Faltava alguma coisa para sinalizar o acesso à entrada principal da Aldeia Urbana Marçal de Souza, que é a primeira do Brasil e fica em Campo Grande. Há muito tempo, a comunidade desejava ter ali algum símbolo da cultura indígena.
O local ganhou cor nesta sexta-feira (7), com um painel de 5 metros em graffiti por Caio Green. É um retrato de uma criança tocando flauta transversal, com iconografia terena ao fundo.
A ideia era criar algo que unisse atualidade e tradição. “Sugeri temática relacionada ao que a nova geração está fazendo. Como as crianças estão desenvolvendo o conhecimento na flauta, é até uma forma de incentivar”, diz Caio.
O artista se refere ao início das atividades de uma orquestra indígena infantil na aldeia. A primeira aula aconteceu em 19 de abril, Dia dos Povos Indígenas. As crianças não pagam nada para aprender música no projeto.
A obra foi iniciada em junho e finalizada este mês. Caio gastou cerca de 15 latas de spray e levou dois dias ao todo para concluir o painel. A execução recebeu financiamento do FMIC (Fundo Municipal de Investimentos Culturais).
Coração indígena – Mesmo não sendo indígena, Caio atendeu às expectativas da comunidade. Terena que mora na aldeia e coordenadora do Memorial da Cultura Indígena, Maria Auxiliadora Bezerra sentiu que ele captou a essência do que é ser indígena.
“Nós temos sangue indígena e ele tem coração indígena, enquanto tem gente que tem sangue indígena nas mãos”, diz, se posicionando sobre a violência que atinge os povos indígenas em Mato Grosso do Sul.
O artista procurou estudar a iconografia terena para preservar a ancestralidade do povo, ao mesmo tempo em que tentou trazer o diferente. “Representei os indígenas com o marrom, da cor da pele, mas também tentei trazer o azul para misturar uma cor menos vista na cultura deles”, explica.
Ele também ministrou oficinas às crianças e aos adultos indígenas, a quem ensinou o graffiti e tingimento de roupas. “Esse contato foi importante para entender mais da cultura deles e de como eles vivem hoje”, acrescenta.
Mural – Em abril, Caio Green ainda revitalizou, ao lado da artista Alice Hellmann, o muro do Memorial da Cultura Indígena. Eles imprimiram nele uma imagem da primeira cacique mulher da comunidade, Enir Terena.
O mural, o painel e as oficinas estavam previstos no projeto Kéxunakoa – que significa “fortalecer a tradição” – e foi proposto pela professora Fabriciane Malheiros em 2021. Com os recursos do fundo cultural liberados após a pandemia de covid-19, foi executado este ano. –
Quer ver de perto? – O painel da criança indígena foi feito em um muro do cruzamento da Rua Galdino Pataxó e a Avenida Marquês de Pombal, no Bairro Tiradentes.
CREDITO: CAMPO GRANDE NEWS