Avaliação de especialistas é que, caso a greve se prolongue por janeiro, as indústrias brasileiras terão dificuldade para recompor os estoques do cereal. Lavoura de trigo no interior de São Paulo Reprodução/TV TEM O prolongamento de uma greve de trabalhadores em portos na Argentina, movimento que entrou na sua segunda semana, é fator de preocupação para moinhos de trigo do Brasil, especialmente se a paralisação não for encerrada até o final do ano, segundo especialistas. Mais de cem navios cargueiros estão enfrentando atrasos para carregar produtos agrícolas na Argentina nesta segunda-feira (21), conforme relatos de integrantes do setor, que apontam paralisação dos embarques de vários produtos no país vizinho. De onde vem o trigo que eu como O Brasil, que importa a maior parte de suas necessidades de trigo e tem na Argentina seu principal fornecedor, registrou uma desaceleração nos desembarques do cereal em dezembro, conforme dados do Ministério da Economia divulgados nesta segunda-feira. A situação só não é mais grave para o Brasil porque no final do ano muitas indústrias reduzem a demanda por trigo, por conta de paradas para recesso e ainda há oferta de cereal nacional, uma vez que a colheita foi encerrada há pouco. "A informação que eu tenho é que havia expectativa de que a greve terminaria antes do final do ano. Se não houver o final da greve, alguns moinhos vão ser afetados, porque têm barcos chegando…", disse o presidente da Associação Brasileira da Indústria do Trigo (Abitrigo), Rubens Barbosa, à Reuters. Segundo ele, esses moinhos estariam localizados ao sul do Brasil. "Nesta época do ano são poucos os que compram o trigo. Se acabar o greve, não tem problema nenhum. Se não acabar, aí sim vai ter, alguma coisa limitada para alguns", acrescentou ele, pontuando que está em contato com a embaixada brasileira em Buenos Aires para acompanhar a situação. De onde vem o que eu como: conheça a produção do trigo no Brasil G1 Uma fonte do setor, por outro lado, indicou uma situação mais "dramática". "Tudo parado. Vários navios esperando para carregar. Alguns moinhos podem ficar sem trigo", disse a fonte que atua em uma empresa paulista, na condição de anonimato, por não ter autorização para falar com a imprensa. As importações brasileiras de trigo e centeio caíram pela metade até a terceira semana de dezembro, para pouco mais de 14 mil toneladas/dia, na comparação com a média do mesmo mês do ano passado, segundo dados do governo brasileiro. "Acredito que tenha um impacto sim, principalmente se a greve continuar se estendendo ao longo de janeiro, o que poderia afetar a oferta interna brasileira", afirmou o analista Jonathan Pinheiro, da Safras & Mercado, ao ser consultado. "Os preços poderiam voltar a ter reajustes para cima, tendo em vista uma possível busca por alternativas dos compradores, buscando o trigo em países menos competitivos, além de custos logísticos mais elevados", acrescentou. O especialista disse que uma eventual puxada nos preços em função da situação na Argentina compensaria possíveis retrações cambiais. "Mas, de maneira geral, é necessário aguardar para ver até quando isso vai seguir, quanto maior a duração da greve, mais acentuados podem ser esses impactos no mercado brasileiro." Em dezembro do ano passado, o Brasil importou 650 mil toneladas de trigo de todas as origens, sendo que no acumulado deste mês os desembarques somaram apenas cerca de 200 mil toneladas. Do total de trigo importado pelo Brasil de janeiro a novembro, de 5,87 milhões de toneladas, a Argentina forneceu 4,33 milhões, enquanto os Estados Unidos ofertaram 733,8 mil toneladas, seguidos por Rússia (237,6 mil), Uruguai (235 mil) e Paraguai (218,5 mil), entre outros, conforme dados do Ministério da Agricultura. VÍDEOS: tudo sobre agronegócio