Em uma economia que cumpriu sete anos consecutivos de recessão, os venezuelanos se refugiaram no dólar apesar do controle de câmbios vigente desde 2003. Com nota de dólar nas mãos, homem aguarda para entrar em ônibus em Caracas Federico Parra/AFP Uma mulher com um dólar na mão aguarda na fila para subir no ônibus. O motorista cobra e entrega como troco um maço de notas venezuelanas desgastadas, que parecem condenadas a se extinguir. A operação se repete continuamente. "Nos tornamos casas de câmbio", comenta à AFP Marcelo Moreno, enquanto dirige seu veículo pelas ruas de Caracas. É mais um sintoma da agonia do dinheiro no país sul-americano, onde a nota de maior valor, 50.000 bolívares, equivale a apenas três centavos de dólar. Não serve para comprar nada, com um valor dissolvido pela hiperinflação e a violenta e constante desvalorização da moeda local. Motorista de ônibus conta notas de bolívares Federico Parra/AFP Em uma economia que cumpriu sete anos consecutivos de recessão, os venezuelanos se refugiaram no dólar apesar do controle de câmbios vigente desde 2003 – flexibilizado nos últimos meses -, assim como no peso colombiano e no real brasileiro em áreas fronteiriças. Enquanto a dolarização informal avança, a qual o presidente socialista Nicolás Maduro chama de "válvula de escape", o comércio se vê obrigado a usar exclusivamente mecanismos eletrônicos para cobranças em bolívares, inclusive para pequenas operações como comprar um simples pão. O transporte, encurralado, é o único setor que ainda utiliza de forma cotidiana os bolívares em nota. Os bancos entregam um máximo de 400.000 bolívares diários e os caixas eletrônicos, em sua maioria, estão fora de serviço. Diante das dificuldades para encontrar dinheiro, as pessoas pagam pelo dólar cerca de 30% menos que as cotações oficiais. Maduro, que promove a "digitalização total" dos pagamentos na Venezuela, prometeu aos passageiros sistemas de cartões magnéticos que passam por um leitor para as cobranças; mas essa opção está muito longe de abranger a todos. De qualquer forma, "não se trata de digitalizar pagamentos. Isso não resolve nada. O problema da raiz se mantém: o Banco Central continua monetizando o déficit (…), e o governo em vez de corrigir os desequilíbrios da economia, os aumenta", explica à AFP o economista Jesús Casique. Das transações comerciais na Venezuela, 65,9% são feitas em dólares. No entanto, metade da população não tem acesso regular à nota verde, segundo a empresa privada Ecoanalítica. O fenômeno, alerta Casique, abre brechas sociais. "Muitos ficam excluídos (…). Para alguns, (com a dolarização) é mais fácil pagar um mercado, mas outros estão vasculhando o lixo para encontrar o que comer", comenta. Assista as últimas notícias de economia