Alta foi de 15 pontos percentuais em relação ao fim de 2019, quando estava em 74,3% do PIB, segundo o BC. Tesouro diz que há pouco espaço para novas medidas de combate à pandemia. A dívida bruta do setor público brasileiro, uma das principais formas de comparação internacional, avançou 15 pontos percentuais em 2020, para 89,3% do Produto Interno Bruto (PIB), ou R$ 6,615 trilhões, informou nesta sexta-feira (29) o Banco Central. No fim de 2019, a dívida estava em 74,3% do PIB – valor revisado.
Esse conceito de dívida, que engloba o governo federal, os estados, municípios e empresas estatais, é acompanhado mais atentamente pelas agências de classificação de risco, e também por investidores internacionais.
Segundo o chefe do Departamento de Estatísticas do BC, Fernando Rocha, o patamar de 89,3% do PIB para a dívida bruta, em dezembro do ano passado, é o maior de toda a série histórica da instituição, que começa em 2006.
O forte aumento da dívida pública no ano passado aconteceu devido aos gastos públicos para enfrentamento da crise econômica e de saúde gerada pela pandemia do novo coronavírus.
Segundo informações do Tesouro Nacional, os gastos extraordinários para o combate da pandemia da Covid-19 somaram R$ 524 bilhões no ano passado.
Os principais gastos foram com o pagamento do auxílio emergencial a trabalhadores informais (R$ 321,8 bilhões); o auxílio emergencial aos estados (R$ 60,2 bilhões); e com o Benefício Emergencial de Manutenção do Emprego e da Renda (R$ 51,5 bilhões).
Espaço ' extremamente reduzido'
Na última quarta-feira (27), o secretário do Tesouro Nacional, Bruno Funchal, avaliou que, por conta do aumento da dívida pública, o espaço para novas medidas de combate ao coronavírus, como a extensão do auxílio emergencial, é "extremamente reduzido".
Segundo ele, a dívida brasileira está bem acima de outros países emergentes mesmo após os gastos que eles fizeram para combater a pandemia do novo coronavírus, entre eles Chile, cuja dívida está em cerca de 40% do PIB, e México e Colômbia, que têm dívida em torno de 60% do PIB.
"A gente tem que fazer esse dever de casa em termos de reformas", disse, referindo-se à necessidade de conter a alta da dívida pública.
'Travar' o orçamento
Também nesta semana, o ministro da Economia, Paulo Guedes, afirmou que a estratégia da área econômica é levar adiante a vacinação em massa da população brasileira e aguardar a queda da taxa de mortalidade da Covid-19 e o retorno de um nível mais forte da atividade econômica, de modo que não seja preciso renovar o auxílio emergencial.
Segundo ele, porém, se a vacinação atrasar e a pandemia se agravar, e isso levar à necessidade de renovar o auxílio emergencial, os demais gastos do governo têm de ser contidos.
"Não pode ficar gritando guerra toda hora. Tem de ter muito cuidado", disse Guedes naquele momento, referindo-se ao chamado "orçamento de guerra", aprovado pelo Congresso no ano passado e que permitiu ao governo o investimento bilionário em ações de combate à pandemia, entre as quais o pagamento do auxílio emergencial a trabalhadores informais.