Cantora lança música composta em parceria com Ava Rocha e gravada com evocação do pop dançante daquela década. Capa do single 'Mulher homem bicho', de Ana Frango Elétrico Arete de Caio Paiva com desenho de Fernanda Massotti Resenha de single Título: Mulher homem bicho Artista: Ana Frango Elétrico Compositoras: Ana Frango Elétrico e Ava Rocha Edição: Risco Cotação: * * * 1/2 ♪ Nos primeiros 15 segundos da gravação de Mulher homem bicho, música inédita composta por Ana Frango com Ava Rocha, tem-se a impressão de que Ana se jogou na pista da disco music no segundo single lançado pela cantora na sexta-feira, 18 de dezembro, pelo selo Risco. À medida que a gravação evolui ao longo de quase cinco minutos, fica claro que a artista carioca – batizada Ana Fainguelernt ao nascer em 19 de dezembro de 1997, há exatos 23 anos – segue sobretudo a pista do pop sensual e tropical feito pelo casal Rita Lee e Roberto de Carvalho ao longo da década de 1980 em afinada parceria iniciada em 1978. Essa certeza é reiterada pela letra, escrita com estrofes – como “Não se assuste comigo / Sou mulher homem bicho / Não vem que não tem / Sou bruxa e neném” – que remetem de imediato à verve espirituosa das canções de Rita. Os versos do aliciante refrão “Quem me dera morder sua orelha / Cafungar seu pescoço / Te roer até o osso / Feito cachorro” reforçam a sensação de que, se a melodia fosse um pouco mais bem acabada (com sabe fazer Roberto de Carvalho), Mulher homem bicho poderia estar em qualquer disco de Rita Lee na fase que foi de 1979 a 1987 – menos no sombrio álbum Rita & Roberto (1985), é claro. Abusando dessas ótimas referências, Ana Frango Elétrico apresenta single vintage que, de olho no retrovisor, reverbera o tecnopop construído por magos dos estúdios nos anos 1980 como Lincoln Olivetti (1954 – 2015), produtor musical e arranjador não por acaso associado ao disco mais emblemático do casal Rita & Roberto naquela década áurea (o álbum lançado em 1980 com o hit Lança perfume e reeditado em LP neste ano de 2020 em edição comemorativa de 40 anos). Gravado com produção musical da própria Ana Frango Elétrico e editado com capa que expõe arte criada por Caio Paiva a partir de desenho de Fernanda Massotti, o single Mulher homem bicho foi formatado com a voz adicional de Dora Morelenbaum e com músicos – Alberto Continentino (baixo), Felipe Pacheco Ventura (viola e violino), Guilherme Lirio (guitarra, glockenspiel e pocket piano), Lucas Freitas (Rhode e synth), Pedro Fonte (bateria) e Victória dos Santos (congas, cowbell e pandeirola) – que souberam captar o espírito da época evocada por Ana Frango Elétrico neste disco leve e solo que sucede o single Mama planta baby (2020), apresentado em 30 de setembro. Mulher homem bicho é single coerente com a trajetória fonográfica de Ana Frango Elétrico, cujo segundo álbum, Little electric chicken heart (2019), já ecoou traços da obra de Rita Lee em músicas Tem certeza? e Devia ter ficado menos. Mulher homem bicho tem poder de sedução, ainda que soe basicamente como o tributo de uma jovem artista a uma cantora e compositora pioneira por ter aberto alas femininas no universo pop brasileiro ao mostrar as várias faces de Eva.