz de poder fazer parte deste espetáculo que é Patrimônio Cultural da humanidade. A gente se sente bem de poder transmitir um pouco da história daqui para o pessoal que vêm nos visitar”, afirma o técnico do espetáculo Marlon Rogério Covari.
Serviço
Espetáculo Som e Luz
Diariamente – às 20h
Durante o horário de verão – 21h30
Ingressos: R$ 25,00 – inteira e R$ 10,00 – meia
Apresentações em espanhol
Terça, Quinta e Sábado
Fevereiro, Março, Abril, Setembro, Outubro – 21h
Maio, Junho, Julho e Agosto – 19h
Durante o horário de verão – 22h30
Ingressos: R$ 30,00 – inteira
Apresentações em inglês
Quarta, Sexta e Domingo
Fevereiro, Março, Abril, Setembro, Outubro – 21h
Maio, Junho, Julho e Agosto – 19h
Durante o horário de verão – 22h30
Ingressos: R$ 50,00
Conheça mais sobre o Museu das Missões.
Camila Campanerut
Assessoria de Comunicação
Secretaria Especial da Cultura
Ministério da Cidadania