Eletrobras anunciou no domingo a renúncia de seu presidente. Executivo diz que continua no Conselho de Administração para auxiliar na agenda de desinvestimento estatal, mas não vê privatização como prioridade no Congresso Nacional. O presidente da Eletrobras, Wilson Ferreira Jr. Ueslei Marcelino/Reuters O presidente da Eletrobras, Wilson Ferreira Jr, afirmou nesta segunda-feira (25) que sua saída da empresa foi motivada pela "quebra de perspectiva" de privatização da empresa. Ele pediu demissão do cargo neste domingo (24) e foi anunciado como futuro presidente da BR Distribuidora. "A privatização carece de capital político. Tivemos a pandemia, que deslocou os planos para o segundo semestre do ano passado, e agora tivemos manifestação de candidatos [na eleição legislativa] de que esse processo não seria prioritário", disse. "O que falta fazer é aumentar a capacidade de investimento, se não consigo ver perspectiva de prioridade para esse processo, minha contribuição fica perdida", afirmou Ferreira Jr. "Vou continuar no Conselho de Administração. Se o processo seguir, poderei ajudar", disse. Renúncia do presidente da Eletrobras torna privatização mais difícil O executivo não mencionou nomes, mas a declaração a que fez referência foi de Rodrigo Pacheco (DEM-MG), candidato à presidência do Senado. O parlamentar disse ao jornal O Estado de S. Paulo que a privatização da empresa não estava garantida e deveria ser feita sem se subter a "entreguismo sem critério". "Não estou aqui para questionar. Posso dizer que é uma prioridade do Ministério de Minas e Energia e Ministério da Economia, necessário para fazer frente aos desafios fiscais que o país tem. É uma condição necessária, mas, aparentemente, não suficiente", disse Ferreira Jr. "Então, [a saída] foi uma decisão pessoal, vendo que a reestruturação da empresa estava cumprida e ela tem hoje capacidade de investimentos modestos, mas suficientes", afirma. O executivo elencou conquistas na empresa desde sua chegada em 2016. Ele afirma que reduziu em 50% o pessoal empregado e em 40% os custos fixos, o que levou a um endividamento menor, possibilitando a retomada de investimentos. Ferreira Jr. afirma, contudo, que a discussão sobre privatizações amadureceu pouco no país e sofre resistência da opinião pública. Assim, novos atrasos no cronograma inviabilizariam a conclusão do processo no curto prazo pela proximidade com as eleições de 2022. "No quarto ano de mandato, começam as discussões para a eleição [presidencial]. Se não for uma prioridade agora, de viabilizar neste ano, passaria para o ano que vem e encontraríamos dificuldades", disse o executivo. "Não quero dizer que não possa ser feito, mas é mais difícil de fazer." Ana Flor: Renúncia de presidente da Eletrobrás tem relação com sucessão no Congresso Transição Ferreira Jr. pode ter que cumprir quarentena antes de assumir a BR Distribuidora. A partir de 1 de fevereiro, e até que ele possa assumir o posto, a Companhia será liderada interinamente pelo Diretor Executivo de Operações e Logística, Marcelo Bragança, que será apoiado por um comitê de transição. Saída da Eletrobras A saída do executivo, que antes da Eletrobras presidiu por 18 anos a CPFL Energia, vem após poucos avanços na desestatização – Ferreira Jr. é grande defensor da privatização da empresa. No cargo desde julho de 2016, ele foi nomeado pelo ex-presidente Michel Temer. Depois, foi convidado pelo governo de Jair Bolsonaro para continuar no comando da estatal, sob expectativas de que liderasse a continuidade de planos para a privatização da companhia. Em dezembro, o governo anunciou que pretende realizar nove privatizações em 2021, entre as quais a da Eletrobras. A venda da estatal, porém, é um dos grandes desafios do governo Bolsonaro. A expectativa da pasta era que o projeto fosse aprovado ainda no primeiro semestre. Mas, na semana passada, o ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque, afirmou que não haverá prejuízo se a votação pelo Congresso Nacional da privatização da companhia ficar para o segundo semestre deste ano. O governo prevê levantar cerca de R$ 16 bilhões com a privatização da Eletrobras, por meio de uma capitalização da companhia por meio da emissão de novas ações e envolve pagamento de outorgas à União. O governo anterior, de Michel Temer, falava em promover uma desestatização da Eletrobras, por meio de uma operação em que a empresa emitiria novas ações e diluiria a fatia governamental na companhia para uma posição minoritária. A gestão Bolsonaro passou a adotar o termo "capitalização" para se referir ao processo. Último balanço mostra que a Eletrobras teve lucro de R$ 95,764 milhões no terceiro trimestre de 2020, queda de 86,6% em relação ao mesmo período de 2019, quando o ganho ficou em R$ 715,872 milhões. A empresa justificou a queda do lucro ao aumento das provisões por redução na geração de energia, por processos judiciais e de contratos onerosos. VÍDEOS: Últimas notícias de Economia