Artista celebra cinco décadas de carreira com disco em que também reverbera o som instrumental da década de 1960 e o rock progressivo dos anos 1970. ♪ Pianista, compositor e arranjador mineiro que integrou Os Mutantes de 1973 a 1976, na fase progressiva do grupo, sem deixar de firmar laços fraternos e profissionais com a turma conterrânea do Clube da Esquina, Túlio Mourão celebra 50 anos de atividade profissional com o álbum Barraco barroco. No disco, lançado em edição digital e em CD pelo selo Jazzmineiro, Mourão sintetiza influências e referências nas gravações de dez temas de autoria do artista. Compositor que já teve músicas gravadas por intérpretes da magnitude de Maria Bethânia, Milton Nascimento e Ney Matogrosso (com os quais o pianista também já tocou em discos e shows), Mourão refaz em Barraco barroco conexões com o universo erudito, o som instrumental dos anos 1960, o rock progressivo da década de 1970 e a música espanhola. Entranhada na memória afetiva de Mourão por ter sido ouvida na infância por iniciativa do pai, admirador de compositores ibéricos como Isaac Albéniz (1860 – 1909) e Manuel de Falla (1876 – 1946), a música da Espanha gerou composições como A saga Ibérica, Serenata sevilhana – composição feita com elementos islâmicos e gravada por Mourão com o toque erudito do violão de Juarez Moreira – e Tocata poente das Araras. Capa do álbum 'Barraco barroco', de Túlio Mourão Divulgação Já A última montanha e Jardim do afeto são composições criadas com ecos da música instrumental dos anos 1960. “A música instrumental era tão popular quanto presente na vida das pessoas. Tocava nas rádios, vitrolas e bailes. Grandes orquestras executavam temas com melodias inesquecíveis e cativantes”, pontua Mourão, com certa nostalgia dessa era instrumental. Gravada com a guitarra de Toninho Horta, amigo do Clube da Esquina, a composição Céu de cacos de vidro é tributo dos músicos mineiros ao ares de Belo Horizonte (MG), capital das Geraes. Sonata caipira é tema criado sob a inspiração do universo rural, como já sugere o título da composição. Baile acabado tem o groove bafejado pelo sopro pop jazzístico do saxofone de Chico Amaral, convidado da faixa. Música composta por Túlio Mourão enquanto o pianista tocava na banda de Milton Nascimento em turnês pela Europa, A dois passos do nunca completa o repertório autoral de Barraco barroco. O álbum, na visão de Mourão, delimita o início de ciclo criativo pautado pela valorização de elementos da cultura erudita na criação de música que reverbera influências do artista ao mesmo tempo em que expande o universo musical do artista – no fundo, sempre mutante.