Popular na década de 1980, cantora carioca lança o primeiro disco de músicas inéditas em quase 20 anos. Capa do álbum 'Aqui e agora', de Joanna Washington Possato Resenha de álbum Título: Aqui e agora Artista: Joanna Edição: Edição independente da artista Cotação: * * * 1/2 ♪ “Este trabalho foi feito na dimensão de um tempo sem tempo”, conceitua Joanna no breve texto que escreveu para a contracapa interna do álbum Aqui e agora. Trata-se do primeiro disco de músicas inéditas em 19 anos dessa cantora e compositora carioca que, revelada em 1979, alcançou picos de popularidade ao longo da década de 1980, se mantendo com visibilidade no mercado dos anos 1990. Aqui e agora chega ao mercado fonográfico na segunda quinzena deste mês de dezembro de 2010 no formato de luxuoso CD, editado com capa dura e embalado com farto libreto que inclui fotos, as letras das onze músicas, ficha técnica detalhada e comentários sobre cada faixa, feitos por Teolinda Magro-C, doutora em ciências da educação e professora de história da arte. O álbum Aqui e agora já seria relevante na discografia de Joanna somente por marcar a retomada da parceria da artista com Sarah Benchimol, compositora carioca com quem Joanna criou obra gravada pela cantora nos seis primeiros álbuns da carreira, editados entre 1979 e 1984. Dessa fase são, a propósito, os melhores álbuns de Joanna – discos que ambientaram o romantismo popular no universo da MPB e que entranharam o nome de Joanna na memória afetiva de quem escutava música brasileira nas rádios e nas TVs nos anos 1980. Com Benchimol, Joanna criou canções como Descaminhos (1979) e Momentos (1980), hits que alavancaram a fase inicial de discografia que, a partir de 1986, priorizou canções produzidas em escala industrial por compositores hitmakers como Michael Sullivan e Paulo Massadas. Em parceria com Benchimol, Joanna apresenta três composições inéditas, com destaque para Olhos nus, canção que faz inventário de ressaca existencial. O arranjo do maestro Jaime Alem evidencia na faixa o pulso do baixo de André Vasconcelos enquanto harmoniza os toques do acordeom de João Carlos Coutinho e do violão do próprio Alem. Contrariando o título Aqui e agora, o álbum é pautado por romantismo atemporal, tendo sido arquitetado desde 2013 e efetivamente gravado a partir de 2017 com produção orquestrada pela própria Joanna e com arranjos divididos entre Jaime Alem, Jota Moraes e Pedro Joia. Aqui e agora poderá frustrar quem espera ouvir Joanna reconectada com a MPB dos anos 1970 e 1980. Em que pese a oportuna regravação de Êta mundo bão (2007), mix de baião e moda de viola de Renato Teixeira que Joanna aproxima da cadência do xote em dueto com a arretada Elba Ramalho, o álbum Aqui e agora transita em outro universo musical, evitando nostalgias e repetições. Assim como em Êta mundo bão, há muito da vivaz rítmica nordestina em O cravo e a Magnólia (2015), música de Maciel Melo, apresentada pelo compositor na web há cinco anos, mas até então inédita em disco. Das seis composições assinadas por Joanna no repertório de Aqui e agora, Imagine merece menção honrosa. Trata-se da primeira parceria da artista com o compositor pernambucano Maciel Melo. A melodia flui bem, potencializada pelo refrão pegajoso. Imagine tem letra embebida em romantismo apaixonado, também matéria-prima da canção Sem como nem porque, parceria de Joanna com Tiago Torres da Silva, compositor português que assina, com Tozé Brito, o samba que dá nome ao álbum Aqui e agora. Joanna canta sambas, baladas e fado no álbum 'Aqui e agora', produzido pela artista com arranjos de Jaime Alem e Jota Moraes Washington Possato / Divulgação Estranho para ouvidos brasileiros, Aqui e agora é samba arranjado com ares lusitanos, acenando para o mercado de Portugal, país onde a cantora é popular. A letra pinta aquarela com referências da cultura do Brasil em letra que cita novelas da TV Globo, filmes nacionais e ícones da música brasileira como Chico Buarque, Dorival Caymmi (1914 – 2008), Rita Lee e Vinicius de Moraes (1913 – 1980). Arranjado pelo guitarrista Pedro Joia, o fado Amor eterno – de autoria dos compositores brasileiros Álvaro Socci e Cláudio da Matta – dá outro aceno para os seguidores portugueses da artista em gravação que embute poema incidental de Tiago Torres da Silva, recitado pelo ator lusitano Pedro Lamares (curiosidade: um verso desse poema, “Não é a solidão. É a casa ”, encerra o CD na voz de Joanna, após a última das 11 faixas). Balada tradicional de Eduardo Lages e Altay Veloso, Palavras do desejo é conduzida pelo piano de Jota Moraes, com adornos do vibrafone do mesmo Jota, arranjador dessa faixa que evoca as antigas associações de Joanna com Roberto Carlos, recorrentes no inicio da carreira da cantora (Lages é há décadas o maestro do cantor, cabe lembrar). Aliás, para quem conhece o primeiro álbum de Joanna, Nascente (1979), nem vai estranhar a existência no CD Aqui e agora do samba sincopado, Labo B, parceria da artista com Sarah Benchimol. Da parceria com Benchimol, compositora que completou 70 anos em 2020, Joanna também apresenta a balada Por detrás do espelho, reiterando a vocação para dar voz a canções de amor em tom popular. No arremate do álbum, Joanna acerta o tom de bonita canção de clima seresteiro e letra metalinguística – Como uma confissão, parceria da compositora com Tiago Torres da Silva – levada pelo violão do arranjador Jaime Alem e pelo acordeom de João Carlos Coutinho. Enfim, Aqui e agora tem tudo para contentar seguidores antigos de Joanna. Mesmo sem a força motriz de álbuns como Chama (1981) e Brilho e paixão (1983), Aqui e agora é bom e sincero CD que reapresenta Joanna, “na dimensão de um tempo sem tempo”, com viço e com frescor há muito ausentes na discografia da artista.