Apesar da desaceleração, setor se encontra 7,3% acima do patamar pré-pandemia. Na comparação com novembro do ano passado, houve alta de 3,4%, impulsionada pelas promoções da Black Friday. Movimento em shopping de Manaus Rebeca Beatriz/G1 AM As vendas do comércio varejista caíram 0,1% em novembro, na comparação com outubro, segundo dados divulgados nesta sexta-feira (15) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), impactadas principalmente pelo recuo nas vendas dos supermercados em meio à alta da inflação. O resultado interrompeu uma sequência de 6 altas seguidas. "No confronto com igual mês do ano anterior, também houve perda de ritmo, com o varejo crescendo 3,4% em novembro de 2020, menos que a alta de 8,4% em outubro. Apesar da desaceleração, o setor se encontra 7,3% acima do patamar pré-pandemia", destacou o IBGE. Vendas do comércio mês a mês Economia G1 O resultado veio abaixo do esperado. A expectativa em pesquisa da Reuters era de alta de 0,40% na comparação mensal e de avanço de 4,90% sobre um ano antes. Setor ainda acumula alta no ano de 2020 No acumulado entre janeiro e novembro, o setor ainda registra alta de 1,2%. Em 12 meses, manteve avanço de 1,3% em novembro, sinalizando estabilidade no ritmo das vendas em relação a outubro. Das 8 atividades do varejo analisadas pelo IBGE, no entanto, apenas quatro apresentavam crescimento acumulado no ano. As que tiveram melhor desempenho foram móveis e eletrodomésticos e artigos farmacêuticos, medicinais, ortopédicos e de perfumaria. Já as atividades de livros, jornais, revistas e papelaria e a de tecidos, vestuários e calçados tiveram os piores resultados. Metade das atividades do comércio varejista apresentavam taxas negativas no acumulado do ano Economia/G1 Pelo conceito varejo ampliado, que inclui "Veículos, motos, partes e peças" e de "Material de construção", o volume de vendas cresceu 0,6% em relação a outubro e 4,1% na comparação com novembro de 2019. No acumulado no ano e nos últimos 12 meses, ainda há queda, de 1,9% e de 1,3%, respectivamente. Veja o desempenho de cada uma das atividades em novembro Combustíveis e lubrificantes: -0,4% Hipermercados, supermercados, produtos alimentícios, bebidas e fumo: -2,2% Tecidos, vestuário e calçados: 3,6% Móveis e eletrodomésticos: -0,1% Artigos farmacêuticos, médicos, ortopédicos e de perfumaria: 2,6% Livros, jornais, revistas e papelaria: 5,6% Equipamentos e material para escritório, informática e comunicação: 3% Outros artigos de uso pessoal e doméstico: 1,4% Veículos, motos, partes e peças: 3,5% (varejo ampliado) Material de construção: -0,8% (varejo ampliado) Impacto da inflação nas vendas Das 8 atividades investigadas pelo IBGE, 5 cresceram na comparação com o outubro, porém hipermercados, supermercados, produtos alimentícios, bebidas e fumo, que têm peso de cerca de 45% no índice geral, apresentaram retração de 2,2%, pressionando o resultado de novembro na comparação com outubro. “Se olharmos, por exemplo, para a receita das empresas dessa área [hipermercados], houve um declínio de 0,8%. E a diferença entre a receita e o volume de vendas demonstra um aumento de custos. Mas, além disso, é comum que o consumidor, quando tem uma queda de renda ou do seu poder de compra, passe a comprar menos produtos que não são essenciais e a optar por marcas mais baratas”, apontou o gerente da pesquisa, Cristiano Santos. Black Friday impulsiona alta na comparação com 2019 Embora as vendas tenham ficado praticamente estáveis em relação à outubro, houve alta na comparação com novembro do ano passado, refletindo as promoções da Black Friday. Segundo o gerente da pesquisa, foi o desempenho dos hiper e supermercados, prejudicados sobretudo pela inflação, que impediu a percepção do impacto positivo da Black Friday no resultado mensal do setor, dado o peso desse segmento sobre o comércio. Santos apontou que a Black Friday impacta principalmente as atividades de outros artigos de uso pessoal, móveis e eletrodomésticos, além de equipamentos de escritório, informática e comunicação. Sendo que, em novembro, essas duas primeiras atividades tiveram um desempenho bem superior ao do ano anterior, ao contrário dos equipamentos de escritório e informática, que ficaram 9,9% abaixo do mesmo período de 2019. "Esses resultados também refletem o fato de as pessoas estarem ficando mais em casa”, destacou Santos. Segundo o IBGE, as empresas que estabeleceram estratégias específicas para as vendas da Black Friday informaram aumento de 9,6% na receita na comparação com novembro de 2019. O gerente da pesquisa enfatizou, ainda, que da taxa de 3,4% de crescimento das vendas do setor nesta base de comparação, 3,1 p.p. foram de impacto direto da Black Friday. Perspectivas Após o forte tombo no 1º semestre, o comércio tem sido um dos destaque de recuperação da economia, tendo retomado já em agosto o patamar pré-pandemia. Todavia, o setor mostrou perda de fôlego na reta final do ano. Na quarta-feira, o IBGE mostrou que o setor de serviços cresceu 2,6% em novembro, mas ainda se encontra 3,2% abaixo do patamar de fevereiro. Já a indústria cresceu 1,2% em novembro, mas acumula queda de 5,5% na parcial de 2020. Analistas avaliam que o setor varejista passou a enfrentar um cenário mais desafiador em 2021 diante da maior cautela dos consumidores em meio a um cenário ainda complicado do mercado de trabalho e com o término dos auxílios do governo. "O varejo conseguiu apresentar expansão significativa em 2020, especialmente em meio aos estímulos sustentados durante a pandemia. Mas, olhando para frente, existe a possibilidade de que a alta da inflação de alimentos e a redução do auxílio emergencial continuem trazendo um viés negativo para o setor avaliou Lisandra Barbero, economista da XP. Lisandra destacou que alguns indicadores de curto prazo já apontam para alguma desaceleração do comércio em dezembro, como o das vendas de veículos novos da Fenabrave, que apontou queda de 26% no ano, o pior resultado desde de 2016. Outro indicador que já apontou a perda de ritmo foi o Índice de Confiança do Comércio (ICOM), por exemplo, recuou pelo terceiro mês seguido em dezembro. Os economistas do mercado financeiro estimam um tombo do Produto Interno Bruto (PIB) de 4,37% em 2020, segundo a última pesquisa Focus do Banco Central. Para 2021, projetam uma alta de 3,41%. Os analistas do mercado passaram a projetar também uma Selic em 3,25% no final de 2021 e em 4,75% em 2022. Economias do Norte e Nordeste devem ser as mais prejudicadas com o fim do Auxílio Emergencial Vídeos: veja as últimas notícias de economia: