Acesso às belezas naturais da ilha é controlado e alguns precisam de agendamento. Segundo administração da ilha, foco é proteger o meio-ambiente. Expectativa X realidade: veja dicas para não se frustrar em Fernando de Noronha Para muitos brasileiros, visitar Fernando de Noronha é um sonho distante. Destino caro e longe de grandes capitais, viajar até a ilha é para muitos sinônimo de gastar mais do que com uma viagem para Europa. Antes um destino mais associado ao ecoturismo, nos últimos anos, Noronha ganhou destaque nas redes sociais graças à famosos como Bruna Marquezine e Bruno Gagliasso que costumam visitar a ilha. Mas para "noronhar-se", como eles dizem, é necessário planejamento. Primeiro, são duas taxas diferentes para visitar a ilha: a de preservação ambiental – paga de acordo com o número de dias de permanência – e a taxa de acesso ao parque nacional marinho – paga uma única vez e válida por dez dias. Com o acesso garantido, o visitante pode fazer o agendamento das trilhas e das piscinas naturais. Sim, nem todas as atrações são de livre acesso. Por ser uma unidade de conservação, Noronha tem diversas regras para a visitação. O objetivo é um só: preservar a fauna e a flora do lugar. "O que podemos dizer para o turista que chega na ilha é que ele tem que esperar algumas situações em que ele precisa se adequar a algumas normas necessárias de cuidado ambiental, pois o nosso principal foco, no momento, é a sua preservação", diz Guilherme Rocha, administrador da ilha. Praia do Sancho é vista do alto das falésias encobertas de vegetação em Fernando de Noronha. Descida até a areia inclui escada vertical Fábio Tito/G1 O G1 viajou até lá para a estreia da série "Desafio Natureza”, que vai mostrar as questões ambientais que desafiam esses destinos e como cada um de nós pode fazer a sua parte para enfrentar o problema. Veja os temas desta 1ª etapa do "Desafio": Fernando de Noronha, lado B: série do G1 mostra desafios do lixo no 'paraíso' O lugar onde ninguém faz selfie: para onde vai o lixo de Fernando de Noronha Seringa, canudos e muito plástico: lixo oceânico ameaça piscina natural Veto ao plástico descartável O futuro de Noronha Um passeio pela ilha Como você pode participar do desafio do lixo Agendamento concorrido As regras de agendamento mudaram no fim de 2018. Atualmente, os turistas precisam fazer o agendamento no centro de visitantes do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) com até seis dias de antecedência e é aí que muita gente se chateia. Como as vagas são limitadas por dia, muitas pessoas deixam o agendamento para última hora ou tem pouco dias na ilha e nem sempre conseguem fazer o passeio que desejavam. Outra reclamação comum é que o agendamento precisa ser feito presencialmente. Todos os dias a partir das 15h30 senhas são distribuídas e às 17h as vagas são abertas. “Acho que é possível encontrar um outro mecanismo para democratizar esse acesso. Fizemos o agendamento no primeiro dia, vamos ficar seis dias e só conseguimos para o último, mas depois vimos que vai coincidir com o horário do voo. Então, eu também posso ter tirado a vaga de outra pessoa. Isso eu achei ruim”, diz a turista Paloma Braga. O ICMBio é o responsável pelo agendamento e sabe das frustrações dos visitantes, mas tem como prioridade a preservação dos atrativos e a experiência do visitante. E isso muitas vezes significa ver algumas pessoas frustradas. “Infelizmente nem todo mundo vai visitar os atrativos e isso é uma reclamação recorrente aqui. Mas é porque felizmente existe uma limitação na ilha. Só que o controle migratório que deveria ser feito, tanto do Estado quanto da gente, em relação ao acesso ao parque é uma questão superdelicada", diz Silmara Erthal, gestora responsável substituta do ICMBio. "As pessoas se programam para vir a Noronha, o custo é muito alto e a ilha não comporta. Como fazer essa conta fechar?”, questiona Silmara Erthal, gestora responsável substituta do ICMBio. Horário para descer e subir As praias dentro do parque nacional marinho têm acesso controlado também pelo ICMBio e pela concessionária EcoNoronha. Uma vez que a taxa de acesso ao parque é paga, o visitante recebe um cartão para usar durante a estadia. Toda vez que ele visita uma dessas praias, passa o cartão na entrada. Cada uma dessas praias protegidas tem suas particularidas. A praia do leão, por exemplo, fecha às 18h30 para que as tartarugas possam desovar em paz nas areias. Durante o dia, os turistas podem acessar à praia normalmente desde que não subam até a área dos ninhos. Guarda-parques fazem este controle e alertam os visitantes durante a chegada. Cartaz alerta para os horários de descida e subida da praia do Sancho em Fernando de Noronha Fábio Tito/G1 Já na Baía do Sancho, que foi eleita a praia mais bonita do mundo, o acesso não é simples. Uma escada estreita passa por dentro da falésia e é a única forma de chegar na areia. Para evitar as confusões de sobe e desce, o ICMBio estabeleceu uma tabela de horários de subida e descida. A norma causa estranheza em alguns, mas a maioria concorda que as medidas são necessárias. “Eu acho o controle fundamental. As praias que precisam agendamento, nós não agendamos, optamos por ficar nas outras atividades. Se não tiver este controle, você vê que a coisa vai desandar. Por mais que muitas vezes a gente reclame e não goste, tem que ter”, diz a turista Juliane Quintas durante visita ao Sancho. Proibido perturbar os animas Em Noronha, a vida marinha é abudante e com um mergulho simples de snorkel é possível ver tartarugas, peixes, lagostas e até tubarões. Apesar da proximidade, não é permitido nadar intencionalmente com os animais nem tocá-los ou encurrá-los. Os guias costumam fazer este tipo de aviso o tempo todo. Recentemente, a blogueira Luisa Sobral foi multada em R$ 5 mil após mergulhar para nadar com golfinhos. O que é proibido em Noronha. Os passeios de barcos costumam ter a companhia dos animais, mas não é permitido em momento algum deixar a embarcação para nadar próximo aos golfinhos. Para Gabriela Campos, bióloga e única mulher guarda-parque na ilha, o trabalho com turistas pode ser desafiador: "É difícil porque o ser humano tende a querer ser prioridade, quer passar por cima dos outros. A maior dificuldade que a gente tem no campo é fazer com que as pessoas sigam as regras porque todo mundo acha que pode ser uma exceção". Saiba mais sobre Fernando de Noronha Roberta Jaworski/ Arte G1 Preços altos Como Noronha é uma ilha, as mercadorias chegam de avião ou barco e isso, é claro, tem um custo. Um refrigerante de dois litros pode custar R$ 13. A cerveja longneck tem preços que variam de R$ 9 a R$ 17, se for na praia da Conceição. Por causa da área de proteção, a maioria das praias não têm estrutura de barracas e venda de comida e bebida na areia. As mais badaladas como Cacimba do Padre e Conceição são as poucas que oferecem esta opção e não têm acesso controlado. Para ninguém passar aperto nas praias controladas, a EcoNoronha oferece em seus postos de controle lojinha de suvenir, aluguel de equipamentos, banheiro e lanchonete. O aluguel do buggy, principal meio de transporte na ilha, fica em média R$250 por dia. Já o táxi tem o preço tabelado: em média uma corrida de menos de cinco minutos fica em R$24. Buggy em Fernando de Noronha: muitos turistas preferem pagar caro a andar alguns minutos Fábio Tito/G1 A busca pelo conforto A alternativa é o ônibus que circula pela ilha e vai de uma ponta a outra. A passagem custa R$5 e diversos turistas optam por ele. A principal diferença é que depois de pegar o ônibus é preciso muitas vezes caminhar por alguns minutos para chegar até a praia. O visual compensa o esforço. Para Silmara Erthal, o que se vê em Noronha hoje em dia é uma busca por um conforto que a ilha não tem como oferecer para todos. “O visitante quer conforto, quer pegar seu buggy e seu carro e ir para os locais e essa é uma situação que antigamente não tinha. O visitante caminhava e usava transporte público. Hoje em dia, a maior parte das pessoas que tem condições financeiras não quer mais vivenciar, quer trazer a cidade para Noronha”, diz. E completa: “O que se vê hoje é muito carro e o pessoal não tem esse contato de vir a Noronha, fazer as trilhas, ter esse tempo mais tranquilo, mas quer a comodidade maior. É gastar combustível, é poluição, ruído…”. Outro problema para muitos é o sinal do celular que não pega em várias áreas e torna difícil a missão de postar as fotos no Instagram. Na Vila dos Remédios, área central da ilha, há wifi gratuito para quem quiser aproveitar a ida a um restaurante para fazer inveja nos amigos. É quase como se a ilha te obrigasse a ficar offline para aproveitar tudo que ela tem para oferecer. Turistas observam golfinhos durante passeio pelas águas de Fernando de Noronha: é proibido mergulhar intencionalmente para nadar com os animais. Fábio Tito/G1 Serviço: Consulte as regras para a visitação